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Textos_Religiosos-->NOVAS GOTÍCULAS DE AMOR -- 27/02/2005 - 16:07 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER








NOVAS
GOTÍCULAS DE AMOR




GRUPO DO REFORÇO






Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP



ÍNDICE


Nota explicativa ....................................
1. Devagar se vai ao longe..............................
2. O descalabro ........................................
Comentário .....................................
3. Tribulações .........................................
4. Cravos ..............................................
5. O peão ..............................................
6. O tarefeiro do Senhor ...............................
7. Os primeiros tempos .................................
8. Aperfeiçoamento .....................................
9. Perigos .............................................
Comentário .....................................
10. Tormentos e alegrias ................................
11. O papel da oração ...................................
12. Maus exemplos .......................................
13. Derradeiras providências ............................
Comentário .....................................
14. Desapego ............................................
15. A caridade ..........................................
16. O espírito de justiça ...............................
17. As bem-aventuranças .................................
Comentário .....................................
18. Mortes acidentais ...................................
19. Solavancos ..........................................
20. Navegando por águas túrgidas ........................
21. Espelho mágico ......................................
22. Despedidas ..........................................
23. Deveres não cumpridos ...............................
24. Definindo posições ..................................
25. Dúvidas e certezas ..................................
26. Conhecendo o futuro .................................
27. Coringas ............................................
Comentário .....................................
28. Bons exemplos .......................................
29. Avisos oportunos ....................................
30. Derradeira prece ....................................
Ao médium ...........................................







NOTA EXPLICATIVA






O Grupo do Reforço reuniu diversos integrantes de diferentes turmas da Escolinha de Evangelização, anteriores às aulas de psicografia através deste médium. São entidades desenvoltas no auxílio socorrista, mas que não haviam passado por treinamento no campo da psicografia.
Tal característica levou-os, de início, a imaginar que iriam, unicamente, narrar casos de que participaram na qualidade de protetores. Contudo, por força do roteiro do curso, assim que a equipe se completou, passaram a cumprir as tarefas programadas, tornando-se as mensagens inteiramente teóricas, apesar de se discutirem temas de alto interesse espiritual.
Quanto ao estilo adotado em Novas Gotículas de Amor, o grupo desejou manter os impulsos lingüísticos condicionados às suas vibrações, desfavorecendo a que os textos adquirissem o cunho vernáculo mais adequado para a divulgação popular dos conceitos. Se isso prejudica a divulgação da obra entre o grande público, fornece, no entanto, aos estudiosos da linguagem, copioso material para o estabelecimento das diretrizes que regem a maneira de pensar e de se expressar de certa ordem de espíritos que se situa no campo magnético da Terra, com forte tendência à excelência moral.
Quanto aos temas, quem tiver lido Gotículas de Amor, da Turma dos Noviços, irá perceber que guardam estreita relação com aqueles, modificando-se a maneira de abordagem, no sentido de que as apreciações do Grupo do Reforço vêm de pessoal experimentado na prática das benemerências, o que lhes proporciona melhor conhecimento dos humanos. São, portanto, suas observações bem mais próximas da realidade.
As últimas comunicações agitam problemas morais bastante encontradiços entre os encarnados, respondendo a algumas proposições muito comuns, sempre no sentido de vincular todos os procedimentos à moral superior dos Evangelhos.
Gostaríamos de ver o nosso modesto esforço consagrar-se pela leitura de alguns amigos espiritistas. No mais, abraçamos a todos e rogamos ao Pai que nos faça, a cada dia, um pouquinho melhores.
Um dos orientadores da turma.


Avisa o médium ter apanhado os ditados de 9.9 a 20.10.92, mantendo a ordem cronológica. Assinale-se que foi bastante fácil de traduzir em palavras as vibrações dos emitentes, sendo raras as correções.
Que mais este empreendimento mereça as bênçãos do Senhor!







1

DEVAGAR SE VAI AO LONGE





Coube à Turma dos Noviços (ver Gotículas de Amor, nesta coleção) aceitar trabalho que se constituiu em verdadeira chave para abrir as portas do procedimento espírita. Do conjunto das mensagens, brota, augusta, a comunicação maior de que estão os espíritos altamente interessados em proporcionar aos encarnados muitos conhecimentos, mas que depende destes, e tão-só destes, o revigorar de alma capaz de elevar o pensamento e o comportamento na direção das diretrizes estabelecidas por Deus, para que os seres ascendam ao seu reino de amor.
Quanto a nós, estamos iniciando a participação de forma bastante rudimentar, pois não temos o mesmo brilho dos grupos anteriores, embora tenhamos a necessidade de demonstrar igual responsabilidade e importância, devido a estarmos ocupando o mesmo lugar, com os mesmos dispositivos de auxílio dos mentores e demais auxiliares da magnetização.
Assim, é preciso, desde já, que nos inteiremos de todos os atributos necessários para bem desempenharmos a atividade. Que haja, da parte do mediador, bastante paciência e discernimento, para configurar na mente os dizeres o mais próximo possível das intenções. Estamos satisfeitos com este desenvolvimento, mas não totalmente, porque os termos consignados não estão reproduzindo com inteira fidedignidade as vibrações que emitimos. De qualquer forma, esperávamos que algo desse porte fosse ocorrer, de modo que tudo faremos para imprimir às correções cunho apropriado para representar mais exatamente o que temos em mente.
O bom escrevente estranha muito que não estejamos satisfeitos, apesar da enorme velocidade que estamos imprimindo ao ditado. Certamente, será também por isso que não nos contentamos, uma vez que o primeiro impulso está servindo para o registro, quando preferiríamos, talvez, que se fosse menos velozmente, para podermos imprimir ritmo que nos possibilitasse ir assinalando os termos com maior precisão, segundo o que entendemos como a melhor tradução.
Agora que reduzimos a velocidade, podemos ficar mais de acordo com os vocábulos escolhidos. Vamos ver se damos também às frases o tônus mais próximo de nosso ideal.
Quanto às idéias, evidentemente, não fugirão muito do comum das expressas pelos grupos anteriores, de modo que não nos atrapalharemos, se a escolha vocabular não nos agradar completamente.
Está o amigo estranhando ainda que não lhe permitimos repetir as palavras e expressões, buscando influenciá-lo no justo instante em que escreve, para optar por outras que extraímos de seu cabedal de conhecimentos. Pois está aí a chave para outra anotação importante, neste quadro inicial que estamos pintando de nossas exigências. Apreciamos sobremodo o fato de nos ter atendido quanto ao grifo, o que quer significar que estamos sendo bem entendidos. Continuemos assim que iremos terminar por escrever de forma contínua e escorreita.
Por outro lado, não nos atemoriza o fato de não estarmos ditando algo que venha a constituir-se em alguma página a ser publicada, mesmo que o teor e a qualidade das produções aconselhem a isso. É porque não estamos habituados a permanecer tanto tempo junto aos médiuns de que nos temos aproximado. Isto parecerá dizer que não temos obtido sucesso em tais aproximações, o que não será verdade, pois temos conseguido exprimir razoavelmente bem os pensamentos, apenas não através de psicografia, tornando-se as manifestações meros aconselhamentos ou consolações, em momentos de angústia ou de desespero.
Não iremos permanecer, no dia de hoje, muito tempo, pois não estamos preparados para o primeiro texto de caráter propedêutico, porquanto somos apenas alunos da Escolinha de Evangelização e assim devemos conservar-nos durante as transmissões neste posto avançado, junto aos mortais, estreitamente vigiados pelos instrutores, que nos modelam a escritura, segundo os dispositivos em vigor na instituição.
Eis outra desvantagem que estamos sentindo, pois o escrevente está por demais habituado a determinadas expressões e a outras tantas formulações silogísticas, o que o leva a reorganizar as intuições que lhe passamos. Se, porém, isto pode parecer até certo ponto prejudicial, por outro lado irá facilitar-nos enormemente o cotejo com as demais equipes, de forma que, dentro de pouco tempo, estaremos aptos a bem deduzir do aproveitamento verificado, podendo corrigir bem mais eficazmente as falhas que se irão pronunciando.
Resta-nos agradecer o desempenho do amigo, desejando-lhe sucesso nos empreendimentos, principalmente nos que concernem aos planos para sua aplicação ao movimento espírita, louvável iniciativa que terá apoio integral dos bons amigos da espiritualidade.
Quanto a nós, pode dar-nos o nome de Grupo do Reforço, pois estamos em vias de reunir mais elementos que perpassaram pela Escolinha, tendo partido bem antes de se terem habilitado às transmissões mediúnicas psicografadas.
Alegremo-nos, pois, com esta volta aos bancos escolares e aceitemos de boa mente todos os exercícios, como se fora a primeira vez que nos deparamos com eles.
Como nos aconselham os mentores, vamos encerrar utilizando-nos de um dos clichês mais habituais.
Fiquemos todos nas mãos de Deus!







2

O DESCALABRO





Evidenciaríamos fraqueza se declarássemos que não estamos afeiçoando-nos a este tipo de trabalho? Pois é exatamente o que sentem os encarnados quando são solicitados a fazer o bem segundo as normas evangélicas.
Como declaramos na exposição de abertura, saímos das lides escolares para enfrentamento das tarefas socorristas junto aos humanos, muitos dos quais tivemos de encaminhar às sendas da dor, por ocasião do regresso ao mundo dos mortos. Por mais que intentássemos fazê-los acreditar em que de sua mudança de atitudes é que resultaria a salvação, pelo menos dos sofrimentos mais dolorosos do báratro, poucos foram os que conseguiram dar ouvidos aos apelos insistentes que fazíamos.
Serão diversos desses trabalhos junto aos mortais que iremos passar aos caros amigos, para efeito de exemplificação do que os aguarda quando chegarem ao ponto do atendimento aos companheiros, o que, com certeza, ocorrerá, como o sol que nos alumia. Bastar-nos-á uns poucos depoimentos de diversos elementos do grupo, para evidenciar o que acima afirmamos, pois será muito fácil de se acompanharem os modelos com outros tantos acontecidos à vista dos caros confrades, se não tiverem sido consigo mesmos.
Nosso primeiro caso será absolutamente simples. Trata-se de figura de jovem senhor, completamente entregue ao vício da bebida. Desde há vários encarnes, vinha tentando subtrair-se às tentações dos sentidos, sem sucesso. Na última peregrinação, desejou cercar-se de diversos espíritos amigos, que o acompanharam nas figuras de mais de dez familiares, entre pais, irmãos e filhos. Mas de nada adiantaram os sábios conselhos, nem os afagos carinhosos de todos. Desde tenra idade, por influenciações deletérias de espíritos com quem mantinha vários relacionamentos cármicos, ou seja, de débitos contraídos por força de malfeitos em ambos os sentidos, queria apagar certas impressões fugidias que lhe vinham à memória, como se se tivesse comprometido irremediavelmente com as forças malfazejas do etéreo.
Se tivesse prestado atenção aos dizeres maternos, principalmente, não teria caído de rojo no vício. Entretanto, criatura por demais influenciável, deixou-se envolver por pessoas de fora de seu estreito círculo familiar, que o cativaram com promessas de gozo superior.
Bem dotado fisicamente, não lhe foi difícil encontrar quem se deixasse dominar pelos encantos fesceninos de sua personalidade, decaindo, desde cedo, nos braços impuros dos relacionamentos fundamentados somente nas sensações epidérmicas. Em breve, improdutivo para a sociedade, começou a ter necessidades maiores, impossíveis de serem arcadas pelas posses diminutas dos parentes e amigos verdadeiros, ao mesmo tempo que sua impudência ia oferecendo motivos para o afastamento daqueles que se sentiam envergonhados em tê-lo tão próximo, dado que os negócios azedavam em virtude da repulsa de muitos pela figura asquerosa do jovem, incapaz de se manter lúcido.
Era lastimável o estado do rapaz quando nos foi dado achegar-nos a ele, por solicitação explícita do protetor familiar, que havia permanecido no etéreo justamente para não deixá-lo inteiramente ao desamparo.
Toda a equipe de socorristas se pôs à disposição para o trabalho de soerguimento moral, através da recuperação inicial dos valores mais fáceis de compenetração, quais sejam os do amor aos pais e aos familiares.
Primeiramente, viu-se na contingência de contrair matrimônio, tendo engravidado moça menor de idade. Em tempos de maior vigor intelectual, poderia ser que se mantivesse alheio aos problemas da jovem, mas, como estava curtido intelectualmente por sucessivas esbórnias, ponderou que o casamento poderia até significar porto seguro em que atracaria o barco, para os devidos reparos, de volta do enfrentamento dos bravios mares do desequilíbrio etílico.
Por algum tempo recebeu dos sogros ajuda extraordinária, pois queriam altruisticamente considerá-lo como filho muito querido. Assim, foi possível mantê-lo sóbrio por alguns anos, enquanto ia aumentando a família.
Mas a desgraça da bebida não era de fácil extração. Bastou que um acidente aleijasse uma das crianças, para que se utilizasse do fato como desculpa, dizendo-se pouco favorecido pela sorte, pondo-se de prevenção contra tudo e contra todos. Na verdade, o gostinho do primeiro gole reacendeu-lhe os desejos sopitados de voltar à primitiva situação.
Não vamos prosseguir descrevendo as sucessivas quedas sofridas pelo amigo, até o internamento final em hospital da caridade pública, de onde pertinaz cirrose hepática o trouxe de volta para a espiritualidade.
Que teria falhado nos planos da equipe socorrista? Nada. É preciso saber que todos os meios disponíveis foram rigorosamente tentados, inclusive a nível de influenciação mediúnica, através de pessoas de fácil magnetização, que transferiram ao seu conhecimento os programas que ele mesmo havia elaborado, para safar-se dos tributos a que a bebida obriga. Em determinada fase da vida, foi conduzido a centro espírita, pela bondade da esposa, para ouvir dos doutrinadores a palavra elucidativa. Diversos membros da comunidade espiritual se manifestaram, prevenindo-o das conseqüências maléficas de procedimento totalmente alheado dos compromissos para com tantas entidades. Tudo foi minuciosamente revelado.
Mas pensam que atendeu a qualquer dos avisos ou considerações? Nada. Bastava afastar-se do local resguardado pelas forças do etéreo, para sentir-se, de novo, dono do próprio destino, no mau sentido, isto é, pondo-se a serviço das baixas emoções que conseguia quando se encontrava embriagado, sob a influenciação perniciosa de vários espíritos vampíricos, que se aproveitavam de sua debilidade de caráter para usufruírem as regalias que conseguem tais perversas criaturas, as quais não hesitam em escravizar a quem se ofereça ingênuo e despreparado, para sugar-lhe os restolhos energéticos contaminados pelos eflúvios alcoólicos.
Perdoem-nos os amigos a longa dissertação. Caberia agora acicatá-los para o relato paralelo de outros eventos ocorridos no mesmo campo da embriaguez, entretanto, vamos deixá-los às voltas com os próprios botões, uma vez que a só aventura daquele jovem, ainda hoje internado nas profundezas do Hades, deve ser suficiente para intrigá-los, especialmente no que concerne aos trabalhos infrutíferos que se desenvolveram da parte de encarnados ou não.
Querem a moral da história? Pois inventem uma, correlacionando a vontade de ajudar com a necessidade de se ter sempre presente na memória que o princípio do auxílio esbarra no do livre-arbítrio da entidade socorrida.

Queremos agradecer muito a atenção de todos, particularmente do amigo escrevente, que ousou acompanhar-nos os raciocínios, desfazendo-se de alguns de seus hábitos, para permitir-nos realizar o trabalho bem próximo daquilo que temos admitido como ideal.
Se os leitores se estimularam pela longa narrativa e desejarem outros esclarecimentos, em função de problemas mais prementes para seu ponto de vista, basta evocar a presença do grupo, que se conseguirá, com honestidade e dinamismo intelectual, receber amplos informes relativos aos conhecimentos que temos haurido da vivência no campo do socorrismo.
Fiquemos todos nas mãos do Senhor.




Comentário



Sabemos que, entre os humanos, a embriaguez é tratada como se fosse verdadeira doença, pois a dependência física aos vícios demonstra apenas falta de resistências específicas a determinados estímulos, como se ao organismo estivesse faltando algum ingrediente biológico, físico ou químico, para se preparar o devido combate aos excessos de ingestão de elementos tóxicos ou à reação desconcertante, incontrolável e inteiramente afastada dos padrões da normalidade.
Acreditamos, para breve, a descoberta da cura desse vício, através de terapêutica inteiramente material, inclusive com o desaparecimento, por completo, das seqüelas psíquicas.
— Aí — irão perguntar os leitores mais suspeitosos — de que adiantam tantas investidas no campo das atividades espirituais, se tudo se resolverá de modo absolutamente alheio à influenciação do etéreo?
Da mesma forma que os homens foram capazes de debelar inúmeras moléstias consideradas produtos de causas cármicas, como a tuberculose, a dispnéia, diversas formas de câncer, a pneumonia e demais doenças do aparelho respiratório, a sífilis e diversificadíssimas afecções sangüíneas, também as viciações mais dramáticas terão cura, por meio de drogas compostas a partir de ingredientes catalisados nos laboratórios do campo terrestre.
— Quer dizer que nunca ninguém adoeceu por injunções de caráter emocional?
A medicina mais moderna está convencendo-se de que muitos dos problemas da saúde têm origem nos distúrbios sentimentais, mas os progressos das ciências estão somente começando, de sorte que muito do que agora nos parece enigmático (veja o exemplo trágico da AIDS) será um dia decifrado e suplantado.
Isto não quer dizer, contudo, que os mentores do universo não elejam as moléstias como efeito da malversação dos princípios sagrados registrados nas leis de Deus e que deveriam ser respeitados pelos homens e pelos espíritos erráticos, como as normas superiores que embasam os procedimentos que subsidiam o crescimento evolutivo. Os indivíduos ficam sempre à mercê das conseqüências funestas das atitudes menos sábias, de modo que, estabelecida a cura, não quer significar que se poderá provocar a sorte, ingerindo indiscriminadamente grandes quantidades de bebidas alcoólicas. Haverá outros efeitos igualmente perniciosos, para atitudes da mesma forma prejudiciais ao bom desenvolvimento das virtudes.
Quisemos trazer palavra de advertência, pois podia parecer que estivéssemos desatentos para a mentalidade dos encarnados, especialmente no que concerne a achar argumentos paralelos para derrubar as apreciações dadas com a força do evento mediúnico, como se tivéssemos obrigação de tudo saber e de tudo resolver. Ficaremos por demais felizes se conseguirmos, humildemente, fundamentar algumas idéias, para que os bons companheiros possam deslocar a reflexão para zonas do pensamento às quais ainda não se dignaram dirigir-se.
Eis tudo.







3

TRIBULAÇÕES





Na face do globo terrestre, os acontecimentos adquirem os caracteres do necessário, do premente, do urgente e do emergente. Satisfatoriamente, os homens vão vencendo as etapas da infância e da adolescência (quando têm) e se preparam para o enfrentamento das diretrizes impostas pela maioria para a vida em comum. Assim, não são poucos os que se ajustam aos procedimentos a contragosto, pois desejariam pautar o comportamento por normas mais consentâneas com os ensinos religiosos idealistas de sua educação. Muitos, porém, são os que se deixam vencer pela prática dos crimes e se alheiam totalmente da luta em prol da melhoria dos padrões morais vigentes.
Quereríamos acrescentar a este preâmbulo algumas considerações a respeito das atividades dos amigos socorristas, encarregados de vigiar a passagem das fases de menor responsabilidade para o domínio dos compromissos conscientemente assumidos, coisa que talvez venha a espantar o desavisado leitor.
É que existem inúmeros assaltos à personalidade em formação, mui especialmente quando vão tomando conhecimento das funções dos órgãos da procriação. As forças do mal, se assim podemos dizer, não se perturbam com as atitudes mais egoístas dos jovens; ao contrário, estimulam-nas, para que se fixem, mesmo quando se percebe que a vida na Terra tem o caráter gregário, como se pode concluir da observação do que sucede com a maioria dos animais. Essa descoberta somente ocorre quando o jovem se vê diante da necessidade de assumir responsabilidades diante dos outros seres, para responder por alianças de auxílio mútuo, quer no sentido de dar amparo material, quer espiritual.
Deveras, os compromissos do encarne, desde cedo, devem ser resguardados, mas aí é que se atiram os perversos malfeitores que visam a tornar as insipientes criaturas de fácil domínio, pois não logram reconhecer os trejeitos maliciosos que as fazem seguir os fantasmas das grandezas terrenas, como se fossem os verdadeiros desígnios da criação. De fato, são muitos os jovens que se iludem, perseguindo sombras sem conteúdo, crentes de estarem tornando as vidas absolutamente proveitosas, dado que as conquistas mundanas se acumulam sem cessar. Quando advém a idade da razão, encontram-se em lastimáveis estados de depauperamento espiritual, tendendo ao absurdo da justificação de tudo que fizeram, como se não fosse possível dedicarem-se a qualquer coisa mais digna.
Embora tenhamos enquadrado a juventude nas trevas da moralidade, a verdade é que a maioria consegue sobrepujar os arroubos das intemperanças, a tempo de se reciclar para as virtudes, pelo menos no que concerne à constituição de uma primeira família, que, para fixar-se, dependerá de extrema boa vontade e de circunstâncias inteligentemente arranjadas por todo o grupo familiar, o que deve incluir os entes que permaneceram no etéreo.
Dado que os prismas de análise que aventamos estejam muito incompletos, parece-nos ter ficado claro que existem resistências grupais bastante poderosas, a contraporem-se contra as arremetidas das forças deletérias que desejam atrair e conquistar as almas jovens. Se cada um dos interessados se julgar na posse de conhecimentos superiores, deixando a imaginação agir no sentido da concepção de que algo maior existe além do dia-a-dia da vida comum, poderemos contar, seguramente, com reações positivas, para a superação das tentações mais constrangedoras do reto proceder.
Não vamos adiantar os tópicos que iremos desenvolver paulatinamente, mas devemos narrar caso elucidativo de jovem que conseguiu ultrapassar os limites da perversão, moralizando o comportamento quase integralmente. Trata-se de protegido de companheiro de grupo, sendo, portanto, verídica a história.
Tendo deixado a infância com sérias perturbações de caráter, em virtude de não se ter desenvolvido convenientemente na escola, apesar de todo o apoio familiar, o jovem começou a freqüentar, às escondidas, roda de adolescentes viciados em cocaína. No início, as experiências não foram de agradar, mas, pela coesão grupal que julgava de obrigação manter, não se afastou, enveredando fundo nas sendas da podridão moral mais asquerosa.
A nossa linguagem camufla os reais desnorteios, que julgamos por bem não mencionar, para não nos arriscarmos a despertar a curiosidade de algum pobre desprevenido, que se sinta interessado em perlustrar os mesmos caminhos, por força de avaliar que a aventura poderá ter conclusão feliz. Sempre tememos desencaminhar as pessoas com promessas de curas, todavia não iremos doirar as artimanhas empregadas para a consecução de tão baixos ideais.
O fato é que, aos vinte e três anos de idade, o nosso irmão estava totalmente perdido para as drogas e para outras formas de crimes, corolário fatal para quem não tem de seu para manter o vício. Poder-se-ia dizer que estava condenado para a vida em família, mesmo porque sérios problemas sangüíneos se declararam.
Mas a vida dá voltas inesperadas. Por força da intervenção de meiga jovem, pôde o amigo desatrelar-se do carro dos companheiros, que, de resto, já se dispersavam por causa do desencarne de alguns, da prisão de outros e da deserção da maioria.
A jovem, recém-admitida no convívio íntimo do rapaz, não percebeu, de imediato, com quem estava relacionando-se. Como, inicialmente, escondeu dos pais os vínculos afetivos que lhe eram correspondidos, pôde manifestar-se bastante livremente perante o namorado, exortando o infeliz a que abandonasse aquela vida de perdição, que não lhe traria qualquer alegria de caráter íntimo. Não ameaçou deixá-lo, quando o surpreendeu a induzi-la ao consumo das drogas. Antes, com muito amor, defendeu intransigentemente a sua amizade, dedicando-se, além do que seria compreensível, ao tratamento das moléstias provocadas por terrível anemia.
Abonada, conheceu o sofrimento e a desventura de várias quedas, mas permaneceu imperturbável, chegando ao ponto de integrar-se na família do protegido, para reaver o apoio que estavam negando a ele, em virtude das desagradáveis descobertas. A partir daí, pôde ir desligando o companheiro dos grupos em defecção, constrangendo-o a acompanhá-la a tratamento clínico regenerador.
As lutas perante a sociedade dos drogados é conhecida dos encarnados. O que vamos acrescentar é o incrível devotamento da jovem e o eficaz acompanhamento dos protetores espirituais, que, à vista das pequeníssimas conquistas que o rapaz ia realizando, conseguiam ir afastando os temíveis seres que, do etéreo, lhe manobravam as atitudes, durante os transportes alucinatórios.
Por mais de dez anos, os entreveros foram verdadeiramente formidandos, exigindo de todos, sacrifícios muito além dos habituais. Mas o grupo venceu as dores das culpas, saneando por completo as lesões psíquicas, dado o incremento de amor e de extrema consideração pela entidade de Deus, que sabiam ver no irmão crucificado pelos vícios.
Hoje, o amigo ainda vive na face da Terra, em companhia de numerosa prole. Não se arrependeu em nenhum instante de ter-se afastado das drogas, embora tenha freqüentes crises de procedimento, sopitadas bem a tempo pela atenção daquela que se lhe constituiu em anjo da guarda.
Haverá algum segredo nessa vitória do bem sobre o mal? Certamente há vários, mas o mais importante é que, durante todo o tempo, ficou, no fundo da consciência do companheiro, resquício de pundonor, algo como que a vozinha apagada da consciência, a testemunhar-lhe a criação como sendo algo absolutamente respeitável, dado o caráter sagrado do divino ato. Além disso, o trabalho arguto dos amigos da espiritualidade, que souberam conduzir a jovem, que lhe fora destinada desde o pré-encarne, para o perdão e a compreensão do ensino evangélico do amai-vos uns aos outros, independentemente do aspecto exterior que a criatura demonstre. Saber olhar a essência do ser que estava sob o domínio de sua paixão foi fundamental, para que o interesse da jovem jamais esmorecesse, no sentido de tornar o amado, ente de superior quilate, principalmente porque estava perdido e foi achado, estava tresmalhado e foi acolhido de volta ao redil.
Queira Deus o exemplo que buscamos para elucidação de nosso ponto não esteja a indicar seres de padrão por demais elevado, mas simples mortais, sujeitos às quedas e também à salvação. Que os leitores saibam ater-se à apreciação dos louvores da abnegação e do sacrifício, imperturbáveis para a voz que talvez esteja a se fazer ouvir dentro da alma, dizendo-lhes que tanta dedicação é loucura e perda de imensas oportunidades de se ser feliz perenemente, enquanto se estiver revestido desta carne. Que não se pense também que tudo na vida seja produto do desespero e da dor e que a miséria da felicidade final seja a conseqüência tão-só da comiseração interessada dos seres a quem nos cabe amparar.
Ainda voltaremos a citar outros fatos a que poderíamos prosseguir intitulando de tribulações.







4

CRAVOS





Reconhecidamente, o sofrimento de Jesus não proveio dos cravos que lhe feriram mãos e pés, para fixarem-no à cruz da ignomínia e da redenção. Com certeza, os leitores estarão de acordo, se dissermos que o mal maior foi o fato de o divino espírito ter de perpassar por inúmeras fases de aproximação da térrea vibração, constringindo, em dolorosas condições, seu perispírito de radiosa luz. Mas os cravos ficaram como símbolo da dor, do sofrimento, da angústia com que foi supliciado até a morte aquele ser de excelsas virtudes.
É costume, entre os mortais, considerar o exemplo crístico como o mais significativo da injustiça por que pode passar qualquer criatura, principalmente se de reconhecida pureza de intenções e de procedimento. No entanto, são pouquíssimos os que, verdadeiramente, sofrem injustiças, com o desrespeito dos semelhantes pela centelha divina que todos carregamos, filhos que somos do mesmo Pai. Quase sempre os cravos com que nos pregam à cruz dos desesperos têm a significação real da justa retribuição pelos muitos desacatos que perpetramos contra a sociedade ou contra determinados indivíduos, quer direta, quer indiretamente, em virtude das atividades que, teimosamente, insistimos em desconsiderar como perniciosas para a sobrevivência dos demais.
Assim que nos reintegramos ao mundo dos espíritos, temos a visão correta dos deslizes que cometemos, apesar de freqüentemente advertidos durante o encarne. Aí somos bem capazes de avaliar as reais condições das culpas, das falhas ou dos pecados, o que nos fará repensar a respeito de todo o trajeto que percorremos totalmente obscurecidos pelos desejos carnais sobrepostos aos princípios espirituais, que deveriam prevalecer.
É tão séria essa rememoração crítica, que alguns não suportam a visão dos malfeitos e, desde logo, se põem de joelhos, a clamar pelo divino perdão, esquecidos de que foram eles mesmos que produziram tais desequilíbrios, na vã tentativa de se demonstrarem de qualquer forma superiores aos parceiros de encarnação.
Não se pense, porém, que aqui viemos para retaliações incompreensíveis ou para esfregar no nariz de ninguém qualquer ato pejado das mais malévolas intenções. Nunca iríamos ferir o princípio da mais plena liberdade que todos devem ter para poderem responder perante o Senhor por todas as obras. O que queremos é tornar evidente que devem os amigos evitar deixarem-se conduzir cegamente pelas tentações mundanas, procurando dedicar um pouquinho de tempo para a reflexão a respeito das verdades possíveis de serem concebidas para além da matéria, em plano existencial totalmente indevassável, a não ser pela benemerência do Senhor, que envia muitos dos queridos discípulos para as revelações energizantes.
Aceitemos que nos preguem os cravos ignominiosos da injustiça, não no sentido de julgar que tudo deva ser assim mesmo, mas no de forçar-nos a reagir pela via mais inteligente, ou seja, aquela que nos proporcionam os ensinos de Jesus, que, no auge da desesperação, clamou pelo perdão do Pai, rogando peremptório: — Perdoai-os, porque não sabem o que fazem!
Querem enfatizar o grau de perfeição do Mestre, para contrapor às suas parcas possibilidades de meros mortais, comuns seres humanos ultrajados, sem honra alguma? Pois, então, habilitem-se a considerar que também os méritos lhes são do mais baixo teor, inexistindo a mesma grandiosa concepção do mistério bem como a percepção do abismo que se abria para tragar a humanidade. Jesus era realmente superior e está bem longe de nós sequer considerar a possibilidade de qualquer confrontação. Mas não podemos deixar de sobrelevar-lhe o exemplo maravilhoso, como ensinamento definitivo para quantos queiram vir a fazer jus a adentrar com ele o reino do Pai.
Vamos relatar fato ocorrido com um dos nossos pupilos que, felizmente, logrou, bem a tempo, confraternizar-se com os perseguidores, conseguindo voltar para o etéreo imaculado em relação a essa falta.
Chamemos o amigo de Luís.
Em determinada época de atribulada vida de negociante clandestino — nome eufêmico para contrabandista —, teve de ajustar contas com a polícia, que o declarou suspeito de diversos crimes contra o patrimônio pátrio. Em lugar de se reconhecer culpado, pois tinha plena consciência de que agia contrariamente aos ditames legais, revoltou-se contra os denunciantes, prometendo realizar justiça pelas próprias mãos.
Compareceu às diversas audiências e respondeu regularmente ao processo civil, sendo, ao final, trancafiado em severo xadrez. Eram os cravos que lhe estavam sendo fincados em seu orgulho de pessoa sempre predisposta a estabelecer regras próprias para a convivência social.
Enclausurado em meio a criminosos comuns, pôde discriminar os diversos tipos de malfeitores, precisando submeter-se rigorosamente às leis internas do presídio, escapando dos maiores vexames por se ter desfeito de inúmeras propriedades para pagar algumas regalias que o mantiveram relativamente resguardado da violência carcerária. Mesmo assim, criou alguns débitos para serem oportunamente saldados, mercê de alguma proteção que obteve dos principais chefes das quadrilhas de encarcerados.
Como constituiu advogados bastante hábeis, após cinco anos conseguiu redução da pena e se viu novamente posto no seio da sociedade. Mas os poucos anos deixaram transformações muito profundas em seu modo de encarar a vida. Tendo adquirido o vezo de meditar a respeito das grandezas terrenas, sempre em comparação com a hediondez das mentalidades dos parceiros de cela, chegou à conclusão de que todos os que estavam reclusos realmente haviam merecido ser afastados do convívio social, entes perversos e traiçoeiros, que não hesitariam em voltar a delinqüir, com a só diferença de que, mais escolados, iriam providenciar para não serem apanhados facilmente. Aliás, vários reincidentes demonstravam de forma cabal que suas conclusões estavam carregadas de razão.
Tendo chegado a esse ponto de vista inteiramente contrário à recuperação dos marginais, passou a aplicar o mesmo raciocínio ao próprio caráter, tentando descobrir se ele mesmo iria proceder de igual forma ou se seria capaz de superar as antigas tendências anti-sociais para, definitivamente, reintegrar-se na sociedade. Aí longamente se deteve nas figuras contra quem havia lançado todo o furor da indignação e a quem prometera a mais severa represália, especialmente porque não conseguira provar que também os delatores estavam metidos nos sujos negócios do contrabando, com algumas agravantes no campo do tráfico de influências, o que, por certo, lhes dera a condição de se subtraírem às garras da justiça.
Suas deliberações nesse campo partiram da mais profunda revolta, passando por raiva sufocada, indo ao desespero da impotência de realizar desde logo os anseios de vingança, chegando ao arrefecimento diante da responsabilidade de cada qual perante a vida, até compreender, finalmente, que, aos malfeitos contra a sociedade, se acrescentavam mais os que se praticaram contra ele, senão aos olhos dos humanos, pelo menos diante das forças da natureza, tendo encontrado, afinal, Deus, como o criador supremo, inclusive de todas as regras para que se dê curso à existência universal.
Se fôssemos, paulatinamente, analisar cada uma das pequeninas passagens de um ponto a outro, por certo escreveríamos longa narrativa de cunho psicológico. Evidentemente, Luís não era um ser qualquer e sua prisão estava nos planos dos protetores familiares, os quais, do etéreo, vigiavam para que lhe fossem propiciadas oportunidades para restabelecimento dos vínculos com o aprendizado moral que lhe fora ministrado durante a infância e a adolescência.
Não é preciso dizer que o irmão, ao sair da cadeia, buscou transferir-se com a família para outra praça, onde se estabeleceu no comércio regular, mudando os padrões de procedimento, terminando os dias nos braços dos familiares, gratos por sua extremada competência no gerenciamento dos bens materiais e espirituais sob sua responsabilidade.
Mais uma vez colocamos diante dos olhos dos amigos caso bastante excepcional de recuperação das diretrizes evangélicas. Será difícil de encontrar quem tenha levado avante plano de tão amplo espectro moral, apesar dos inúmeros tropeços iniciais. Será que alguém que venha a ler estas linhas esteja, igualmente, nos limites da mais completa alienação mas em condições de bem compreender a que nos levam as considerações? Esperamos que sim, desde que haja, no momento em que se der divulgação a este escrito, quem esteja necessitado de alguma palavra de incentivo ou de esperança. Muito ficaremos contentes se assim ocorrer.







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O PEÃO





Prosseguindo nas apreciações do comportamento humano mais comum, temos para hoje o tema da simplicidade ou humildade dos menos apaniguados pelas riquezas materiais.
É preciso dizer desde já que, na mentalidade dos encarnados, o que é simples tem de ser necessariamente humilde e vice-versa, para bem ser compreendido. Na verdade, se nos ativermos às expressões individualmente, poderemos verificar que os conceitos não se confundem. O que é realmente humilde não tem de ser simples, ou o contrário.
Mas o espírito humano mais vulgar não se detém a avaliar as minúcias dos procedimentos, considerando tudo que provém da miséria como fruto de circunstâncias absolutamente coerentes com a necessidade ou a ausência, o que resulta em falha de percepção da realidade, decorrendo daí que a formação cultural dessas criaturas se aliena dos mistérios do universo, buscando somente reverter os processos em seu favor, para a obtenção, cada vez mais, de posses que irão oferecer-lhes a garantia de certa estabilidade diante da sociedade, em que se inserem na qualidade de filhos mais carentes.
Sendo assim, não há quem se satisfaça em permanecer indefinidamente como criatura da periferia da organização social, à margem dos adventos incorporados à civilização como modalidades de conforto e de bem-estar. Em outros termos, os que são, segundo o próprio ver, humildes e simples não desejariam sê-lo, tudo fazendo para superar os estágios em que se situam. Tanto é assim que há inúmeras expressões de caráter pejorativo a designar os irmãos menos favorecidos, dentre as quais elegemos o termo peão para a chamada de atenção para o texto.
História elucidativa é a do confrade Isaltino, servente de pedreiro por herança genético-social.
Tendo colocado no frontispício do relato a condição profissional do companheiro, bem poucos leitores ficarão in albis para imaginar qual o desenrolar do enredo, antecipando, inclusive, a conclusão e o epílogo. Mas pedimos um pouco de paciência aos amigos, para não irem tão sofregamente ao resultado. Ouçam-nos primeiro.
Isaltino era freqüentador da igreja evangélica do bairro (designação eufêmica para subúrbio, favela ou cortiço). Ali ouvia as histórias bíblicas exaltadas pelos pastores, que faziam questão de mencionar o alto grau de desprendimento material das personagens sagradas, especialmente quando se desfaziam de tudo que possuíam para seguirem o Mestre e ganharem o direito de adentrarem o céu. É pouco mais ou menos como os diversos textos mediúnicos, com a só diferença de que, do espírito dos mensageiros do etéreo, não constam os interesses do recebimento dos dízimos. E Isaltino não se continha em doar apenas a décima parte dos parcos haveres. Gostava de demonstrar sacrifício além do compreensível, chegando a despojar-se até de quantias que se destinavam à alimentação da família.
"Bem-aventurados os humildes, pois deles será o reino de Deus!"
Ia a vida nesse diapasão, quando a esposa, mulher muito positiva, não chegada aos testemunhos eclesiásticos, tendo comprado, em segredo, como de hábito, um cupom lotérico, se viu diante de pequena fortuna. De início, atemorizou-se com a reação do marido, na expectativa de vê-lo contrariado por ter praticado uma espécie de traição à confiança que nela depositava. Imaginou saída estratégica e dissuadiu qualquer aleivosia do esposo, dizendo que fora inspirada por um anjo, que se comprometera a trazer-lhe a tranqüilidade material, desde que doasse à igreja a sua parte.
Isaltino reconheceu a mão de Deus no affaire e não titubeou em enaltecer a mulher pela lúcida compreensão dos desígnios do Pai. Afirmou que fizera muito bem e realizou as contas para repartir com os pastores o resultado da aposta. Antes, porém, de efetuar a doação, precisava melhorar as condições de vida de quem fora inspirada pelo divino enviado, adquirindo modesta vivenda em diferente região da cidade, para onde se transferiu com a família, após efetuar todos os reparos no prédio, acrescentando os utensílios e móveis condizentes com a nova condição econômica.
Tendo reavaliado o capital restante, percebeu que poderia obter, em juros bancários, cerca de vinte vezes mais do que toda a família junta conseguia arrecadar em seus empregos.
Afastado dos mentores evangélicos do antigo lugar, buscou templo nos arredores da nova propriedade, tendo encontrado outra seita de mesma tendência, mas muitíssimo bem instalada, onde os bancos e demais acomodações demonstravam outra condição econômica da população que contribuía para sua manutenção e dos respectivos sacerdotes.
Refeitas as contas do saldo restante em caixa, decidiu que, de todo o juro contabilizado, reservaria dez por cento para distribuir aos pobres, permitindo-se não contribuir para a receita da nova casa de Deus, julgando que melhor faria se ajudasse os antigos companheiros, colegas de toda a vida.
Mas grande decepção aguardava por ele. No primeiro contacto com a turma, foi assaltado por inúmeros pedidos de empréstimos, que ultrapassavam de mais do dobro do total recebido pela esposa. Não havia como manter os vínculos daquelas amizades, tendo como princípio de conversa sonoroso não que foi obrigado a fazer ouvir cada um em particular. Decidiu-se, então, por não reaparecer por lá, no receio de vir a ser desprezado.
De volta ao novo padrão de vida, refletiu muito a respeito dos dizeres evangélicos que obrigavam à renúncia dos bens materiais e concluiu, sabiamente, que jamais havia bem compreendido a colocação dos mensageiros de Deus que, da tribuna, pregavam pela consagração ao templo de parte dos haveres. Percebeu o jogo dos interesses, fez as contas da arrecadação do antigo templo, confrontou com o novo e julgou estar absolutamente certo em destinar a verba que acertara com a esposa às obras de benemerência sob a responsabilidade dos pastores.
Assim, Isaltino passou a freqüentar a nova igreja, para quem entregava, religiosamente, os dízimos dos lucros do capital aplicado em diversos papéis bancários. Os pruridos conscienciais da usura, que sentia incomodar-lhe as noites mal dormidas, cessaram completamente quando se encontrou com um dos apóstolos da seita do antigo bairro, realizando investimentos no mesmo banco em que agora era correntista. Não precisou investigar muito para saber que se tratava de conta particular, altamente recheada.
Aí, julgou que pagar o dízimo da receita era exagero e passou a contribuir com modestíssima quantia, já que, argumentava, se o dinheiro que iria doar engordaria uma conta bancária, que fosse a sua mesmo. Não haveria sequer a necessidade de transferência para outra numeração.
Não é preciso dizer que Isaltino, o antigo servente de pedreiro, deixou completamente de considerar-se humilde e simples, adquirindo postura bem diferenciada da costumeira entre os parceiros de antanho.
Hoje está dando bastante trabalho aos protetores do etéreo, que não querem vê-lo arrojado em terríveis sentimentos de culpa, por ocasião de próximo translado para o plano da espiritualidade.
Ter-se-iam os amigos leitores decepcionado, com a expectativa que criaram quando imaginaram o enredo da história? Teria sido este o desfecho aguardado? Se conhecerem alguma história de pessoas realmente simples e humildes, queiram fazer a gentileza de passarem-na para o papel, não se esquecendo de mencionar os fatores espirituais envolvidos, como ocorreu conosco, que, somente à última hora, nos recordamos de indicar o serviço socorrista em favor do pobre irmão desorientado.







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O TAREFEIRO DO SENHOR





Dentre as figuras de respeito da espiritualidade, destacam-se os socorristas, ou seja, aqueles seres especialmente treinados para efetuarem os resgates dolorosíssimos dos irmãos que se encontram enveredados pelos caminhos da maldade ou dos vícios, em prejuízo não só do próprio desenvolvimento como também do daqueles com quem se relacionam. Desta forma, quando dizemos que o socorrista exerce a função de protetor, de anjo tutelar, não deveríamos imaginar que se trata de guardião particular de ninguém, mas que administra os poderes da regeneração sobre determinada criatura, tendo em vista o benefício coletivo do grupo em que se insere.
É preciso, inicialmente, esclarecer porque caracterizamos os resgates como dolorosíssimos, como se não fora possível qualquer outro tipo de auxílio. Na verdade, o sofrimento se estende por todo o grupo familiar, de sorte que o necessitado de ajuda muitas vezes nem está consciente dos males que provoca, embora sempre saiba o tarefeiro do Senhor onde se encontra o real perigo das atitudes carentes de aperfeiçoamento.
Não são poucos os amigos da espiritualidade que se inscrevem nos cursos obrigatórios para quem deseja participar dos serviços, no belíssimo campo da benemerência. Não que seja imprescindível formar currículo oficial para poder exercer tal mister. Existem numerosíssimas criaturas de alto sentido ético que, tendo aprendido por força das experiências, autodidaticamente, correm naturalmente em auxílio dos entes que lhes são caros, buscando suprir-lhes as falhas com inspirações oportunas, quer no âmbito terrestre, quer no da espiritualidade.
Entretanto, por melhor boa vontade que tenham, agem amadoristicamente, envolvidos pelos sentimentos mais fortes do relacionamento aflitivo que se estabeleceu, olvidando até os princípios mais comezinhos da solidariedade entre os companheiros de iguais funções, tentando superar as deficiências da ajuda isolada através de extremada dedicação. Nem sempre, contudo, conseguem alcançar seus objetivos de muito amor, acabando por sofrer sérios reveses e profundas frustrações. É aí que passam de assistentes a assistidos, merecendo de algum grupo de socorristas treinados o privilégio de seu trabalho.
Para tais amigos, não se lhes perdem os méritos das tarefas empreendidas, conquanto não completadas, aproveitando-se os instrutores das instituições para partirem dos procedimentos inoperantes, a fim de ministrarem os conhecimentos mais perfeitos de quem já participou de inúmeras campanhas de resgate com pleno êxito, estabelecendo os numerosos pontos de estudo com a finalidade do encaminhamento mais seguro, na transformação de meros anseios em firmes decisões.
Serão sempre as turmas iniciais das escolas de formação de socorristas compostas de entidades desejosas de participar do resgate de alguém? Certamente, pois ninguém é levado coagido para a freqüência desses cursos, mui especialmente em razão do fato de que há que se ter demonstrado amor e espírito de fraternidade, para poder desenvolver condignamente os aspectos éticos e morais indispensáveis para o exercício do socorrismo fraterno.
Ocorre, em algumas ocasiões, que alguns elementos abandonam o curso em meio, quando percebem que sua força impulsora para a salvação de determinadas criaturas estava formulada sobre bases egoístas. Poder-se-á perguntar se se haviam equivocado os instrutores, ao admitirem tal personalidade junto aos trabalhos.
A resposta sempre será negativa, uma vez que não falham os mentores na análise vibratória ou do espectro da aura, elemento imanente ao perispírito impossível de disfarce em relação aos seres de maior envergadura moral. Se deixaram o infeliz irmãozinho entre os demais, é porque queriam vê-lo refletir a respeito dos problemas curriculares fundamentais, que não se perderão no vácuo da inconsciência, mas ficarão encravados na mente do companheiro, esperando alguma reflexão isenta de emoções para manifestarem-se, possibilitando que haja séria introjeção através da mentalidade predominante, facilitando o retorno aos bancos escolares para a complementação do curso. Ninguém se perde para as hostes do Senhor.
Caberia agora, como de costume, realizar o relato de algum socorro mal sucedido, do ponto de vista espiritual, para demonstração inequívoca dos mecanismos inerentes a esse tipo de atividade espiritual. Mas os amigos hão de permitir-nos fugir de tal apresentação, dado que não iríamos postar diante dos encarnados nenhum acontecimento relevante no campo da matéria. Baste-nos citar, como fatos indicativos da frustração dos socorristas eventuais, todos aqueles que redundam em prejuízos instantâneos em relação a ações que contrariem as normas morais evangélicas, quais sejam os atos de derramamento de sangue, os assaltos e furtos, o desprezo pela humana condição etc.
Em casos assim, os protetores se retiram em desespero, cientes de que suas vibrações em nada estão auxiliando os amigos. Se optarem por, serenamente, se ocuparem com a assistência deles através de preces rogativas da intercessão do Alto, receberão imediatamente o conforto das equipes evocadas, que poderão ou não, dependendo do grau de envolvimento emocional dos atendidos, levá-los a conhecer as causas do insucesso. Sempre, todavia, lhes darão lenitivo às dores, propiciando-lhes suave visão das conseqüências das atitudes de desprendimento e de amor, em função do encaminhamento futuro dos seres que lhes provocaram a desilusão.
Poderíamos estender-nos longamente, circunstanciando cada fator de interesse aproveitado pelos mentores das instituições, mas vamos resumir, dizendo, o que a nenhum leitor é dado ignorar nesta altura do aprendizado, que, se tudo for verdadeiramente entregue às mãos do Senhor, ninguém será deixado abandonado à beira da existência.
Eis que estamos antecipando alguns dos conhecimentos imprescindíveis para que todos os seres encontrem a senda evolutiva para a perfeição. São pequeninos aprendizados, mas que exigem inumeráveis fatores de desenvolvimento, em todos os campos da contextura psíquica, intelectuais e sentimentais. Por isso, a constante reiteração de todos os grupos de alunos que perpassaram por esta Escolinha, no sentido de pregar as fórmulas evangélicas, enaltecendo o dístico do amor e da vigilância, lembrado por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Aceitemos o título de tarefeiros do Senhor como o mais elevado dentre as diversas categorias alcançáveis dentro do círculo das atividades relativas a este orbe, agradecendo ao Pai a oportunidade de servi-lo, através da assistência às suas criaturas.

Pai de infinito amor, eis-nos perante vós para trazer-vos a alegria de nossos corações agradecidos. Sabei, Senhor, que estamos envidando o melhor dos esforços, da inteligência e do sentimento, para podermos oferecer aos irmãos tragados pela ignorância, um pouquinho de conhecimento, para que possam evitar despencar de vez nas crateras vorazes das culpas, dos sofrimentos, das aflições. Dai-nos, Pai, a tranqüilidade de podermos efetuar as avaliações mais corretas dos desvios de conduta dos irmãos, para aplicar-lhes os medicamentos mais eficazes à recuperação. Ao mesmo tempo, possibilitai aos mentores a mesma lúcida reflexão, a respeito das orientações que nos deverão ministrar, para que também nós possamos crescer aos vossos olhos. Aceitai-nos a prece e instruí-nos sobre as falhas. Graças, Senhor!







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OS PRIMEIROS TEMPOS





Interessa-nos, sobremodo, trazer ao conhecimento dos encarnados notícias a respeito dos primeiros tempos dos estudos do socorrismo, principalmente para preveni-los a respeito do que os aguarda dentro em breve, pois fazemos votos que cada amigo nosso esteja a ponto de se constituir em protetor familiar, competentemente designado por alguma organização socorrista, mediante prévio treinamento.
Desde a entrada na instituição, são os alunos categorizados segundo suas tendências mais notáveis, objetivando esclarecimentos técnicos a respeito das características do grupo que se forma, para evidência formal do restante do currículo a desenvolver-se. Quase sempre, são os alunos surpreendidos com observações absolutamente justas a respeito de seu caráter, ficando profundamente impressionados com o poder de discernimento demonstrado pelos mestres e demais instrutores.
Cabe observar que designamos como mestres os professores propriamente ditos, ou seja, as entidades melhor categorizadas, a quem se dá o encargo das aulas ou conferências, independentemente do grau de desenvolvimento dos pupilos. É como, na Terra, quando as pessoas se interessam por comparecer a determinadas palestras, tendo em vista o tema a ser tratado. Os instrutores são mais ou menos como estagiários, a quem se encarrega da orientação particularizada, de sorte que se estimulam ao exame das personalidades dos alunos, ensejando-lhes explicações ou encaminhamentos para áreas de estudos e de atividades, segundo a necessidade de cada um.
Evidentemente, a terminologia aqui empregada não é universal e outros institutos de ensino adotam outras nomenclaturas, conforme a prestação de serviços oferecida.
A partir das primeiras lições específicas, vai ficando claro para os adventícios que os assuntos mais importantes são aqueles que se constituem na matéria a ser assimilada, à vista das falhas mais evidentes em sua formação, quer moral, quer intelectual, quer sentimental, quer religiosa e assim por diante. Como se vê, não há planejamento idealizado para ser ministrado ex cathedra, mas, para cada grupo homogêneo, se apresenta determinado rol de atividades, havendo, inclusive, distinções quanto aos trabalhos individualizados, de forma que o curso pode dizer-se único para cada elemento.
Essa fase das tarefas tem por finalidade a aproximação dos vários componentes da turma, de forma a integrá-los ainda mais coesamente, buscando-se com isso torná-los equipe absolutamente uniforme quanto aos desejos e habilidades, no intuito final de serem encaminhados para as primeiras incursões no campo do atendimento fraterno. Não são poucos os que não se contentam em padronizar o procedimento pelo grupal, envidando esforços no sentido de se tornarem originais, para distinguirem-se de alguma forma. Mas tal fase é passageira, constituindo-se em mais um pequeno desafio para os instrutores, que se esforçam para desfiar, perante os que almejam apartar-se, todos os benefícios da coesão, enfatizando a necessidade da aparente subserviência e da completa aceitação das normas coletivas como aspecto secundário, já que o principal está contido na profunda disciplina que o rigor do método impõe para o conhecimento da verdade. Nesse sentido, são dedicadas algumas sessões para o estudo da organização hierárquica da instituição, momento em que se deixa evidenciado que todos os superiores têm altamente desenvolvida a qualidade gregária das virtudes, que se constituem no fundamento dos cargos e encargos que lhes são atribuídos.
Uma vez convencida a turma de que deve agir como se fosse uma única criatura, sob as determinações norteadoras de um dos mestres, que se constituirá em mentor responsável pelo desenvolvimento dos trabalhos de campo, dá-se o passo seguinte do aprendizado.
Para que não haja fracasso real, os primeiros exercícios são simulacros de situações verdadeiras, postando-se um ou mais instrutores na condição de socorridos, de acordo com determinada conjuntura existencial previamente designada para as possibilidades de atendimento do grupo.
Ultrapassada essa fase de auxílios meramente fictícios, o grupo é conduzido perante algum necessitado, para formulação de plano de socorro, com a finalidade de receberem a crítica dos instrutores e mestres. Em seguida, encenam-se diversas dramatizações, para demonstração dos resultados das atividades propugnadas pela turma, no sentido de esclarecer os pontos falhos e de enaltecer os aspectos positivos.
Para que o grupo realize a primeira atividade assistencial verdadeira, ainda sob as vistas rigorosas do mentor, haverão de acontecer diversos treinamentos absolutamente isentos de erros, de hesitações ou de distúrbios emocionais, à vista do sofrimento pungente do assistido.
Chega, então, o grande dia da observação in loco do trabalho de outras equipes com vínculos com o educandário. Este período se estende monotonamente por mais de ano, sendo obrigatório o comparecimento de todos os integrantes em cada incursão, após as quais há exaustivas sessões de orientação crítica de todos os fatos relativos às atividades realizadas.
Começam, aí, as substituições dos elementos, cedendo algum integrante mais antigo seu posto a algum dos noviços, para orientação específica de todas as atividades que lhe seriam afetas. É como se fosse um período de estágio supervisionado, acrescentando-se a análise pessoal de cada elemento do grupo relativamente às tarefas desempenhadas, bem como a descrição minuciosa de todas as reações psíquicas pelo indivíduo colocado na berlinda da assistência.
O tempo destinado para esta fase do aprendizado varia de equipe para equipe, até que, finalmente, sai o grupo com a missão definida de realizar seu primeiro trabalho real.
Eis como se conta a história dos primeiros tempos na Escolinha, para quem esteja inscrito nos cursos de socorrismo. Esperamos ter definido cada fase dos estudos, de sorte a amenizar as palpitações dos amigos leitores, quando se virem na situação de passar pelo mesmo processo, uma vez que a ninguém é dado prosseguir na caminhada ascencional rumo ao Senhor, sem perpassar por todas as estações do socorrismo.
Não é verdade que é muito estimulante conceber a idéia de que, tão logo ocorra o desenlace, já estejamos em condições de nos matricularmos para o referido curso? Que esteja na vontade do Senhor que assim seja, pois isto será verdadeira bênção!







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APERFEIÇOAMENTO





Queremos ressaltar o fato de que todos os adventícios ao campo do socorrismo têm como objetivo particular salvar os familiares que teimam em perlustrar caminhos indignos da boa nova de Jesus. Sendo assim, não se esquecem de relembrar aos mentores, com constância muitas vezes incômoda, que devem saldar os compromissos do coração, já que, desde há muito, os amigos estão entregues a mãos estranhas, havendo não poucos que não conseguem informar-se a respeito do andamento da vida deles.
Finalmente, após considerável número de excursões fraternas de amparo, quando os elementos estão bem seguros das emoções diante da dor alheia e razoavelmente informados sobre as tarefas que devem desempenhar dentro do grupo, surge o momento de se disporem ao auxílio dos seres mais chegados sentimentalmente.
Como não devem ser surpreendidos por nenhum empecilho de última hora, os estudos a respeito dos resgates ou dos encaminhamentos são minuciosíssimos, tanto que são chamados os protetores que estiveram dando cobertura nos derradeiros tempos, para o relato precioso dos eventos mais significativos.
Colocados a par da situação, instruem-se com os mentores a respeito dos planos de atuação e partem decididos a vencer a dor dos companheiros e a enfrentar a própria, com a ajuda dos demais elementos da equipe. Como são solidários nos atendimentos, cada qual sabe muito bem que deverá compor-se com o grupo, não deixando sua parte de ser feita só porque os assistidos são entes muito queridos. Trata-se de ponto muito importante de sua formação que, se não ultrapassado com galhardia, poderá oferecer percalços seriíssimos para um rápido desenvolvimento das qualidades objetivadas.
Sempre, em tais ocasiões, o mentor da equipe tem por obrigação acompanhar a turma, para assistência de emergência, o que não ocorre poucas vezes, dado o estado de penúria dos familiares ou amigos constituir-se em grave influxo vibratório negativo para quem não se sustenta ainda com vigor próprio, provocando delíquios que incidem em mais um problema para os companheiros, os quais, em tais casos, têm de assistir a mais alguém além daqueles que eram o alvo das atenções.
Uma vez vencida as tarefas, sentindo-se fortalecido cada membro do grupo pela evidência da força adquirida através dos estudos e dos trabalhos preliminares, têm eles oportunidade de energizar-se perante grupos mais adiantados, para o que se inscrevem em novas turmas, passando novamente por série imensa de atividades muito parecidas com as primeiras, apenas em campo diferente daquele a que se consagraram anteriormente. Por exemplo, se o grupo primitivo esteve fortemente necessitado de desenvolver princípios de assistência fluídica de caráter material, como seja o atendimento de desmaios, de acidentes, de graves infestações vibratórias negativas por força de interferências deletérias de entidades malfazejas, agora podem estar encaminhando-se para grupos que desejam aperfeiçoar-se no auxílio de caráter meramente moral, devendo dar primazia aos aspectos evangélicos, em busca das leis que regem os procedimentos gregários. Na Terra, diríamos que, no primeiro caso, teríamos pessoas interessadas em Medicina, em Física, em Química, nas ciências paramédicas, em Enfermagem; no segundo, pessoas que se destinam ao estudo das Ciências Psíquicas e Sociais, Professores, Advogados e demais categorias arroladas entre as profissões de pregação humanista.
Nestes novos grupos, os estudos se estendem com grande monotonia, não no sentido do interesse, que todos têm no mais elevado grau, mas naquele da intensificação das pesquisas ad nauseam, com a finalidade de apreensão absoluta dos conhecimentos da área, conhecimentos passíveis de serem adquiridos pelas entidades em fase de aprendizagem.
Novamente, perpassam por todas as etapas, até que se vejam dominando inteiramente os serviços socorristas naquele setor, momento em que se deparam com nova proposta de aperfeiçoamento em outra área, que pode ser a artística, a política, ou outra das que só existem no campo etéreo, como os vários programas que se estabelecem para quem deseja tornar-se emérito na assistência aos seres rojados nas profundezas do báratro.
Não desejamos avançar muito nas informações nesta linha de procedimentos espirituais, as quais têm o objetivo da elevação do tônus vibratório dos amigos em condições de perseguir os ideais mais nobres da angelitude. Trouxe-nos até aqui o ardente desejo de colocar diante dos amigos encarnados as vastas possibilidades que se abrem para quantos se despojarem dos desejos meramente materiais, produzindo vida cheia de conquistas morais elevadas, no sentido do cumprimento dos desígnios de suas encarnações, plenamente conscientes de que tudo o que se faz por amor ao próximo, iniludivelmente, está se constituindo no fundamento para o principal dos mandamentos da lei, qual seja, o amor maior ao Pai.
Somos de parecer que bem pouca gente terá paciência para perlustrar estas comunicações, mas não nos furtaríamos jamais a ajudar na procura do melhor para cada ser que se julgue apto a atender aos reclamos íntimos de uma consciência insatisfeita com o modus vivendi adotado pelo grupo social em que está inserido. Há muitos encarnados que estimam o estudo e que gostam de ver os irmãos serem bem sucedidos nas iniciativas de caráter espiritual, tanto que procuram estabelecer cursos ou campanhas em centros espíritas, com o intuito de favorecer o crescimento de todos. Queiram colocar-nos entre os seres que têm tais aspirações, e tudo se esclarecerá relativamente aos objetivos desta equipe.
Ainda traremos inúmeros desenvolvimentos para ajudar em outros aspectos a serem prestigiados, para que tudo venha a se concretizar segundo os planos dos mentores familiares. Por isso, que este tópico se inclua entre aqueles que irão auxiliá-los em seu aperfeiçoamento, não tanto quanto à vontade, mas principalmente no que concerne à certeza de que estão no caminho verdadeiro, mormente por saberem que estas informações vêm diretamente de irmãos em fase de aprendizagem, tal-qualmente — permitam-nos inferir — todos os caros confrades.
Fiquemos, por conseguinte, nas mãos do Senhor, certos de que não tardará o dia em que adquiriremos completa compreensão de todos os dizeres que coube a nós fornecer-lhes à reflexão.







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PERIGOS





Desde que encarna, o ser humano começa a enfrentar toda sorte de ameaças, não sendo poucos os que perecem mesmo antes de atingir o primeiro mês de gestação. Em casos que tais, é comum o pensamento de que a criatura estava destinada a poucos meses de vida, pensamento que vem para serenar determinadas ânsias de compreensão, já que é de difícil aceitação o raciocínio segundo o qual todos os seres deveriam aguardar a velhice, para alcançar morte por esgotamento biológico de todos os arcabouços orgânicos.
Mas é bem assim que está escrito para todos os indivíduos, embora existam casos de supressões antecipadas do rol dos viventes, por força da recomendação dos conselhos formados pelos protetores familiares, conforme razões as mais diversificadas, principalmente porque há riscos muito sérios de desvios gravíssimos de conduta, inteiramente aleatórios devido à inconsciência e conseqüente irresponsabilidade de quem se vê premido pelas circunstâncias a fugir da aplicação mais correta dos elementos gregários à disposição. Apesar disso, são inúmeras as condições de absoluta inferioridade que persistem em relação a muitos seres encarnados.
Perguntar-se-á se, em tais casos, a recomendação é diferente. Parece-nos, porém, evidente que os prejuízos com a manutenção de seres anômalos, em confronto com o conjunto, queira apenas significar que corresponde exatamente ao planejamento executado laboriosamente, no que respeita ao complexo dos atributos. O que ocorre é que os eventos se destinam a propor os testes que se constituirão nas provas do grupo envolvido, de forma que o fracasso dos indivíduos tão-só coroa a péssima aplicação do poder de realização fundamentado no aparato mais importante de todos os fatores constituintes da sorte: o livre-arbítrio.
Concretizar existências na carne absolutamente dignas dos planos que se estabeleceram para a encarnação é o máximo que alguém possa almejar. Ultrapassar tal limite, no sentido de aproveitamento ainda mais perfeito para a assimilação das virtudes e emprego dos recursos em benefício dos irmãos, é próprio de seres de elevadíssima estatura moral, capazes de todos os sacrifícios úteis.
Cabe rejeitar, neste ponto, certos perigos programados pelos encarnados, sem base nos ensinos de Jesus, como os que provocam os anacoretas ou os que se flagelam, como se o sofrimento gratuito pudesse significar algum ganho adicional junto ao Senhor. Ninguém vem à carne com o objetivo precípuo de conseguir, através de falsas conclusões fundamentadas em errôneo ponto de vista a respeito dos ensinos e dos exemplos do Divino Mestre, realizar algo vantajoso, por meio de alienação completa da conjuntura social em que deveria atuar, para o crescimento das virtudes morais, como conquista a ser integrada nas leis ou normas consuetudinárias. São incrivelmente frustrantes os internamentos em conventos, onde a proibição do uso dos recursos naturais se justifica por elevado egoísmo, a ponto de se falsearem hipocritamente os modelos estabelecidos pela mãe de Jesus ou pelo próprio Salvador. São perigos imensos para o equilíbrio que deve harmonizar a personalidade, em função do amor a ser distribuído igualmente por todas as criaturas e do grande amor a ser destinado ao Criador.
Mas há perigos menores, dentro da constituição familiar, como os senões de relacionamento provindos de injustas pretensões dos mais velhos de determinarem integral subserviência dos menores, ou vice-versa, quando exercem as crianças e adolescentes verdadeiro domínio ditatorial sobre a pusilanimidade de pais não completamente cônscios de sua primordial tarefa de educadores.
Se estamos citando fatos, não é para que se realizem exames de consciência, com a finalidade de se inculparem os amigos leitores. Nosso intuito é bem diferente. O que queremos, na realidade, é trazer à reflexão os verdadeiros impulsos que fomentaram a vontade de encarnar, momento em que todos os riscos são devidamente apreciados, havendo promessa formal de que tudo será feito para se evitarem deslizes, que invalidariam os esforços da equipe familiar, ao se dar oportunidade de nova peregrinação, tendo em vista os objetivos essenciais para a aquisição dos fatores evolutivos.
Eis que o perigo maior volve à nossa frente, agora acrescido de novos pontos para a intelecção de seu significado. Portanto, caros irmãos, não se deixem empolgar pela facilidade que têm de equacionar os dizeres de mensagenzinhas como a presente, transferindo, para futuro incerto e não sabido, as decisões que já deveriam ter prevalecido, diante do muito que teremos todos de perlustrar no caminho da perfeição. Apartemo-nos dos silogismos desta mera descrição topológica das fases de desenvolvimento possíveis no campo da carne e inteiremo-nos das tendências de nossa personalidade, de modo bastante atilado para superar meros indícios de que o procedimento até aqui talvez não se tenha coadunado com os atributos que estão para serem absorvidos, por indispensáveis para o crescimento moral e espiritual de nosso ser.
Enfrentemos todos os perigos de um rastreamento mais sutil, abandonando de vez as pequenas desculpas que consignamos habitualmente para a justificação das procrastinações, que se constituem na amarga reação da consciência, que a todo momento sufocamos para não arredarmos pé das cristalizações que nos mantêm alheados da realidade superior da existência.
Às vezes, quando erguemos demais os pensamentos, parece-nos que as palavras adquirem colorações muito pálidas, pois não somos capazes de transmitir à proficiência tudo o que desejaríamos. É por isso que insistimos em que o nosso relato seja tido como motivação inicial para meditações mais abrangentes, de forma que tudo em torno de nós ganhe nova dimensão, tendo em vista novas posturas metafísicas ou filosóficas proporcionadas pelas elaborações doutrinais fundamentadas nas revelações mediúnicas. Não é importante aqui a mensagem, mas o resultado da leitura como fonte de vida eternal, mediante a compreensão da necessidade de integração completa dos planos material e espiritual.
Voltaremos com novas apreciações neste sentido, com o intuito de cumprir cabalmente os vários tópicos relativos a esta missão que assumimos perante os mentores. Fiquemos todos na bondosa companhia de Jesus, cujo manto protetor afastará de nós todas as hesitações e nos dará firmeza para enveredarmos pelas sendas da verdade.




Comentário



Não cumpriríamos o nosso compromisso com o escrevente, se não viéssemos a tempo em seu auxílio, para esclarecer que os dizeres que impregnamos com nossos pensamentos não pretendem em absoluto comportar qualquer crítica ao seu modo de viver ou de encarar a existência.
Têm os encarnados a malícia de atribuir às mensagens mediúnicas o cunho da auto-análise, de sorte que se suspeita, quase sempre, de que as informações ditadas pelos mensageiros se extraiam da consciência do mediador, como forma anímica de exposição dos problemas psíquicos mais íntimos. É bem certo que muitas vezes o fenômeno ocorre, mas não em situações equivalentes a destas transmissões de maior fôlego, onde os temas se definem em função de programações claramente enunciadas como didáticas, com a finalidade de testar e de aprofundar os conhecimentos dos alunos da Escolinha.
Claro está que tanto o texto quanto o comentário podem cair no vazio do esquecimento humano relativo aos valores que se costuma atribuir às colaborações espirituais. Entretanto, o julgamento dos méritos para a divulgação das mensagens fica sob a responsabilidade de certos indivíduos mais experientes, segundo perspectivas completamente fixadas por ponderações de caráter profissional, dentro dos limites do universo das obras editoradas.
Sendo assim, resguarde-se o irmão no que respeita a ataques pessoais e infira das comunicações os ensinamentos que contêm, com ousadia proporcional àquela que qualquer leitor empregaria para penetrar-lhe nos misteriosos escaninhos. Não veja nada que o desaire. Antes, queira aceitar os agradecimentos do Grupo do Reforço que se estimulou a retornar aos bancos escolares para novos estudos — acreditamos — muito humildemente. Que seja esta a lição a tirar de todos os informes. Obrigado.







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TORMENTOS E ALEGRIAS





É próprio da natureza humana perpassar por momentos de extrema angústia e de sublime felicidade, coincidentemente com os eventos que possibilitam tais reações íntimas, não poucas vezes transbordantes em exteriorizações que almejam fazer com que a coletividade compartilhe da euforia ou da dor.
No etéreo, existe predominância de um dos aspectos sobre o tônus habitual do humor dos indivíduos, de forma que não há possibilidade de se falsearem os estímulos que provocam as reações que se exteriorizam. Assim, pessoas gravemente enfermas quanto à moralidade resultam em seres repulsivos, dadas as vibrações se expandirem em harmonia com o estado mórbido da consciência. Não se encontram seres extraordinariamente felizes, mas os que demonstram sentimentos de elevada estatura moral, aqueles que induzem à simpatia e ao amor, provocam amplo círculo atrativo, no centro do qual se situam como elementos catalisadores, capazes de difundir clima de felicidade, a minorar, inclusive, os estados de depressão e de sofrimento de quantos se deixem envolver por aura tão maravilhosa.
Neste ponto, é bom esclarecer que, se tais indivíduos de elevada linhagem espiritual percorrerem as regiões mais aviltadas, onde permanecem os criminosos impenitentes, estes não sentirão alívio muito acentuado, apesar de serem capazes de intuir que algo os está auxiliando a melhor raciocinar a respeito da própria índole.
Quem estará em condições de tanto desenvolvimento? As entidades que venceram a dor e os defeitos provocados pelas viciações e os crimes, tendo lutado tenazmente para suplantar as deficiências do caráter e aperfeiçoado a personalidade, por meio de ingentes trabalhos, a ponto de alcançarem a prerrogativa da percepção do amor como força energética de caráter divino a sustentar a existência.
Não nos obriguem a dar a conhecer os ingredientes que compõem tão excelsas criaturas, pois o máximo que conseguiríamos expor é que o universo é composto de energia transformável, de sorte que todos moldamos o nosso ser segundo a capacidade de absorver os eflúvios que nos são encaminhados pelos irmãos das categorias mais adiantadas, o que exige das pessoas dedicada aplicação, no sentido da introjeção de todas as virtudes formadoras do caráter, conforme a descrição organizada pelos maiores, em função do bem que se pode oferecer aos semelhantes.
Vejam que considerações simplistas fomos capazes de encaminhar aos amigos; nada que não pudessem extrair da realidade com a aplicação da inteligência fundamentada em mero bom senso. E por que tal ocorre conosco? Em primeiro lugar, porque não temos o desenvolvimento magnífico daqueles seres que descrevemos como superiores. E, depois, porque não seríamos compreendidos pelos encarnados, dado que o simples conhecimento dos méritos ou faculdades dos espíritos elevados não nos avaliza o comentário sobre a realidade de sua constituição. Será preciso crescer, no sentido da perfeição, para o entendimento da angelitude.
Saber que existem serafins e querubins não foi apanágio da humanidade desde tempos imemoriais? Pois, então, em que resultaram tais revelações em função da elevação espiritual, sem o correspondente serviço prestado ao Senhor? Em nada, ou quase isso. Apenas em estímulos muito tênues para reações mais ou menos oportunas contra desvios de conduta, ainda assim quando os indivíduos recebem incentivos muito fortes provindos de entes cuja ascendência seja manifesta, ou de acontecimentos com o condão de se tornarem coatores das ações de regeneração, por força da compreensão dos prejuízos que serão produzidos pelo espírito de rebeldia.
Em suma, o estado de felicidade dos seres mais evoluídos deve ser o aguilhão a nos empurrar para as virtudes e não ponto de discussão de retóricos satisfeitos com o marasmo de sua complacência para consigo mesmos.
Saibamos cultivar, por outro lado, o sorriso alegre de quem vê em tudo a mão de Deus, confiando serenamente em que as ocorrências são os estímulos necessários para que sejamos provados no campo material, no sentido da percepção dos elementos constituintes da personalidade que mereçam correção ou aperfeiçoamento. Se tivermos a esperança e a fé em que seremos bem sucedidos daqui por diante, nem mesmo deveremos preocupar-nos com os fatos não muito corretos praticados no passado, pois tudo se desenrolará de modo favorável à deliberação de reerguimento. Ajamos como se não houvesse memória, apenas direcionando todas as atitudes pelo muito amor que dedicarmos a todas as criaturas, o que incluirá, necessariamente, os inimigos e a nós mesmos. Este é o sentido mais profundo do perdão. O mais ficará guardado, simbolicamente, no coração do Pai, único ser no Universo capaz de todo o bem e de todo o amor.
Conseqüência inevitável: não há silogismo capaz de identificar qualquer causa que justifique os sentimentos de impiedade ou de rancor. A tristeza passará para o rol das dificuldades materiais ou morais como tão-só anomalia de caráter mórbido, doença cuja cura deverá ser providenciada de imediato, para que não corramos o risco de sermos mal agradecidos pelo bem da existência.
Nas mãos de Deus devemos depositar o coração, para nunca mais sentirmos qualquer ameaça de infelicidade.







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O PAPEL DA ORAÇÃO





Tema obrigatório para todas as turmas, eis-nos diante da necessidade de esclarecer aos encarnados que não devem pejar-se por transportarem-se mental e sentimentalmente ao plano mais elevado, onde estão os luminares da espiritualidade encarregados de fornecer as diretrizes para o progresso deste orbe, a fim de externar os agradecimentos e as solicitações inerentes à percepção da verdade a ser adquirida.
Quando Jesus nos ensinou a prece maior endereçada diretamente ao Pai, determinou o padrão pelo qual deveremos rogar pelo atendimento das necessidades, mesmo que simplesmente como recurso de extravasamento de sentimentos absolutamente puros em relação às dádivas de que nos sentimos apaniguados. Muitas vezes, as pessoas se sentem felizes ao extremo, ao desejarem que todos compartilhem desse momento de integração com a natureza ou com a criação, instante supremo em que nos despojamos de todas as vontades subalternas, para enaltecimento da Divindade como pai e criador do universo. A excelsitude dessa transformação íntima, a repetir o episódio da transfiguração de Jesus perante os apóstolos, no alto do Tabor, deve servir de modelo para o procedimento ulterior, dado que é imanente à essência humana, por força da recomposição da realidade circunjacente, volver ao estado de congraçamento material, embora os desejos de não corporificação possam sugerir a sublimidade da perfeição.
Mas o homem não é perfeito e, por isso, haverá sempre de recompor-se perante a matéria para dar seguimento à vida, no contínuo fervilhar das emoções que se vão acrisolando para o adiantamento visado no campo da moralidade e da confraternização. Assim, devolvido ao bulício da sociedade, envolto pelos inúmeros desafios e problemas da vida, pode o ser que se desmaterializou aceitar o sofrimento como parte importante da luta que terá de vencer para cristalizar, definitivamente, no organismo fluídico, os avanços espirituais daqueles instantes de êxtase religioso.
Eis que a prece bem direcionada, dita com o coração puro e com a mente desembaraçada dos maus pendores impostos pelas conveniências terrenas, irá produzir efeitos de grande extensão psíquica e espiritual, facilitando a aquisição das virtudes, com as quais poderá o ser humano desempenhar seu papel diante dos semelhantes, isento de inúmeros percalços materiais, representados pelas moléstias psicossomáticas, e livres das entidades obsessoras desejosas de colocar obstáculos para o bom encaminhamento de sua peregrinação.
Deverá a prece ser a imitação fiel das palavras consagradas do Mestre apostas nos Evangelhos, ou será, necessariamente, a expressão íntegra dos sentimentos que conduziram o indivíduo a postar-se diante das forças superiores, para a reverência da humildade, do reconhecimento e da solicitação?
Qualquer manifestação será a mais condigna, se traduzir honestamente o desejo de homenagear e de exaltar a Divindade, estabelecendo nitidamente a grande distância que existe entre os seres evoluídos e a mediocridade daquele que se espoja no pó das imperfeições. Nada impede, contudo, que o requerente aspire a melhorar a condição espiritual, porquanto a evolução é o processo estabelecido na lei divina para possibilitar à criatura atender aos desígnios do Criador. Para tal, é de grande utilidade deixar presente na memória o fato de que todos portamos aquela centelha que indica que somos filhos do mesmo Pai Celestial, o que nos permitirá volver os olhos para ele, na ânsia de conhecer a verdade de nossa condição, principalmente se estivermos convictos da necessidade de pautar todos os procedimentos pelos princípios do amor, da fé, da esperança e da caridade, predispondo-nos ao trabalho em favor do próximo, estabelecendo como roteiro o desprendimento sacrificial de todas as vantagens perecíveis.
De todos os desenvolvimentos até aqui oferecidos à atenção dos amigos, parece-nos que este será o mais fácil de realizar, pois, à medida que nos falharem os conceitos e as luzes, teremos a benevolência dos leitores, que saberão compor os entrechos lacunosos, para não se permitirem iludir em relação à facilidade com que se dirigem aos maiores, na solicitação das benesses vitais para o desenvolvimento. Conhecemos as dificuldades provocadas pelo estágio da imperfeição, pois poucos são os que conseguem erguer a voz aos céus pela forma impoluta que preconizamos. Mas isto será ultrapassado com facilidade, se nos lembrarmos de que pertencemos a uma ordem de seres criados à imagem e semelhança do Senhor, conscientes de que necessitamos progredir, o que, ipso facto, quer significar que compreendemos as asperezas de nosso caráter e as deficiências de nossa personalidade. Além disso, confiemos em que o Pai, mais do que nós, sabe de nossas debilidades e dos atributos que carecemos para suprir as falhas de nossa formação moral.
Enfim, ser sincero, ser leal e ser honesto são as condições básicas para a formulação de qualquer oração.
Oremos.

Senhor, protegei-nos contra os péssimos ardores provindos das fraquezas diante das facilidades da vida mundana. Acorrentai-nos com as doces cadeias de vosso amor e prendei-nos eternamente ao vosso coração magnânimo, favorecendo-nos manter a alegria de existir em graça, na glória de vosso reino. Aceitai-nos as imperfeições, diante da promessa, que juramos cumprir, de que estamos lutando para suplantar esse imenso rol de falsos conceitos, os quais nos mantêm os desejos muito próximos dos valores fatuais desta visão entenebrecida de vossa onipotência. Sabemos, Pai, que muito nos falta caminhar pelas veredas da dor e dos sofrimentos, para compreendermos o que seja, realmente, agir em amor, pelo amor dos semelhantes, mas atendei-nos a nossa súplica de entendimento, encaminhando-nos os vossos espíritos de luz, que nos abrirão os olhos para a verdade. Dai-nos forças para resistirmos às investidas dos anseios de grandiosidade, fornecendo-nos as armas com que submeteremos a quantos se manifestarem desejosos de nos perderem, possibilitando-nos transformá-los em seres mais lúcidos, ganhos para as vossas hostes. Sendo assim, Pai, não nos permitais avançar sozinhos, mas fraternalmente abraçados à humanidade. Assim seja.







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MAUS EXEMPLOS





Em tempos idos, a humanidade comportava-se por normas bem estabelecidas pelos usos e costumes. Havia falhas nos relacionamentos e constantes rompimentos das diretrizes comuns, mas as punições eram severíssimas, de sorte que os que se atreviam a burlar a confiança social sabiam, com rigor, quais as conseqüências que adviriam de sua atitude.
Aproveitando-se dos arcabouços legais tão arraigados na consciência da população, os príncipes e demais autoridades, mui especialmente as eclesiásticas, forjavam novos estatutos, taxando de impostos todos os produtos e incentivando o voluntariado de certas contribuições, convictos de que as ordens iriam ser cumpridas sem grandes rebeldias. Aliás, para comprovar o que dizemos, tivemos a Revolução Francesa do século XVIII, último recurso popular para alcançar a perpetuidade da sobrevivência, dado que os abusos dos poderosos chegaram a limites intoleráveis.
Não vamos, entretanto, enveredar pelos acontecimentos históricos, ou ficaremos presos a aspectos irrelevantes para os ensinos que desejamos retransmitir aos companheiros encarnados. Com efeito, o preâmbulo que ensaiamos serve-nos para introduzirmos a tese de que, atualmente, quando o homem se sente mais livre dentro da comunidade, é mais propenso a evidenciar os maus pendores de que está formado, uma vez que já não teme as represálias das autoridades, sejam legalmente constituídas, sejam forjadas pela coerção grupal de determinadas zonas que os tentáculos da lei não alcançam.
Eis que os usos e costumes estão sendo modificados mui celeremente, constituindo-se os atos de revide social inconsciente em péssimos exemplos para a formação do caráter dos jovens que se educam nesses ambientes esquecidos do poder central, único capaz de manter, conforme as premissas legais vigentes, as condições de assistência educacional, conforme os padrões históricos e sociológicos da nação. É evidente que estamos fazendo referência específica à nossa pátria, embora conheçamos outras plagas onde os problemas se incrementam de aspectos ainda mais lamentáveis.
Quanto sofrem os espíritos protetores quando percebem que seus esforços para a preservação dos valores mais próximos dos ideais cristãos estão sendo postergados, estabelecendo-se, como norma de conduta, a falácia, a mentira, a falcatrua, a rapina, o roubo e todas as formas de crimes de sangue, sem que se consiga pôr cobro a tão estranhas maneiras de comportamento, como se as leis vigentes no Umbral estivessem, paulatinamente, sendo transferidas para a coletividade encarnada!
É tão grave o desvirtuamento do reto proceder, em função dos direitos e deveres, que não são absolutamente apenas as camadas sociais menos apaniguadas pelas riquezas que agem impunemente, na ganância de se locupletarem com os bens alheios, produzidos por uma força de trabalho que, para ser escrava, falta tão-só a consignação explícita na legislação.
Nada do que escrevemos até aqui importa, deveras, do ponto de vista espiritual, uma vez que recursos existem para que todos os indivíduos logrem alcançar a salvação individual ou de pequenos núcleos familiares, tendo em vista a atuação dos amáveis amigos que persistem, a partir do plano da espiritualidade, a favorecê-los com esclarecimentos oportunos. Entretanto, do ponto de vista mais elevado dos mentores pátrios, urge que se estabeleçam critérios judiciosos para se livrarem os encarnados dos maus exemplos, para que não se dê que a ninguém mais importem os princípios éticos ou morais, refugindo as criaturas na lei do salve-se quem puder, momento em que haverá completa inutilidade em se ter reencarnado a quase totalidade da população.
Que grande tarefa está sendo reservada para os bons, para os que aceitam incondicionalmente as obrigações espíritas como necessárias para o cumprimento dos deveres cármicos, uma vez que a ninguém é dado desconhecer, no momento do reimplante carnal, quais são os compromissos que assumem relativamente aos companheiros de existência!
Não são poucos os cursos que estão sendo ministrados no etéreo nesse sentido, para firmar, na consciência dos recém-chegados, os ideais da fraternidade, da solidariedade e do amor de sentido evangélico, pois está cada vez mais penoso enfrentar as condições adversas do poder da força, que atua subliminarmente, sem ferir a ninguém diretamente, mas abrangendo a todos pela sutileza dos exemplos da malignidade.
Desmascarada essa condição da atual sociedade, resta aos mentores orientar para que os viventes atuem em consonância com as premissas mais elevadas das virtudes superiores de quem conhece os padrões cristãos de procedimento, muitos completamente avessos aos dispositivos legais vigentes, tendo em vista as prerrogativas que se mantêm em relação aos poderes de utilização dos códigos jurídicos, para a perpetração de inúmeros crimes de usurpação dos bens pátrios.
Não vamos deter-nos na exemplificação dos desvios mais graves, bastando-nos citar dois fatos de suma gravidade. Em primeiro lugar, o enriquecimento ilícito favorecido pelas atividades paralelas dos diversos vícios, subvencionado pelas autoridades coniventes, quando não co-autoras, e incrementado pela estultice coletiva, que fecha os olhos para as penosas condições dos que se deixam viciar, tornando-se dependentes do triste comércio. Em segundo lugar, a aceitação tácita dos jogos de azar, os quais, à vista da retribuição possível que oferece a uns poucos, se lançam vorazes contra a economia dos mais pobres, contribuindo enormemente para a fixação do status quo como algo impossível de alterar-se, o que faculta às forças da malignidade submeter a maior parte da população à pressão do poder econômico, no favorecimento de uma minoria superiormente aquinhoada de benesses. Em ambas as situações, o poder público legalmente constituído age em detrimento das conquistas sociais mais legítimas, notadamente no que se refere à assistência à saúde, através do saneamento básico que não se amplia, e ao desenvolvimento da educação, que se sufoca pela inutilidade das parcas instituições espraiadas pelas massas incultas, incapazes de bem aquilatarem o valor desse benefício para o bem-estar das gerações que se aproximam.
Estendemos os pontos em debate o mais abrangentemente possível, de forma a possibilitar a todos os leitores a confirmação de nossas palavras, para o devido registro da verdade que lhes estamos pondo debaixo dos olhos. É claro que a correção de tão graves distorções, à vista dos postulados de Jesus, não será possível atribuir-se a cada cidadão em particular. Daqui a necessidade de todos se unirem em favor dos irmãos imersos neste mundo de desfaçatez, para os devidos esclarecimentos, no âmbito de atuação de cada qual, especialmente no que concerne aos jovens que estão sob sua responsabilidade.
Sabemos ser extremamente dificultoso acatar preliminarmente a nossa postura como coerente com as diretrizes estabelecidas pelo movimento espírita fundamentado na codificação kardequiana, tendo em vista as restrições que sempre se fizeram às comunicações mediúnicas interessadas na discussão dos aspectos temporários, circunstanciais, da vida humana. Todavia, voltamos a insistir num ponto que nos parece fundamental para a compreensão de nossa atitude, consignado aliás desde o estabelecimento da codificação, qual seja o de que o Espiritismo está adentrando o campo das lutas sociais para o favorecimento da compreensão dos deveres cármicos, no intuito maior de se tornarem proveitosos os encarnes.
Sentimos estar próximo o fim da mensagem, pois era vontade nossa estender-nos indefinidamente, até esgotar todos os argumentos em favor da comoção dos leitores, no sentido de torná-los simpáticos às nossas posições, para que mais próximos possam ficar do entendimento global do amor como forma de congraçamento universal. De que vale o estímulo ao aperfeiçoamento de cada ser individualmente, se se desprezam os demais, em total contraste com os avisos de Jesus? Não estará aí, em germe, o egoísmo mais acendrado, a fomentar a separação, a relegação dos mais infelizes à própria sorte, como se todos fossem capazes de compreender que estão impregnados dos piores males, os quais a sociedade sutilmente vai insinuando como inofensivos e até desejáveis?
Tendo em vista os desenvolvimentos anteriores, cremo-nos autorizados a invadir este terreno material, abrindo larga fissura para introdução dos aspectos espirituais. Se não tivermos alcançado tal objetivo, pomo-nos à disposição dos irmãos para as devidas críticas e o competente perdão. Saibam, queridos amigos, então, ler, nos sentimentos que nos impulsionaram, as idéias que não fomos capazes de expor com clarividência.
Deixemo-nos estar nas justas e amorosas mãos do Senhor.







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DERRADEIRAS PROVIDÊNCIAS





Muitos encarnados julgam imprescindível providenciar, ao término da vida, quando estão prestes a adquirir a passagem de volta, que tudo seja arrumado devidamente para facilitar-lhes o ingresso no plano da espiritualidade, absolutamente quites com a humanidade. Sendo assim, revertem para os descendentes as propriedades e alimentam a esperança de terem tudo realizado para que suas almas sejam encaminhadas para os melhores setores, conforme a visão religiosa lhes permite conceber. Mesmo espiritistas mui sinceros, após longa peregrinação, julgam-se em condições de ascender diretamente aos planos mais elevados do empíreo, onde reina o Senhor, junto aos espíritos de luz, na qualidade de discípulos fiéis, dado que muito conseguiram fazer em prol dos seres que, ao seu derredor, ardiam nas chamas infernais das culpas e dos crimes.
Entretanto, são pouquíssimos os que têm real antevisão de seu destino de após túmulo, uma vez que menosprezam os pequenos atos de insubordinação material, que deixaram incrustar-se indelevelmente na maneira de ser, principalmente quando não conhecem em profundidade a magnificência do exemplo crístico, mas agiram tão-só em consonância com o desejo de superação das dificuldades, quase de forma hipócrita, aspirando adentrar o etéreo com evidentes preconceitos, que seu egoísmo impediu de avaliar. Padecem criar muitos encarnados, portanto, mais equilibrada concepção das ordenações evangélicas, especialmente quando julgam que tudo se lhes dará, se tudo tiverem dado durante a trajetória carnal.
É ponto crucial que o desprendimento seja apanágio moral superior. Jamais discutiríamos tal aspecto da necessidade cármica. Mas a correspondente compreensão de seu valor intrínseco para a formação do caráter, como fator essencial da personalidade, só decorrerá de árdua aplicação intelectual ao estudo de todos os mecanismos psíquicos, especificamente na assimilação, introjeção e manutenção do amor ao próximo, como elemento inerente à personalidade em formação. Não basta fazer; é preciso saber por que se deve fazer; é preciso compreender quais as conseqüências de ter como valores os ensinamentos de Jesus, para a comunidade que se organiza em torno de cada indivíduo; é preciso reconhecer que a vida não se encerra no ato em si, mas flui de série infinita de ponderações inteiramente ausentes de malícia, de má fé, de desejos de superação imediata, sem o esforço sacrificial do ego, em favor do emprego energético integral para o aproveitamento de todas as qualidades que se vão colocando à disposição de cada criatura.
Assim, devemos entender que as derradeiras providências serão todas as que se tomarem a partir deste exato instante, por mais distante esteja o momento sagrado de retornar ao etéreo. Se é bem verdade que o inconsciente é que vai apreendendo tudo que as circunstâncias projetam sobre a mente, durante toda a vida, não há fugir da necessidade de transformar todos os eventos em pensamentos críticos, examinados à luz das verdades evangélicas, para que se cristalizem em conquistas conscientes da vontade, de forma a consolidar todas as atitudes como absolutamente conformes à lei e aos mandamentos.
Sabemos das enormes dificuldades que têm os encarnados de adquirir integral consciência, segundo o que estamos a lhes solicitar, já que se deixam embalar por sonhos ou planejamentos voltados para o rol de satisfações materiais que colocam como prioritárias, embargando, muitas vezes, os projetos minuciosamente elaborados junto aos mentores, por ocasião da fixação das diretrizes do presente encarne. Mas, para a redescoberta dos princípios originais que nortearam a vinda ao mundo, existem os protetores, que assopram, dia e noite, nas mentes de todos, para que prestem atenção em cada pequenina atitude, em cada mínimo gesto, mesmo que se constituam em apagadinha voz no fundo da consciência, a alertar para os desvios de conduta.
Por outro lado, desde que exista a possibilidade intelectual da decifração do abecedário, muitos são os textos que, quotidianamente, são colocados diante das vistas de cada um, a forçarem à reflexão a respeito da verdadeira contextura da existência e do papel que o encarne desempenha nessa aventura. Por menor que seja a influenciação, sempre os leitores hão de reconhecer que aqui estão, perante este texto, para o incentivo ao prosseguimento das providências para a melhoria da conduta, em face das necessidades do progresso, para, aí sim, fazerem jus a serem guindados a planos mais elevados, onde reinam a paz e o amor como sustentáculos para as futuras realizações, no rumo da perfeição.




Comentário



Quando iniciamos as atividades junto a esta mesa, estávamos presumindo que as mensagens tomariam características muito mais práticas que teóricas, pois imaginávamos que iríamos descrever as atividades dos encarnados que se constituem na razão precípua do socorrismo espiritual. Estamos agora surpresos diante do direcionamento teórico que os mestres nos obrigaram a dar aos textos, de forma que nos parece até que não estejamos cumprindo a missão maior do alerta oportuno, perante as falhas reais de cada pequeno procedimento em rota de colisão com os ensinos de Jesus.
Dizem-nos os mestres que a análise consciencial será suficiente para os amigos encarnados deslindarem os rumos equivocados que estão imprimindo às vidas, bastando aos seres da espiritualidade estar presentes, simbolicamente que seja, para a estimulação da contrição, do arrependimento e da tomada da decisão de inverter os processos em decomposição, para a regeneração moral ou intelectual. Sendo assim, contentar-nos-emos em apontar algumas diretrizes metodológicas para a superação das deficiências principais, reservando-nos o direito de assistir diretamente a todos os que se endereçarem a nós para os esclarecimentos pessoais convenientes, consoante o grau de interesse demonstrado.
Eis que, modestamente, estamos intentando demonstrar aos amigos que também nós não estamos cem por cento cônscios das obrigações, precisando, com boa vontade e humildade, submeter-nos aos conselhos dos superiores, responsáveis pelo encaminhamento da turma, no sentido da aquisição de todos os pontos relacionados no programa de ensino.
Assim também sugerimos aos leitores que façam, embora não se sintam tão amparados como nós mesmos, porquanto para nós fica muito mais fácil de perceber que estamos em boas mãos, seguros da probidade dos orientadores e da fragilidade de nossos cometimentos de ordem espiritual. Caso os bons amigos desejem vencer os receios de que talvez estejam sendo iludidos por falaciosas criaturas, que demonstram estar de posse de sabedoria muito superior, a ponto de se proclamarem, em certo sentido, donos da verdade, que se reúnam em centros de estudo, para severo exame das mensagens ou da doutrina codificada por Kardec, principiando por O Livro dos Espíritos, obra fundamental, onde se encontram os ensinamentos basilares do Espiritismo.
Se insistimos, às vezes enfaticamente demais, em que o estudo deve preceder o trabalho é porque sabemos que, antes e acima de tudo, para que as providências derradeiras estejam de acordo com a programação emanada dos irmãos de luz, devemos todos nós chegar ao conhecimento perfeito de nossa natureza espiritual e dos deveres que esse conhecimento preceitua.
Após esta leitura, chegará a hora de profunda meditação a respeito dos tópicos levantados desde a mensagem inicial, para a valorização de nossas premissas, de nossa postura perante a existência na carne, de nossos posicionamentos filosóficos, no sentido de enviar, com toda a clareza, à Turma do Reforço, as considerações mais pertinentes a respeito dos sentimentos e das conclusões extraídas, para que possamos nós também ser orientados pelos amigos encarnados, pois faz parte do curso acatar as manifestações de solidariedade ou de rejeição de quantas pessoas estejam sendo envolvidas pelo trabalho que ora se desenrola.
Não tenham medo de enfrentar o mistério, mesmo que não estejam em condições de sentir as reações dos que estão deste lado, pois é desses frutos que se alimentam os aprendizes do evangelho, por honra e glória do Senhor. Quem sabe, assim, todos nos capacitemos a compreender integralmente as leis que regem o universo, através de estudo solidário e amorável!







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DESAPEGO





Muito próximo da virtude do desprendimento, há que se desenvolver o desapego às coisas materiais, para se conseguir dar ao espírito condições de superação dos ideais terrenos, favorecendo o crescimento dos fatores evangélicos, como base sobre que erigir a catedral da evolução.
Não há muito que considerar a respeito do tema, a não ser que não se devem confundir as palavras, afastando do convívio certos seres que reputamos excessivamente antipáticos à nossa postura religiosa, filosófica ou simplesmente social, à vista de certos preconceitos, que alimentamos de forma injusta por não percebermos estar discriminando as criaturas, através de critérios absolutamente estranhos aos mandamentos cristãos.
Cabe narrar o caso de um irmão sacerdote que, forçado a peregrinar por regiões devastadas pela guerra, acabou falsamente concluindo que todo o ódio encontrado nos corações dos sobreviventes seria justificativa cabal para os horrores por que passaram. Encontrou o efeito e inferiu a causa, errando completamente a análise e, por via de conseqüência, as conclusões.
É bem esse o caso que, em geral, encontramos nas mentes das pessoas que agem em detrimento do desenvolvimento igualitário de todos os confrades. Estão sempre estabelecendo diferenciações fundamentadas em aspectos circunstanciais, buscando compreender os demais pelas medidas da própria estatura moral, incapazes de discernir em cada irmão realmente um filho de Deus, com os mesmos direitos perante a existência.
É preciso, pois, despojarmo-nos de qualquer idéia de superioridade ou de inferioridade. É essencial, para a conquista dessa elevada virtude, que saibamos estabelecer o princípio do desapego das falsas interpretações, que, aos poucos, nos foram inoculadas por todo o período da formação moral e intelectual, durante a infância, a adolescência e boa parte da juventude. Levar tal espírito discriminatório para a maturidade e para a senectude será favorecer enormemente a incrustação dele em definitivo na personalidade, de sorte que o carrearemos para o etéreo, ou como problema não resolvido, ou como acrescentamento de vício intelectual aos constantes do acervo.
Esta curta exposição deve servir de modelo para outros desenvolvimentos a respeito de muitíssimas virtudes pequenas que, no conjunto da moralidade, acabam por caracterizar a personalidade de cada um, evidenciando, no fundo, os problemas mais graves do egoísmo, da descrença na divina justiça e da prerrogativa que se pretende de alcançar, mais que os outros, a benevolência do Senhor, benevolência negada por nós mesmos aos semelhantes.
Quando incentivamos o trabalho, não estamos, evidentemente, excluindo da programação o exame consciente de todas as qualidades inerentes aos seres em condições de se expatriarem para a espiritualidade com superávit, já que é tendência muito generalizada a de considerar-se o estudo como diletantismo, eliminando da mente qualquer proveito de ordem prática. Eis outro preconceito clássico corrente na sociedade dos humanos, ao menos no que concerne àqueles que se desestimulam para as leituras e para a meditação, por causa do péssimo hábito de se transferirem as responsabilidades aos que se revestiram da suntuosidade de paramentação do sacerdócio, representantes mui dignos dos homens junto à Divindade, com a incumbência de abrir as portas do paraíso aos fiéis cumpridores de suas determinações doutrinárias. E isto inclui muitos irmãos espiritistas, acostumados a considerar o trabalho da assistência aos pobres como suficiente para o soerguimento moral que se lhes requer para o cumprimento dos tópicos indispensáveis às transformações do caráter que ensejarão melhor colocação na escala dos seres, ao momento do alistamento para as funções do socorrismo, no plano espiritual.
Do desprendimento, através do desapego, para o sacrifício, eis a caminhada redentora que se exigirá de todos, não só como conquista individual, mas como premissa indispensável para a aquisição das virtudes em falta.
Não sejamos rudes para com nós mesmos, se, por acaso, verificarmos estar bastante distantes das metas propugnadas por este grupo. Talvez estejamos sendo muitíssimo ambiciosos na apreciação dos deveres cármicos dos encarnados, ponto de vista que esposamos a partir do instante em que avaliamos nossa conduta nos últimos encarnes. Mas, diante das necessidades da pregação, não podemos manter o costume de fechar os olhos às viciações do caráter, mesmo com o risco de nos tornarmos alvo dos preconceitos dos leitores. Haverão, pois, de nos perdoarem a aleivosia em persistirmos nesta linha severa de recriminações e ponderações de caráter pejorativo em relação aos mortais, evitando investir contra a leitura e contra os autores, mas priorizando os ataques contra os vícios e a má formação moral e intelectual, mesmo que seja tão-só para confirmar que tais desvios de procedimento não constam de sua personalidade.
Estejamos certos de que agimos sob inspiração dos guias espirituais e realizemos todos os atos na convicção de estarmos inteiramente sob o amparo das leis do Senhor, segundo a descrição da criatura ideal estabelecida nos Evangelhos. Assim saberemos que estamos encaminhando-nos, serenamente, para o reino do Pai.







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A CARIDADE





Sentimento dos mais profundos, relativamente aos dons a serem desenvolvidos por todos os seres humanos antes que se ofereçam ao transporte para este nosso plano, a caridade preside à ordenação das criaturas em seus novos postos de trabalho espiritual.
Quase sempre, as pessoas sentem amor por determinadas criaturas de seu relacionamento, tudo fazendo em função de atender-lhes às solicitações e apelos, mesmo que não estimuladas de viva voz, na intenção de proporcionar bem-estar a todos que lhes são caros. Subsidiariamente, por força das diversas profissões, encontramos muitos que se deixam dominar por sentimentos de doação, enquanto realização profissional, estendendo manto protetor a todos os que se encaminham para sua acolhida. Tal é o caso dos professores, dos médicos e de outros tantos profissionais que soem lidar com o público.
Há atividades, contudo, que exigem dos que as praticam que recebam com benignidade a todas as pessoas, sem discriminação, oferecendo assistência, aconselhamento e até conforto físico, sem distinção de origem, credo, cor ou casta social, como os políticos, os administradores públicos e mesmo os sacerdotes das religiões mais abrangentes e mais cristianizadas. Neste caso, os indivíduos exercem a caridade por força dos dispositivos de seu métier, muitas vezes sem qualquer envolvimento de caráter emocional.
A verdadeira caridade é muito parecida com a praticada por este último magote de seres encarnados, com a diferença de que os puros e os bons são capazes de estender a todos aquele sentimento amoroso dos que se citaram em primeiro lugar, ou seja, dos que tudo realizam pelos entes que lhe são francamente ligados por laços afetivos. Assim, é preciso, desde logo, considerar que a caridade não é algo que se põe com o objetivo de aprender, friamente, mas que se deve constituir em meta altíssima, para a qual se devem dedicar todos os instantes da vida, em cada pequenina atitude, a gerar reflexão imediata, no sentido de se perceber até que ponto os sentimentos envolvidos estão sendo gerados por intentos fundamentados nos conhecimentos evangélicos.
Pode parecer que estamos integrando sentimento e razão, como se fosse possível caminhar passo a passo, sempre estabelecendo rigorosos parâmetros para a avaliação de cada minúsculo gesto, medida dada a um tempo pelo intelecto e pelo coração, confundindo-se as ações e os sentimentos num único movimento de exame contínuo. Para aqueles que julgarem que estamos propondo algo bastante insólito, posto que racionalmente admissível, devemos afirmar que o treinamento todo deve fazer-se com o ânimo alevantado pela fé e pela esperança de que tudo será possível para quem deixou depositado o seu ser nas mãos do Criador.
Vamos exemplificar com a leitura que está sendo realizada neste mesmo instante. A par da compreensão que se vai estabelecendo de cada sinal gráfico, na formação dos dizeres de que se compõem as frases, o coração vai buscando reconhecer os diversos sentimentos que brotam das expectativas que se vão criando, quer no sentido de se apropriar inteiramente das intenções do escritor, quer no de se assenhorear das reações que se formam, a partir da repercussão dos pensamentos e das emoções, na psique do leitor, como forma de assimilação dos valores, em função do cotejo que se estabelece entre os que se vão colocando com os que repousam no fundo da consciência.
Se, para simples efeito da leitura, estamos a associar os diversos fatos psíquicos e emocionais, para as ocorrências que exigem deliberação e resolução, muito maiores deverão ser os cuidados para a captação da realidade circunstancial, em confronto com os diferentes elementos componentes da personalidade, ou será o indivíduo levado a equivocar-se. É esse o medo que deveriam todos sentir, diante da constância com que se deixam embair pelas falsas concepções que se produzem de imediato, em ato reflexo produzido pelos hábitos adquiridos, segundo as estruturas psicossociais assimiladas a partir dos dados culturais a serviço da comunidade.
Concebendo-se que, desde o momento da desencarnação, todos estaremos diante de novas estruturas existenciais, agora tidas como espirituais, não seria de esperar-se que houvesse grave preocupação para o entendimento dos procedimentos que se poderão adquirir desde já para aplicação naquela realidade? Pois a reflexão que estamos propondo tem por objetivo justamente tornar o cidadão terreno mais afinado com as exigências do etéreo, sendo que uma das principais, para efeito do progresso que a todos afeta ao nível de aspiração, é a conjugação dos conhecimentos com os sentimentos, sendo que a caridade é o ponto de observação mais apropriado para perceber se a aquisição se realizou.
Assim, tendo em vista o desenvolvimento que procedemos, não se pode minimizar a importância da ação caritativa, prendendo-se a simples gestos de doação dos supérfluos, sem a necessária consideração a respeito dos valores espirituais envolvidos. Praticar a caridade, pois, é preparar-se para o dia glorioso em que receberemos os galardões da vitória, conforme o reconhecimento que se dará de que o nosso encarne se aproveitou para o aperfeiçoamento das virtudes.
Crer em que estas palavras estejam cheias de verdade será meio caminho para a compreensão da filosofia que se transfere do plano da espiritualidade, para a facilitação do entendimento da existência como um continuum entre os planos, o que eliminará o fator temporal, uma vez que as ações desde já se determinarão pelos valores morais superiores. O momento da morte, para seres que assim se conduzirem, significará apenas o translado para outra região, como ocorre quando alguém se dispõe a viajar para a realização de negócios. A diferença está em que a verdade destas assertivas é bem melhor compreendida ao nos transferirmos para a vida na carne, quando estabelecemos mais nitidamente as finalidades daquelas realizações, as quais mais comumente recebem o nome de obrigações cármicas.
Exemplo final de ato caridoso encontramos na boa vontade dos médiuns, que trabalham pelo bem-estar de seres que, apesar de muito próximos, não se constituem em elementos de necessário relacionamento, dadas as naturais barreiras que se colocam entre os planos. Entretanto, se tais médiuns resumirem as atividades caritativas no só atendimento deste setor de sua capacidade gregária, estarão afastando-se, lamentavelmente, dos deveres mais importantes da peregrinação terrena, quais sejam os que acima declaramos como produto do amor familiar a ser expandido para toda a sociedade.
Sabemos que estamos dando voltas ao derredor do tema, uma vez que não conseguimos declarar de uma vez todos os aspectos importantes que deveriam ser apreendidos pelos encarnados. Todavia, julgamos ter definido bastante bem o ponto de vista espiritual, em confronto com o material, para propiciar aos leitores condições de meditarem mais profundamente a respeito da necessidade do desenvolvimento das virtudes. Se assim for, recebam os nossos efusivos votos de feliz ingresso no quadro dos seres aptos a integrarem as forças do Senhor, esquadrão divino preparado para o socorro indiscriminado de todos os entes inferiorizados pelos vícios e pelos crimes.
Trabalhemos, irmãos, pela compreensão das leis de Deus, porque só assim estaremos em condições de prosseguir em nossa caminha ascendente.







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O ESPÍRITO DE JUSTIÇA





Se estabelecêssemos hierarquia para os valores espirituais, iríamos perceber que existem virtudes mais abrangentes, outras mais específicas, algumas não inteiramente do conhecimento dos encarnados, outras até menosprezadas, por se situarem em plano de atividade muito inferior, de acordo com as sociedades mais civilizadas ou tecnológicas.
Para o plano espiritual, contudo, tal ordem de precedência não se realiza do mesmo modo, havendo pontos de evolução inatingíveis, sem que todas as virtudes estejam rigorosamente sendo observadas. Se nos ativermos à virtude da justiça e da compreensão de que Deus é onipotentemente justo, aí poderemos compreender o porquê das prescrições das conquistas graduais e cada vez mais firmes de todos os apanágios que dão os méritos superiores dos espíritos de luz ou das santas criaturas, conforme o ponto de vista adotado pelos encarnados.
É assim que se exige de cada candidato ao socorrismo que saiba distinguir, dentre as diversas posturas diante dos fatos, aquelas que priorizam os atos verdadeiramente justos, eliminando qualquer possibilidade de opções errôneas, que elegeriam o arbítrio como consentâneo com os atos admissíveis como provisoriamente perfeitos.
Diante desta argumentação, haverão os atentos leitores de estar a refletir que estamos tornando relativo o conceito de justiça, colocando, para cada decisão, o dilema de ser ou não justo, diante da verdade dos fatos. Entretanto, havemos de convir que nem sempre a melhor reflexão de cada pessoa será capaz de observar todos os fatores envolvidos em cada acontecimento, impedindo-se que a fixação das diretrizes da justiça se estabeleça de forma absoluta. Se o homem não tem o dom da perfeição, não há que se exigir dele que aja conforme o estatuto divino. Haverá de muito peregrinar até compreender todos os aspectos que envolvem cada pequenino atributo em causa, para o efeito de superior visão dos fatos. Daí não ser possível definir limites rigorosos para a tendência tão diversificada dos seres, conforme seu ponto evolutivo.
Como considerar, então, a condição de justo de cada indivíduo? Simplesmente, conhecendo os limites de sua percepção da moral evangélica. Se, aos brutos das cavernas, se poderia exigir a proteção familiar, dos civilizados dos centros urbanos deve esperar-se que sejam capazes de defender a sociedade dos ataques dos usurpadores.
Não seriam poucos os argumentos contrários à exemplificação abonatória que trouxemos à baila. Todavia, relevem-nos os aspectos circunstanciais e queiram compreender tão-só a essência do que estamos propugnando. É claro que, tarefeiros do Senhor junto às comunidades terrestres, sabemos ver, em muitos sujeitos e em diversas extrações sociais, condições de vida animalesca ainda mais miseráveis do que as que presidiam os atos gregários dos homens dos diversos períodos pré-históricos. Mas o fato não anula a proposição exemplificativa.
Da mesma forma, quando nos deparamos no plano da espiritualidade, somos argüidos relativamente a como devemos encarar as diversas situações que enfrentam os seres, principalmente com o objetivo de bem delinearmos o melhor procedimento, para que todos os elementos do grupo possam satisfazer-se, no sentido de favorecer o espírito de equanimidade que deve orientar todas as decisões. Não é bem assim que realizam os julgamentos e estabelecem as sentenças os juízes das diversas instâncias, no âmbito terreno? Não é consultando as leis vigentes, interpretando-lhes a letra, para a aplicação mais judiciosa, conforme cada caso apresentado aos tribunais?
Pois, entre os espíritos que se propõem ao socorrismo, corre a necessidade de se assenhorearem de todos os argumentos das leis de Deus bem como de todos os mandamentos evangélicos, para que realizem sadio pronunciamento perante os réus, quase sempre imaginários ou extraídos da literatura forense catalogada nas diversas instituições de formação de socorristas.
Mas a formulação das sentenças não se atém ao simples estabelecimento do resultado lógico das apreciações fundamentadas nos dispositivos legais aventados. Há que se colocar em cada parecer, seja condenatório, seja absolutório, todo sentimento ou emoção, para que tudo que se externe como opinião esteja eivado dos estremecimentos morais que se esperariam se o julgamento se desse em causa própria ou de algum ser extremamente amado. E isso nada mais é do que simples prova de avaliação das condições dos adventícios, em função da distribuição dos alunos pelas diversas turmas!
Claro está que, para o avanço na escala evolutiva dos seres, nenhuma prova escolar será oferecida, como se a graduação se desse por ato de vontade dos examinadores. Nada disso. Quando falamos em termos das exigências dos institutos de ensino, estamos somente dando pálida idéia do rigor para a conquista dos almejados progressos reais, perante o Criador. Neste caso, não há qualquer ato de formalização dos ganhos e dos avanços. Os seres simplesmente evoluem e vão nimbando-se de luz, mediante as formidandas lições que vão aprendendo, perante os percalços existenciais que têm de vencer naturalmente, uma vez que o socorrismo é instituição de caráter espiritual para a educação dos seres, o que significa dizer, órgão de auxílio, de ajuda, de socorro ele mesmo, para que os que tenham boa vontade e discernimento possam trabalhar em favor dos semelhantes e de si mesmos, da mesma forma que se faz na Terra, com relação aos jovens, em função da habilitação profissional e da preparação para a cidadania.
Assim, se do amor brota a caridade, do espírito de justiça irá florescer a sabedoria, não no sentido do acúmulo dos conhecimentos, mas da presteza da aplicação das melhores soluções, segundo as prescrições emanadas dos cânones superiores, conforme ainda o envolvimento pessoal de que seja capaz a entidade.
Sabemos que, na Terra, a emoção do orientador poderá favorecer certa dependência do assistido, pelo menos nos estágios iniciais dos trabalhos do socorrismo. Sendo assim, não se recomenda aos amigos dos centros espíritas que se deixem sensibilizar em demasia relativamente aos sofrimentos dos que lhes suplicam atenção e cuidados. Esta é medida de prudência para atribuir-se a responsabilidade a quem de direito, de forma a propiciar a cada qual a oportunidade da compreensão do quanto contribuiu para que se estabelecesse a precariedade de suas condições.
No etéreo, porém, os orientadores estão vacinados contra as ondas vibratórias de caráter negativo com que possam querer envolvê-los os seres em vias de serem auxiliados. Aliás, se não houvesse tal reação, nem haveria razão para o serviço socorrista, dado que os indivíduos estariam em condições de serem guindados à situação de condiscípulos. Daqui a necessidade de que todo julgamento se dê com o máximo de amor, com o máximo de compaixão, para que a sentença se faça sem condescendência, mas com integral sentido de ajuda. Por isso, os corretivos que se formulam como necessários têm, na maior parte das vezes, total aquiescência dos julgados, os quais, de resto, são os melhores promotores de sua própria justiça.
Bem como o espírito de justiça, existem outras virtudes que os humanos tendem a menosprezar, mas que se constituem em matéria essencial a ser assimilada segundo os padrões morais da espiritualidade. Ocupar-nos-emos de outras ainda.
Fiquemos, agora, nas brandas mãos de Jesus, que saberá atribuir a cada um de nós o melhor trabalho para nossa redenção.







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AS BEM-AVENTURANÇAS





Quando Jesus pregava do alto da montanha o sermão das bem-aventuranças, exaltando os simples, os puros, os humildes, os injustiçados e os sofredores de todo tipo de perseguição, colocava muito propriamente que era dever de todos aceitar pacificamente os percalços que se lhes eram colocados, caso contrário, deixariam de ser perseguidos para se tornarem no oposto, mediante o orgulho, a imodéstia, a ganância e a sofreguidão por se despojarem dos sofrimentos o quanto antes, anulando, por conseguinte, os efeitos cármicos das dores.
Não vamos incentivar aos bons leitores que assumam conscientemente o sofrimento, acatando as diretrizes do mistério como se se fundamentassem inequivocamente sobre o sacrifício individual, esquecidos de que os labores da vida exigem muito mais do que simples anuência improdutiva aos pesos que obrigam à tolerância, sem oferecer a contrapartida da reanimação, para a justa retribuição ao Pai da compreensão da necessidade da purgação para o aperfeiçoamento espiritual, mediante os trabalhos que se deverão desenvolver, para o soerguimento dos irmãos em iguais estados de depressão existencial.
Em outras palavras, tornando mais fácil o entendimento dos argumentos, Jesus pregava o acatamento da sorte sem rebeldia e nós, vinte séculos depois, propugnamos a aceitação da palavra do Mestre, acrescentando que existem deveres para serem cumpridos, em virtude de termos sido enviados à carne no intuito de nos desincumbirmos das tarefas de assistência aos irmãos sofredores.
Estaremos ainda mais evoluídos que o Senhor, para oferecer algo que ultrapasse os limites por ele estabelecidos? Jamais. É que nos lembramos de outras passagens sublimes de sua pregação, nas quais nos obriga ao amor universal, incluindo, especificamente, no rol dos seres a que chamou de semelhantes, os próprios inimigos. Se houve alguma alteração desde aquela época para hoje, não está na boa nova, mas nos destinos humanos, uma vez que muitos dos que repetem encarnações desde então evoluíram bastante e já conseguem visualizar horizontes mais promissores de felicidade.
Poderão perguntar se não são suficientes dois mil anos de cristianismo para que todos os que ouviram, desde a primeira hora, a palavra do Senhor se ponham aptos à sublimação espiritual, isentando-se do retorno ao orbe das misérias e da dor. Certamente, muitos haverá que se elevaram e que agora se contam entre as hostes do bem, auxiliando diretamente nos trabalhos de divulgação evangélica, neste ou em outros planetas mais evoluídos. Entretanto, são incontáveis os que tardam a observar todo o rigor da lei, deixando passar oportunidades preciosíssimas para o aprendizado das virtudes maiores. Conhecem de cor o Sermão da Montanha e todas as bem-aventuranças, mas são incapazes de pô-las em ação.
Sendo assim, que se ouçam as nossas advertências compungidamente, pois pode estar ocorrendo de que o leitor não integre o número dos que conheceram desde logo os termos da proposição do Cristo, mas se comportam exatamente da mesma maneira dos que fizeram ouvidos moucos e até hoje não atinaram com a verdade das expressões maravilhosas. E não adiantará dizer que não alcançaram ouvir a tonitruante voz do sublime pregador, porque o eco de sua oração repercutiu pelos séculos e se fez sentir em todas as épocas, mesmo neste século de guerras e de insensatez.
Vejam que fizemos questão de não transcrever trechos da peroração sagrada, porque sabemos que, em todas as consciências, estão firmemente impressas as frases do divino pronunciamento. Essa é a esperança que se acende em nosso coração, para fazer-nos ousados a ponto de vir lembrar o processo cármico da regeneração pela dor e pelo trabalho. Que se percam as nossas palavras, mas que fiquem para sempre as de Jesus.




Comentário



Estávamos pensando se não seria a hora de mudar de rumo quanto às diretrizes que assumiram os escritos, muito diferentes do que havíamos inicialmente imaginado, mas chegamos à conclusão de que deveríamos prosseguir trazendo noções teóricas a respeito dos deveres e obrigações dos encarnados, relativamente aos compromissos assumidos perante os orientadores espirituais. Tal decisão se prende ao fato de que nós também nos vimos contrariados em nosso desiderato, mas nem por isso nos rebelamos, oferecendo resistências aos conselhos recebidos dos mentores.
Sabemos que este desenvolvimento poderá ser tido na conta de inútil, mas acontece que estamos deixando bem claro que, em todos os níveis evolutivos, sempre haveremos de atender às orientações superiores dos seres que conhecem, por terem vivenciado, as necessidades daqueles que se encontram em estágio ainda inferior. Se não houver esta disciplina, se não se conseguir admitir como essencial para o progresso o maior desenvolvimento dos que nos antecederam nas provas e nos trabalhos, ficaremos soltos na erraticidade, crentes de estarmos gozando de plena liberdade, mas sem termos segurança quanto ao empenho que viermos a dedicar aos anseios de perfeição que uma hora ou outra baterão à nossa porta.
É da natureza dos seres observar o crescimento dos semelhantes, a tal ponto que chega até a constituir-se em percalço, desde que não sejamos capazes de entender que os que se situam mais acima tiveram, também eles, momentos de hesitação e de sofrimento. Se insistimos na necessidade da obediência aos estatutos evangélicos, é porque sabemos, por experiência própria e depois de muito avaliar os destinos de muitos assistidos, que é o melhor caminho para se chegar mais rapidamente a compreender os fatos existenciais mais importantes, para que se possa afastar o cálice das amarguras.
Evidentemente, só o conhecimento teórico não será suficiente para a renovação dos valores, em função do melhoramento do caráter. Mas, sem ele, não se poderá conceber como justas as leis de Deus, nem como verdadeiros os mandamentos de Jesus.
Eis que estamos repetindo noções muito elementares, quando, nas últimas mensagens, dedicamos muitos raciocínios para a explicitação dos meandros dos conhecimentos, tornando muito claro que as coisas espirituais não são simplórias nem de fácil percepção e assimilação. Mas era preciso trazer palavra mais esperançosa para os simples, para os humildes, para os que sofrem as vicissitudes cármicas, sem entendimento da extensão de suas responsabilidades. Repetindo o que dissemos na mensagem, mesmo acreditando que todos saibam reconhecer os dizeres do Sermão da Montanha, não será demais incentivar a releitura do texto bíblico, para bem se aquilatar da força magnetizadora das palavras de Jesus e para se receber um verdadeiro banho de sua esplendorosa luz.
Queiram, portanto, amigos, aceitar este real pedido de desculpas por estarmos tão intensamente reiterando a rememoração dos deveres. Talvez façamo-lo por necessidade própria, já que a nossa inteligência está em constante êxtase pelas profundas dissertações que nos são ministradas pelos orientadores, das quais trazemos pálidas notícias em nossos escritos.
Como nos sentiríamos bem, se soubéssemos que nosso trabalho está repercutindo em algumas mentes, da mesma forma que recebemos os conselhos e orientações dos mestres! Que esta etapa de nossa comunicação se constitua em mero degrauzinho a se colocar na escada de suas existências, para que todos possamos galgar pontos mais elevados no caminho da perfeição!
Realizemos suave concentração mental e elevemos os pensamentos e sentimentos ao Criador, oferecendo-lhe nosso coração contrito, na esperança de fazermos por merecer suas bênçãos de amor! Assim seja!







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MORTES ACIDENTAIS





O conceito de morte acidental entre os encarnados difere visceralmente daquele corrente entre os espíritos dotados de alguma luz. Se, para os mortais, a morte advém casualmente, quando menos se espera, como resultado das fulminantes ações das intempéries ou da violência entre litigantes, mesmo que a guerra se declare tão-só no âmbito do louco trânsito das cidades e rodovias, para os desencarnados, a morte é simplesmente o resultado da passagem de um para outro plano, em razão de acontecimentos puramente naturais. Entretanto, casos existem em que os orientadores ou espíritos guardiães decidem, muitas vezes sem o de acordo dos interessados, pela supressão dos orientandos da face da Terra por motivos ponderáveis, os quais só os seres altamente responsáveis pela assistência têm o poder de evocar, para o efeito do transporte fora de prazo. Estes são, verdadeiramente, os trespasses inesperados, embora, freqüentemente, haja indícios de que o transtorno esteja prestes a ocorrer, mediante certo padrão de procedimento do encarnado, inteiramente alheio ao propugnado pela equipe de apoio espiritual.
Que este discurso, contudo, não se torne em percalço sério para a compreensão das antecipações aparentes, pois pode estar acontecendo que os organismos tenham recebido quantidade limitada de energia, segundo a necessidade de permanência dos seres no globo terrestre. Desse modo, muitos retornam ao plano da espiritualidade muito cedo, apesar de não terem cumprido nem a mínima parte da peregrinação normal para quem perpassa por todas as fases do crescimento e degenerescência biológica.
Sabemos que afirmamos acima (ver Perigos ) que todos os humanos deveriam percorrer todos os itens da encarnação tida como completa. Isto ainda o dizemos, mesmo relativamente àqueles que vêm estigmatizados por deficiências intransponíveis, uma vez que os acidentes também podem incidir ao contrário, ou seja, o planejamento das forças deveria prever, por exemplo, uma vida de vinte anos e, de súbito, há alguma forte razão para que o sujeito permaneça até a velhice, de sorte que não se realiza, conforme a prognose, o desenlace, no momento acordado. Casos deste tipo, apenas para lembrar, se encontram junto aos portadores das moléstias crônicas que seguram presos aos leitos muitos sofredores, por largos anos, sem que haja a falência de nenhum órgão essencial, mantendo-se a chama da vida acesa.
Assim, há mães que choram enlutadas por filhos que se desprenderam da matéria em tenra idade, quando deveriam saber, pelo espectro da saúde da criança, que não iriam ultrapassar determinado limite. Outras buscam conformar-se com a perda de criaturas vítimas de atropelamento, pensando que foi da vontade de Deus que tal sucedesse, sem terem, contudo, para a reflexão, qualquer meio de identificar os motivos do trespasse antecipado.
Será que estamos propondo que a vontade de Deus não tem muito que ver com tais fatos? Pois é exatamente assim. O que Deus propôs foram as leis, que se cumprem independentemente da decisão das criaturas. A partir daí, os seres procuram fazer valer o benefício do livre-arbítrio, de forma que concretizam soberanamente suas deliberações, ainda que isso venha a implicar na anulação da manifesta vontade de outrem.
Quando uma pessoa comete homicídio, não estará obstruindo que a vítima prossiga exercendo o seu direito ao livre-arbítrio? Quando o pai determina ao filho que vá deitar, contrariando desejo expresso do petiz, não estará provocando choque de opiniões, estabelecendo espécie de hierarquia da vontade? Pois os orientadores espirituais dos encarnados são seres que estudaram muito a respeito de suas atribuições de socorristas, de forma que se sentem absolutamente confiantes ao aplicarem as leis da natureza em favor do encaminhamento dos pupilos pela senda do Senhor, ainda que haja profundos abalos e terríveis contrariedades, havendo, neste momento, que se respeitar o arbítrio dos assistidos, o que irá acarretar-lhes, indefectivelmente, sérios transtornos e acrescentamento de débitos e, portanto, da necessidade de resgate.
Como fazer para se evitarem os acontecimentos trágicos? Há uma única solução plausível: não considerar funesto nenhum fato, eliminando os sentimentos de frustração e de revolta, assentando que o melhor é deixar tudo nas mãos de Deus (mesmo que se tenha a convicção de que nem sempre as aparentes desditas sejam o resultado de algo planejado pelos anjos da guarda), e acatar o destino e, conseqüentemente, a dor, o sofrimento e o luto, como forças plenas de mistério, mas capazes de se constituírem em pontos de apoio para que consigamos alavancar o nosso progresso moral e espiritual.
Estaremos pleiteando que se chegue à perfeição de se receberem as notícias, sem lágrimas e sem tremores aflitivos, sem angústia e sem sofrimentos?
Imaginemos receber um golpe na cabeça. Será justo que desmaiemos. Pois, se as respostas orgânicas são incontroláveis, da mesma maneira nos ressentimos quanto aos desastres morais, o que é plenamente natural. Assim, respondendo à questão, os encarnados que conseguirem aceitar a dor dos companheiros, como necessária à evolução espiritual deles, irão compor-se equilibradamente, não agindo de modo a demonstrar qualquer indício de desaprovação da aplicação das leis superiores do Pai. Contudo, se a nossa formação não tendeu ainda para a perfeição, é compreensível que fiquemos magoados pela perda dos entes queridos e que sintamos, conquanto antecipadamente, a angústia da saudade que se prenuncia inexorável. Isto é absolutamente natural.
Não precisaríamos dizer, pois é do conhecimento de todos, que o melhor remédio para a sensação de vazio que se nos apodera da mente e do coração é a prece dirigida ao Pai, requisitando-lhe as bênçãos da consolação e da compreensão. Se nosso autodomínio não for acentuado, aí a ajuda dos companheiros na carne é fundamental, para que ultrapassemos os primeiros tempos da dolorosa separação. Caso tais amigos tenham formação espírita ou extrema confiança nos poderes do Senhor, por certo nos inocularão fé e esperança, para que adquiramos o sentido da vida e da existência, com o intuito de conhecermos a verdade que se esconde sob os escombros dos dramas humanos.
Deixemo-nos estar nas mãos do Senhor!







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SOLAVANCOS





Temos comentado situações extremas de dor e de sofrimento em que se colocam os encarnados. No entanto, são relativamente poucos os que recebem os impactos mais fortes do destino, ficando a maior parte com meros solavancos esporádicos, males passageiros, sem seqüelas morais de vulto.
Como reagir ao que o vulgo chama de traumas?
Certamente, não iremos prescrever medidas grandemente diferentes daquelas preconizadas em relação aos que obtiveram da sorte apenas terríveis e pungentes dramas. É que o maior e o menor se eqüivalem, quando se trata de confiar plenamente na justiça divina. Ligeiros arranhões não deixam cicatrizes, nem cortes superficiais causam hemorragias. Assim, os que se deparam com pequenos problemas devem evitar submeter-se a tratamento intensivo, bastando ligeiros curativos, para a desinfecção de tais contusões.
Mas o fato de terem sido apaniguados, durante a vida, por um clima morno de felicidade, não deve ser atribuído aos azares do destino nem à proteção eficaz de protetores especialíssimos. Vamos dizer que, tendo todos os encarnados iguais estruturas orgânicas, talvez possa ter sido por mero acaso que muitos não tenham recebido impactos mais contundentes.
Vejam que estamos produzindo raciocínios perigosíssimos para os mais estouvados e afoitos concluírem que nada, então, estão a dever ao Criador ou aos guias e mentores espirituais ou ao anjo guardião. Escaparam ilesos, por força de se terem resguardado eficazmente e por saberem conduzir-se por entre os vícios e crimes, safando-se de cair nas tentações da gula, da ambição e demais pecados capitais.
Não seria de crer, porém, que a muitos seria dada tal oportunidade, já que, se todos estivessem em constante perigo de vida, não haveria quem pudesse socorrer? Assim, é absolutamente natural que haja afortunados para os trabalhos de assistência aos desgraçados, aos pesarosos, aos miseráveis. São aos que, por força de não apresentarem senões, se atribuem os deveres maiores do socorrismo fraterno. Nem haveria outra conclusão a que chegar, tendo em vista que os homens só sobrevivem por trazerem incrustado na personalidade o espírito gregário, componente imprescindível para que se possa considerar normal o ser humano.
Não há silogismo mais perfeito, mesmo porque chegar-se à conclusão contrária seria sobremodo inverossímil, a partir do momento em que se compreende que qualquer demonstração racional se dá para o efeito do relacionamento entre os viventes, não se podendo conjecturar sequer que alguém converse com as brisas do deserto ou com o farfalhar das florestas.
Eis, pois, evidenciado que os que sofrem só pequenos solavancos durante a peregrinação não estão isentos de trabalhos e de preocupações, pois deverão justificar a existência na carne com os sacrifícios da dedicação aos irmãos, conforme orientação expressa pelo Senhor na parábola do bom samaritano.
Temos, ainda, a considerar outro aspecto de fundamental importância para o desenvolvimento que estamos realizando sobre as pessoas que escapam das grandes tragédias da vida, qual seja, o de que a ninguém é dado fugir das agruras de um fim em agonia, momento em que aquele que deu de si para o próximo durante quarenta, cinqüenta ou mais anos, se transforma em carente de auxílio, nem que seja por um ano ou menos.
É importante tornar-se vítima das moléstias ou das tribulações, para onerar os que até então só receberam ajuda? Claro, pois é o instante em que se pode avaliar se as lições da doação e da percepção dos benefícios foi deveras aprendida de parte a aparte. Se houver fuga à benemerência ou rejeição do amparo, com certeza as pessoas deverão reingressar na carne para novas aventuras, quiçá até com os papéis trocados, pois a ninguém é dado conhecer o inteiro teor moral da consciência, havendo somente de se basear nas obras realizadas e no espírito com que o foram para reconhecer alguns poucos méritos. O mais fica imerso sob o aluvião das impressões fugidias do momento, que constrangem a consciência, impedindo integral discernimento de seu real valor. Isto é próprio da natureza do encarne e todos os que estão vivendo sobre a face do globo têm o mesmo ônus, de forma que, mesmo quando há a possibilidade da revelação por meio da palavra dos verdadeiros orientadores espirituais, ainda assim restam desconfianças de que nem tudo ficou esclarecido, já que os atributos da inteligência se obliteram violentamente, por força da densidade corpórea, que reduz a capacidade vibratória das energias mais sublimes de quem está avançado na luz, mas que persiste na Terra para completar missões de benemerência.
Por outro lado, é extremamente arriscado conjecturar, fundamentando-se nos poucos sofrimentos vivenciados, que estejamos na carne com as supra-referidas missões. Por isso é que fizemos questão de evidenciar que o pouco sofrer pode simplesmente representar injunções do acaso, sem outra significação mais profunda. O importante, afinal, é adquirir os conceitos da moral evangélica e aplicá-los, tornando-os inerentes à própria personalidade, como se lá sempre tivessem estado.
Vamos, então, orar com muito fervor, agradecendo a oportunidade de vida sem desespero, predispondo-nos ao encontro do irmão necessitado, para oferecer-lhe os préstimos de nosso amor.

Pai de infinita bondade, recebei os nossos agradecimentos por esta vida tranqüila e feliz, pelos familiares maravilhosos com quem convivemos e pela doce suavidade com que enfrentamos os pequenos problemas de toda hora. Sabemos, Pai, que, muitas vezes, titubeamos em enfatizar as nossas venturas, no receio de ferir, preconceituosamente, os amigos que por nós velam, oferecendo-nos o melhor de seu apoio. Entretanto, quando estivermos a pique de sucumbir à dor da desesperança, surpreendidos por algum mal superior à nossa capacidade de aceitação, estimulai-nos vigorosa reação, no sentido de permitirmos que os guias se manifestem com os fluidos revigorantes da personalidade, sem imaginarmos, jamais, estarmos agindo sem emoção, como se não estivéssemos sendo atingidos pelas lágrimas dos que nos rodeiam. Dai-nos, Pai, a coragem de enfrentar a Verdade, amesquinhando as pretensões e refugando as tentações. Que esta prece se evole a vós, como se fora o coração confrangido de quem se sente verdadeiramente vosso filho. Graças, Senhor!







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NAVEGANDO POR ÁGUAS TÚRGIDAS





Se o amigo consulente se ativer à leitura dos títulos dos diversos tópicos desta obra, certamente irá ter a impressão de que só tratamos de temas de agudo sofrimento. Mesmo o que acima ditamos pode parecer que introduz dissertação altamente moralizadora, para quantos estejam imersos em mares encapelados de vícios e de crimes. No entanto, não há temer que este desenvolvimento vá, de novo, incidir nas recomendações morais de caráter constrangedor. Vamos, através da figura das águas túrgidas, simplesmente referir-nos ao fato de que a vida, de qualquer ângulo sob o qual seja vista, tem a incômoda característica de ser agitada, pronta para engolir o pobre náufrago da dor e do desespero.
Se formos argüir os encarnados, encontraremos a maioria achando assaz insípida a navegação tranqüila, por mares sem ventanias e desassossegos. Muitos querem sofrer os impactos das aventuras fragorosas, cheias de perigos a serem enfrentados e vencidos. Chegar à velhice e ter-se a impressão de não ter vivido é sumamente desagradável, constituindo-se em sensação de enorme vazio, como se, de tudo o que transcorreu, nada revertesse em favor de lembranças emocionantes. Ancião interessante, para os jovens, é o que despende o tempo com narrativas maravilhosas de travessias arriscadas e educativas.
Quem chegar à velhice sem ter o que contar aos netos, irá ter de inventar, para substituir a falta de vivências por tremenda imaginação, quando um pouquinho daquela vibração perdida ainda se poderá recuperar, mesmo que à custa do sacrifício da verdade. Se às histórias se acrescentarem sábias e oportunas observações, de sorte que o narrado não tenha o sabor rançoso das rabugices, aí poderão os que estão prestes a se aventurar no etéreo arriscar-se a não toldarem os pensamentos de quantos estejam ao seu derredor.
Em outras palavras, o que estamos tentando deixar claramente expresso é a necessidade de estarmos preparados para os últimos instantes da peregrinação, ao lado dos seres que recebem os primeiros embalos da fantasia, carentes de palavras de incentivo e de moralidade superior, quer no sentido da dedicação integral aos estudos, tornando as horas destinadas ao saber o mais atrativas possível, quer no do trabalho enobrecedor, em função de total doação aos que se irmanarem para a realização dos objetivos do amor e do progresso.
Restar-nos-ia, agora, oferecer motivos para a reflexão a respeito da vida que os caros amigos leitores estão desdobrando, página a página, como se fora o romance rocambolesco mais intrigante, ou, suave e persistentemente, como as obras mais adocicadas do amor consumado perante a família e a sociedade, sem trancos sérios, sem embaraços e sem perturbações, como se fora cantilena feliz, na voz aprazível de moçoila casadoira.
Enfim, será que precisamos referir-nos aos tormentos do espírito e à severidade dos julgamentos, para delinearmos com precisão o que seja a turbulência das águas da vida? É evidente que isto não irá importar, senão a forma pela qual formos capazes de enfrentar os problemas, os dramas, as tragédias ou simplesmente os entraves e embates naturais do bulício social, sempre ao sabor do refregar das vontades e dos sentimentos.
Vamos resumir em um único dizer: estamos prontos para enfrentar o dia-a-dia como se partíssemos para terras desconhecidas, a bordo de nau não inteiramente segura, ou temos fortemente presas às mãos as rédeas de dócil parelha de animais bem nutridos, que nos conduzirão, com total serenidade, até o local em que desembarcaremos para o enfrentamento do desconhecido?
Sabemos que estamos exagerando na linguagem figurada, porque não desejamos tornar as expressões cruas demais, evitando fazer referência direta aos crimes e às paixões mais avassaladoras ou ao tédio renitente de quantos se espojam no marasmo das condições fictícias de passageiro bem-estar. Eis que, finalmente, ousamos declarar alguns aspectos do que caracterizamos como turbulência, tornando apto o discurso para inverter as condições da vida, ao se defrontarem os recém-desencarnados com o destino que os aguarda no etéreo.
Sendo assim, talvez os que conseguiram tornar colorida a vida, arriscando-se no jogo das decisões mais arrojadas, pois nem tudo que o Mestre propugnou se resume em favorecimento à paz e à imobilidade do triunfo, tenham, ao aportar na espiritualidade, a surpresa de receber tarefas sem grande brilho, mas de intensíssima responsabilidade, momento em que todos os seus argutos pensamentos deverão ser colocados a serviço do amor e da salvação do próximo. Ao contrário, quem não se atreveu, preferindo o ócio da mansuetude à agitação das dificuldades, talvez não venha a ser procurado pelos espíritos encarregados das tarefas do Senhor, dado que não teriam o que oferecer para a realização de qualquer trabalho de caráter socorrista.
Estes seriam internados em hospitais para a refacção dos elementos da moralidade perdida, ou remetidos diretamente para as trevas exteriores, caso em nada tenham melhorado o procedimento; aqueles seriam remetidos às escolas para o aprendizado de novos atributos espirituais, de molde a poderem integrar as equipes dos tarefeiros do Senhor.
Em suma, para não delongar mais o discurso, que estas palavras possam despertar, bem a tempo, os amáveis leitores que se julgarem em débito para com a vida, no sentido de terem firmado o princípio de só moverem alguma palha, se for para o proveito de algum benefício em causa própria.
É preciso esclarecer que utilizamos o dubitativo talvez e as formas condicionais dos verbos, pois poderá ocorrer de que as aventuras não sejam exatamente aquelas a que estejamos referindo-nos, ou seja, no interesse do cumprimento das diretrizes divinas e evangélicas, nem a calma aparente signifique ou insatisfação íntima, ou contentamento pelas condições inferiores de vida dos semelhantes. Não estamos falando a respeito das condições morais reais, senão das ideais, isto é, daqueles atrevimentos que se estipulam como os mais atraentes para tornar a ventura de viver mais feliz, em consonância com os objetivos maiores impostos à existência pelo Criador.
Se você é capaz de ir bem devagar, realizando todas as missões a que se determinou, em função do cumprimento das diretrizes que se estabeleceram para a vida, pode convictamente considerar que a sua navegação se dá sobre águas túrgidas, da mesma forma que aquele que se determinou arriscar-se, mas com a verdade na mão e o evangelho no coração. Realmente, será que o verdadeiro risco estará, justamente, com os que fizeram das virtudes seu catecismo e da benemerência seu ideal?
Responda-nos à questão todo aquele que julgar que não estejamos discorrendo com propriedade, para que possamos firmar o pensamento nos argumentos contrários, de forma a bem tornar claro na mente que poderíamos ter dado outro rumo a este desenvolvimento. Se, por outro lado, o bom amigo se deixar envolver pelas expressões que utilizamos, considerando até que fomos bastante leves no tratar de tema tão sério, agradando-se do texto, que nos informe peremptório, incapaz de sonegar as informações por receio de estar a ferir conceitos espíritas de recolhimento e contenção. Às vezes, é preciso deixar-se dominar pelo entusiasmo da pregação cristã, para que se possa sentir a verdadeira sensação de estarmos vivos, segundo a formação que obtivemos desde a criação, ou seja, como seres puríssimos a aguardar o momento de se jogar aos braços do Pai, que nos agasalhará em seu regaço de amor.
Entoemos hosanas de felicidade por sabermos que, qualquer tenha sido o bulício da travessia, chegaremos a salvo às terras da bem-aventurança!







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ESPELHO MÁGICO





Quantos não são os mortais que desejariam possuir um espelho em que pudessem fazer refletir sua real catadura moral, algo como que o reverso da medalha daquilo que representam na encarnação vigente, como se fosse possível subentender-se que a cada ser corresponde, no fundo da consciência, outro indivíduo bem mais inteligente, bem mais astucioso, bem mais perfeito, servindo a carne de invólucro destinado à sufocação das melhores qualidades inerentes a cada um!
Se fôssemos dar a entender aos amigos que têm tal pensamento que o espelho que desejam alteraria sobremaneira a verdade de sua personalidade, refletindo só a aspiração que se encerra na vontade mais íntima, talvez até se desiludissem das informações espiritistas, se não se voltassem especificamente contra os informantes, querendo ver neles o desserviço para a ordem evangélica de Jesus e não, propriamente, o retrato fiel de si mesmos. Iriam acusar-nos de obsessores e de falsificadores, tudo fazendo para descrer de nós e de nossas mensagens, por mais evidentes fossem os argumentos em pauta.
Na verdade, o espelho mágico existe na forma de reflexões subitâneas da consciência, toda vez que algo transparece, de dentro para fora, para denunciar que as atitudes não condizem com o nível da aspiração moral, que todos somos capazes de elaborar, mas que pouquíssimos executam. Por outro lado, a face da real personalidade apresentada aos olhos de quem deseja conhecer-se a si mesmo quase sempre não condiz com a idéia que cada qual faz de si, o que permite à maioria supor-se bem melhor encaminhada do que de fato está. Até criminosos perversos encerrados nas penitenciárias consideram-se bem menos perigosos do que a sociedade os vê, tanto que os encarcerou.
Ainda assim, existem seres que, no extremo oposto da opinião, sabem ver os deslizes e os verdadeiros pecados, opondo forte resistência aos pruridos de autopiedade que a consciência promove à vista de algumas benemerências, e remetem contra si mesmos os piores julgamentos, flagelando-se com as mais duras recriminações, obrigando-se a sacrifícios quase insuportáveis. Estes são os anacoretas e ermitães, que fogem dos compromissos sociais e se internam no deserto para a purgação das faltas que vêem dominar-lhes os pensamentos, de modo cada vez mais absorvente e contumaz. Em lugar de se dedicarem ao próximo com amor, para aprender a ver nas deficiências humanas algo de sua natureza imperfeita, perdoando-se por não terem respeitado os padrões estabelecidos para o procedimento, ainda mais acrescentam de culpa ao passivo das faltas, pois dia virá em que se compenetrarão de que o isolamento que se deram só significou o incremento de novos débitos, cada vez mais difíceis de resgatar.
Mas não precisamos ir tão longe para caracterizar as personagens que se distanciam do convívio da humanidade. Basta volver o olhar para a multidão, para perceber que grassa o egoísmo, que nada mais é do que o desejo de se alhear dos problemas comuns para se chafurdar nas intenções do progresso material, completamente esquecidos de que a ninguém se perdoará o fato de fugir dos deveres cármicos e da aprendizagem evangélica.
Eis que estamos, sub-repticiamente, ajudando os amigos a formarem o espelho mágico que refletirá, não o desejo, a aspiração, o enlevo do favorecimento de si mesmo, mas a própria visão da realidade psíquica, muito mais próxima dos atos realizados e dos pensamentos correntes do que imaginam. Eis que, aos poucos, vamos deixando o retrato de corpo e alma bem definido, como nas policromias fotográficas da moderna tecnologia.
Mas não estamos demonstrando qualquer envolvimento pessoal quanto à formulação de julgamentos. Não nos cabe acusar nem defender ninguém; cabe-nos ajudar a corrigir os traços desalinhados, influindo positivamente no sentido da meditação e da decisão, em favor do acatamento das diretrizes evangélicas. Nada mais. Se, por acaso, alguma palavra, inadvertidamente, tiver sido emitida em descompasso com o que estamos asseverando, queiram os bons amigos perdoar-nos o despautério, inferindo, a partir daí, que nem sempre o que se diz expressa, com segurança, a convicção que se formou na consciência.
Fiquemos por aqui nestas rápidas apreciações, sabendo que nem tudo dissemos nem teríamos condições de dizer, já que, para tanto, necessitaríamos de todo o tempo do mundo, uma vez que nada mais cediço do que o terreno das perquirições psicológicas. Propriamente, poder-se-ia afirmar que, para cada indivíduo, existe um tipo de reação emocional, ainda mais quando sua formação de caráter, na presente encarnação, se dá ao influxo das influências das estruturas sociais mais disparatadas. Fiquemos por aqui também porque sabemos que a mais não nos atreveríamos, uma vez que não conhecemos as medidas de cada leitor, de forma que o que acrescentássemos poderia recair na antipatia que as palavras de desencorajamento soem comportar, quando se referem a planos excessivamente quiméricos, como são os que se reportam a sucessos de extrema ventura no plano da espiritualidade, sem que se sustentem na realidade evidente das fragilidades conjunturais da atual predisposição espiritual. Fiquemos por aqui, ainda, porque não será através deste meio que imprimiremos, a cada um de per si, a necessidade da reforma, no campo da moralidade e da conceituação doutrinal, favorecendo integral retomada dos princípios reencarnacionistas. Fiquemos por aqui, finalmente, porque achamos que é chegada a hora de cada qual estar imbuído da necessidade de exame circunstanciado da maneira de ser, aspirando a ver a mensagem chegar ao fim, para elevar comovida prece ao Senhor, no sentido de se fazer pequenino em seu regaço, para possibilitar aos guias que se aproximem, para a influenciação energético-fluídica capaz de estabelecer os vínculos entre os planos, para melhor compreensão da verdade de cada um.
Queridos amigos, não nos queiram mal por estarmos tão insistentemente reiterando as noções da necessidade do trabalho e do estudo, confundindo-as propositalmente num só ideário de vida, como se tudo pudesse resumir-se nestes momentos de enlevo e de mistério, como se houvesse realmente um espelho mágico capaz de refletir o etéreo, com a imagem sublime do bem e do amor. Deixemo-nos embalar pelos ideais maiores de Jesus, mas não nos esqueçamos jamais de que só terão valor se colocados em prática em nossa luta diária.
Fiquemos todos nas mãos de Deus!







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DESPEDIDAS





Costumam os encarnados não perceber quando estão despedindo-se para sempre dos companheiros de existência, em situações especialíssimas, como no caso de mudança de residência, de casamento, de término do serviço militar etc. São despedidas, às vezes alegres, outras tristes, mas todas em condições de serem inutilizadas pela correspondência, que se poderá manter ativada, e pelos reencontros felizes.
Existem outras situações mais sutis de despedidas que não se esperam definitivas e que, no entanto, acabam por redundar na última manifestação de apreço, qual seja quando a pessoa vai viajar e sofre fatal acidente.
Mesmo no caso da morte, para os espiritistas convictos, existe ampla possibilidade de aproximação, quer pela prece amorável, quer pela evocação mediúnica, momentos em que se restabelecem os vínculos da fraternidade.
Nós mesmos, ao nos despedirmos, iremos permanecer em contacto com os que tiverem a disposição de receber-nos, uma vez que não hesitaremos em atender aos justos pedidos de esclarecimentos, não tanto pelo descortino do grupo, mas pela possibilidade de indagar dos mestres as melhores soluções para os problemas levantados.
Na literatura espírita, repete-se o conceito de que não se devem invocar os amigos da espiritualidade, por qualquer tema de fácil resolução pelos encarnados. Nós concordamos com isto, mas explicitamos que, às vezes, podem ocorrer desejos de elucidação de assuntos menores, de pouca importância, estando em jogo, na verdade, algum sentimento de insegurança quanto à doutrina, o que a dúvida manifestada não esclarece.
Sendo assim, em havendo sinceridade e benquerença entre os indivíduos, jamais nos furtaremos a atender àqueles amigos que, um dia, mais tarde, irão encontrar-se conosco no etéreo, para se integrarem à nossa equipe, momento em que festejaremos efusivamente o relacionamento que não se perdeu.
Mas não vamos estender-nos demasiado a respeito de tão fáceis tópicos do espiritismo. Vamos, sim, enfatizar a boa vontade como fator essencial para a continuidade do útil congraçamento que se encerrará fisicamente ao término da leitura. Havendo sério compromisso de nossa parte, esperamos receber dos amigos outro tanto, para que possamos dar curso a uma amizade que, aparentemente, se conduz unilateralmente. Como fazem os autores interessados em que os leitores lhes orientem as próximas publicações, também nós estamos deixando o nosso endereço para contacto.
Ajamos por amor do Cristo e teremos sempre o amparo das forças da luz.







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DEVERES NÃO CUMPRIDOS





Durante os últimos anos de vida, costumam os encarnados ficar atentos para os atos que imaginam ter ficado para trás, impossíveis de se resgatarem perante o destino. Dão-se por satisfeitos quando percebem que muitos acontecimentos vão ficar sem retorno, uma vez que os seres aos quais corresponderiam já não mais existem na face da Terra.
Entretanto, é bom que se esclareçam quanto aos débitos passarem para o outro plano existencial, pois poderão até prevaricar sobre as dívidas não pagas, considerando-se livres da cobrança. Assim, quem não conseguiu restabelecer os vínculos com os desafetos deve ficar atento para os reencontros inoportunos, até mesmo a partir da presente encarnação, uma vez que os seres estão livres no etéreo para azucrinarem a paciência dos que se considerarem isentos de maiores responsabilidades.
Não vamos argüir os leitores a respeito de suas condições de vida. Cada um deve saber exatamente o que fez e o que deverá ainda providenciar para alívio dos compromissos cármicos adquiridos. Não sabemos até que ponto existe compenetração verdadeira dos atributos espirituais para cada amigo, mas devemos advertir para o fato de que tudo que venham a concretizar em favor dos antigos desafetos, quer na forma de vibrações positivas, quer na assistência aos familiares encarnados, quer na das preces intercessoras, será oportuno para o restabelecimento das afeições rompidas ou para a criação de laços de amizade onde havia carência de afeto. Não vamos, também, recriminar os que estão fazendo prevalecer a condição do distanciamento, mesmo porque os fatos mais próximos podem estar exercendo forte pressão psicológica, de sorte a não propiciar meios para o alívio das dívidas antigas. Mas, assim que se dê pequena brecha que seja no âmbito das realizações atuais, que se faça profunda meditação a respeito dos bens em falta, para a aquisição deles, no sentido de serem colocados à disposição de todos os seres em conjugação. Não pensemos que o que iremos conseguir e ceder venha a fazer-nos falta. Absolutamente não é assim que se passa no campo da espiritualidade. Tudo o que, sacrificadamente, houvermos conseguido e oferecido aos irmãos, nos haverá de sobejar em amor da Divindade para conosco, sempre no sentido de que novas oportunidades de aproximação nos serão estimuladas, a ponto de, um dia, recebermos a retribuição dos seres agora atendidos.
Não vamos considerar, pois, os meios disponíveis e em transformação, mas os fins capitais do amor e da fraternidade, uma vez que tudo se põe para todos, conforme a lídima prescrição da lei.
Somos de parecer que os homens não estão completamente preparados para o entendimento, não das palavras, mas das idéias que se contêm nas mensagens, de forma que tememos que a maior parte das atividades requeridas por nós fique como promessa íntima da consciência, sem real repercussão no campo da ação. Não faz mal, contudo, se, pelo menos, tivermos acesso à mente de muitos companheiros encarnados.
Para isso, vamos insistir em que os conjuntos das mensagens se enfeixem em livros, para serem oferecidos aos que trabalham nos centros espíritas. Não sabemos exatamente como realizar tal processo de divulgação, mas não queremos o escrevente, ao final dos dias, às voltas com a sensação de que estará deixando para trás importante dever mediúnico. O mais que podemos indicar é o fato de que, com certeza, alguma coisa se conseguirá com esse objetivo, já que os amigos da Escolinha irão alinhar-se ao lado do irmãozinho, para a finalidade.
Como somos tão-só pequenos porta-vozes, queiram ver, nestas palavras, apenas a manifestação de grupo desejoso de exemplificar o tema para o escrevente e não, definitivamente, entender que somos os que trazem as ordens das esferas administrativas.
Vamos encerrar a curta tarde de ditados, oferecendo os nossos préstimos para quantos queiram divisar no horizonte da vida algum ponto brilhante, para o qual dirigir os passos, uma vez que a sombra das culpas sói obscurecer a vista.
Mais tarde, quando da ocasião do reingresso no campo espiritual, esperamos estar presentes para ajudar os amigos a retomar seus ritmos existenciais, acrescidos os acervos de novas qualidades, despojados os vícios de alguns tópicos importantes, para que a caminhada se dê mais livre e mais esperançosa.
Aguardemos ainda que os mestres confirmem as nossas palavras, trazendo-nos as luzes de seus conhecimentos, de forma a amparar a todos, estabelecendo, para os encarnados, diretrizes mais seguras do que as nossas e, para os desencarnados, programações de assistência espiritual bem definidas, para que consigamos todos crescer em méritos.
Saibamos ater-nos à rogativa sincera e pungente, unindo-nos para a prece dominical, em contrição absoluta:
Pai nosso, que estais...







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DEFININDO POSIÇÕES





Sempre que temos o privilégio de trazer estas comunicações de muito amor e benemerência, segundo o parecer dos encarnados habituados à leitura das mensagens espirituais, vemos que os amigos as recebem com a mais variada disposição, havendo quem se deixe envolver sentimentalmente pela euforia da comprovação mediúnica da realidade do plano da espiritualidade, ou os que se juntam para a discussão racional de todos os aspectos de cada pequenino tópico, na intenção clara de justificar doutrinariamente as assertivas ou a refugá-las consentaneamente com os regulamentos kardecistas. Não vemos muita diferença entre as duas posturas, apenas gostaríamos que os primeiros não estivessem tão à vontade diante das ameaças de mistificação, nem os últimos tão frios, a ponto de se esquecerem dos ganhos que adviriam de aceitação mais emocional, de forma a se deixarem penetrar das vibrações carinhosas que ficam de cada manifestação.
Gostaríamos, também, de saber qual a colocação, nesse extenso rol de atitudes, de cada amigo leitor, para possível contacto da equipe, em proveito de ambas as partes. Se soubermos bem definir o nosso anseio diante das referências imateriais, iremos descodificar as informações do inconsciente, possibilitando aos irmãos do etéreo melhor aproximação para a influenciação que se requer. Assim, é sempre bom que os amigos tenham presentes na memória os diversos tópicos em que sintam as maiores dificuldades, seja para a compreensão, seja na aplicação.
Vejamos exemplo bastante claro.
Outro dia, estivemos em casa de um dos amigos que habitualmente mantêm contacto com o grupo, desde a última vez que estabelecemos conversação extracorpórea, e verificamos que tinha ele, em estado de vigília, muita dificuldade em aceitar a participação em suas decisões de um corpo de espíritos amigos, achando que bastava que se tivesse compenetrado das responsabilidades para saber escolher a melhor resposta para cada estímulo de vida. Foi ótimo que tivesse ocorrido a visita, pois, na palestra seguinte, pudemos convencê-lo de que cada amigo tinha igualmente o livre-arbítrio respeitado, embora todos pautassem os procedimentos pelas normas da turma, deixando para mais tarde avaliar o que quedou mais na mão do grupo do que na sua, para a definição da melhor postura diante dos problemas similares. Aprendemos a manejar o timão; agora teremos de saber ler as cartas de navegação, para dirigir com segurança o barco para o porto seguro da bem-aventurança.
Tudo parece demasiado fácil, quando todas as coisas vão acontecendo sob o controle do timoneiro. Bastará, entretanto, que se alterem as condições atmosféricas, para surgirem os problemas, causando a necessidade de deliberação mais apropriada, a fim de que não se percam os impulsos até então tidos como os mais perfeitos, para o enfrentamento das vicissitudes da vida.
Sendo assim, vamos ter o tino de bem avaliarmos a necessidade da ajuda externa, pois pode estar ocorrendo que também os amigos do espaço espiritual estejam precisando de uma mãozinha dos encarnados, para se ajustarem em suas carreiras socorristas. Mesmo os mestres experimentados nas labutas dolorosíssimas da salvação dos que se acostumaram em vida de desregramentos sentem, freqüentemente, a necessidade de confirmação de suas atitudes junto aos encarnados, dadas as misteriosas e intrincadas condições que cada ser humano apresenta, já que ninguém é a cópia exata de outrem, quaisquer sejam as circunstâncias da vida. Pode até parecer que pessoas de mesmo sangue, gêmeos univitelinos, criados juntos em ambiente sempre uniforme, tenham padrões de comportamento semelhantes. É puro engano. Dada a diferenciação das prévias condições, ou seja, uma vez que as vivências anteriores ao encarne são díspares, as reações carnais aos mesmos estímulos podem apresentar-se bastante diferentes, podendo ser um o guardião do outro, em determinados assuntos, invertendo-se a posição, em outros. Dessa maneira, criam-se atitudes de defesa mútua, embora as condições existenciais na carne sejam as mesmas.
Mas não vamos perder-nos na explicação do exemplo. Se serviu para que deixássemos claro o pensamento segundo o qual cada indivíduo apresenta conjunto próprio de reações, estaremos satisfeitos. Por isso, estamos afirmando que os mentores também precisam conhecer as reações íntimas dos assistidos, para poderem agir em consonância com as diretrizes emanadas dos planos superiores, tendo em vista a formulação da melhor solução evangélica para cada problema.
Vamos, portanto, estimular os amigos para que percebam, cada vez mais claramente, que estão sendo requisitados pelas forças da espiritualidade, para a manifestação dos mais sinceros sentimentos relativamente aos dizeres das comunicações mediúnicas, para o devido registro dos escritores, que se transformarão nos amigos assistentes de cada momento, sempre consoante a vontade expressa de cada qual.
Desse modo, pensamos ter realizado a nossa parte junto aos encarnados, pretendendo, com as comunicações, fazê-los acreditar em que terão muito mais sucesso na vida, tomando-a em suas facetas espirituais, se se deixarem influenciar pelas palavras dos guias, as quais poderão ser ouvidas na forma de conselhos íntimos, de acordo com os diversos alvitres que se podem adotar diante de cada circunstância da vida.
Para que tudo venha a dar certo, definitivamente, vamos repetir a necessidade de se pautarem todos os atos pelos mandamentos de Jesus nos Evangelhos, de acordo ainda com as leis de Deus consignadas no decálogo mosaico.
Outro dia estávamos meditando a respeito dessas leis, em confronto com as atitudes dos humanos que se especializam em burlar as leis civis. Achávamos que, se todos criassem, perante as leis de Deus, o mesmo tipo de couraça impermeável à influenciação dos tópicos de resguardo dos bens comuns, então não compreenderiam absolutamente nada do que estamos, desde há algum tempo, transmitindo da parte dos mentores.
E sabem como foi que começamos a meditação? Por uma reflexão bastante singela do escrevente, ao momento em que se dispunha a conversar com a esposa sobre os assuntos da espiritualidade de interesse dos encarnados, para melhorarem o desempenho moral e espiritual.
Para encerrar, devemos dizer que tudo o que for decidido no âmbito da moralidade, tendendo, naturalmente, ao aperfeiçoamento, será estímulo assaz forte para atrair a benignidade dos protetores, que se sentirão com forças para compelirem os obsessores ao afastamento, quando não ao arrependimento e à compunção.
Voltaremos ainda ao tema.
Fiquemos todos nas mãos amorosas do Pai.







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DÚVIDAS E CERTEZAS





Muitos espíritas se compenetram de seus conhecimentos e a partir daí passam a explorar os meandros doutrinários, levantando ampla série de problemas, para os quais ora têm respostas prontas e claras, ora só dúvidas e desconfianças.
O normal é que todas as pessoas passem por dias assim, de forma a irem paulatinamente crescendo, chegando ao ponto de não mais excogitarem de problemas insolúveis, adquirindo só certezas. Mas, para se chegar a tal apogeu filosófico-doutrinário, há que muito caminhar-se, muito debater-se, muito escorar-se nos auxílios dos irmãos da espiritualidade.
Não estamos querendo trazer mais pedras para colocar no caminho dos irmãos, mas a verdade é que não há ser humano na Terra que tenha todas as assertivas fundamentadas nos conhecimentos da espiritualidade superior. Não há luz suficiente para aclarar todos os aspectos dos conhecimentos, mesmo porque, nesta esfera de provas e de dores, não existe possibilidade de se chegar a resultados tão positivos, principalmente pela falta quase absoluta de condições, dadas as pressões exageradamente fortes que se exercem sobre a pobre mentalidade dos encarnados e dos que estão ainda nas vascas dos ódios, dos vícios e dos crimes.
Sem a devida purificação moral, sem a aquisição de todas as virtudes evangélicas, sem o cumprimento de todos os compromissos adquiridos com os semelhantes, não haverá como avançar rumo à perfeição dos raciocínios impolutos, das conclusões soberanas, da luz, enfim, dos conhecimentos supremos.
Como estarão os amigos recebendo esta pobre mensagem? Por certo, deverão estar pensando que melhor do que isso seriam bem capazes de fazer, dadas as condições privilegiadíssimas de que gozamos junto ao educandário espiritual. Mas a verdade é que não somos tão adiantados assim, nem pretendemos alistar-nos junto às hostes dos que adquiriram todos os méritos no âmbito das possibilidades de realização deste orbe, mesmo que se considerarem tão só as plagas mais próximas do planeta, onde deambulam os que têm um pouco mais de viço espiritual.
Imaginem, então, a pobreza dos que se debatem nas trevas exteriores, pejados de culpas, sem conhecer direito o que devem fazer para restaurarem as possibilidades de crescimento, uma vez que sequer conseguem divisar o amor como norma divina a estabelecer as diretrizes mais eficazes para a recuperação, pelo menos, das oportunidades perdidas na crosta. São tais seres tão inferiores que nem sequer conseguiriam obter qualquer informação útil desta seqüência de mensagens.
Do mesmo modo, existem, encarnados, muitos outros seres de iguais condições morais, intelectuais ou espirituais, incapazes de perceber o mínimo valor de quantos expressos são deixados à consideração dos leitores.
— De que valem os esforços dos amigos da espiritualidade, perguntarão os encarnados, se são tão poucos os que têm condições de se aproveitarem das comunicações e, mesmo assim, não completamente, porque imersos em densidade corpórea assaz prejudicial para os pensamentos abstratos que se requerem de quem almeja considerar o plano espiritual como passível de ser investigado desde já?
Pelo menos alguns poucos que se atreverem a dedicar-se à leitura poderão ocupar as mentes com alguns informes de caráter menos material, esforçando-se por compenetrarem-se de algumas certezas, de forma a prosseguirem estudando em outras obras mais claras ou mais próximas de suas concepções da existência.
Queremos deixar firmemente enfatizado que os nossos dizeres não contêm grandes revelações, pois seríamos imensamente estultos se nos considerássemos em condições de promover manifestações originais, a ponto de se deixarem para trás as elucidações maiores dos espíritos de luz que propiciaram a Terceira Revelação, por força do trabalho emérito de Allan Kardec. Mas, se formos apaniguados pela atenção da leitura por bons amigos interessados em confrontar o que sabem com as instruções por nós transmitidas, pelo menos poderemos encaminhá-los de volta para a codificação, de forma a ali encontrarem tudo o que possa eventualmente representar dúvida.
Entretanto, pode ser que algum dos amigos esteja tão adiantado nos estudos que já tenha percorrido todas as obras de Kardec e mais ainda de outros informantes do plano espiritual, julgando-se completamente cônscio de todas os conhecimentos consignados na literatura espírita, almejando, com sua dedicação aos novos textos, obter outros aspectos da verdade ainda desconhecidos. Para tal amigo, diremos, por força da lealdade que devemos para com toda a humanidade, que suspenda aqui mesmo a leitura desta peça, pois não estamos habilitados a executar ponderações de caráter muito superior. O mais que podemos dizer a quem esteja em tão elevado patamar da escadaria do Espiritismo é que não se atemorize com o desconhecido, procurando estabelecer para si roteiro de meditações transcendentais, deixando-se envolver pelas energias advindas dos planos mais elevados, únicos que poderão trazer algo substancioso para tão altas pretensões. Ao mesmo tempo, que incentive o acréscimo da modéstia e da humildade, através de muito trabalho socorrista, no duplo sentido material e espiritual, pois todos somos irmãos perante o Senhor.
Como gostaríamos de ser aqueles que fornecerão os informes mais abrangentes e mais perfeitos! No entanto, cá estamos a sofrear os impulsos de grande valia, colocando barreiras mais próximas, impedindo que a visão do companheiro se estenda por horizontes mais largos. Que tal irmão tão acima de nossa capacidade de compreensão saiba, por sua vez, entender-nos a ignorância, perdoando-nos o atrevimento de termos vindo apresentar-nos para a comunicação de mero roteiro de atividades, para tão simples conquistas morais e espirituais.
Vejam os amigos que estamos flutuando entre os extremos da sabedoria, sem conseguir enfeitiçar a quem quer que seja, no sentido da adoção das normas evangélicas como eficaz processo de aproveitamento do encarne. Não estimem, contudo, que não saibamos o que estamos oferecendo nas dissertações aparentemente caóticas. Temos os objetivos já declarados e lutaremos, enquanto perdurar a nossa permanência junto a esta mesa, por perfazê-los, com a ajuda de Deus e o amparo dos mestres da Escolinha.
Seria de esperar-se, neste instante, que recapitulássemos os principais tópicos da pregação. Mas vamos deixar a tarefa para cada um dos amigos, crentes de que se portarão mui condignamente diante do serviço, mesmo porque, se bem entendemos a psique humana, é ufanoso saber consignar os ensinos aprendidos, principalmente quando tão singelos e tão poucos.

Eis que encerramos o grande círculo das apreciações. Se os amigos estiveram atentos para o desenvolvimento do plano, haverão de concordar conosco que voltamos ao início dos trabalhos, quando informávamos que preferíamos apontar os trabalhos que os socorristas realizam junto aos encarnados. Neste encerramento de atividades, parece que tornamos absolutamente claro que o mais que fizemos foi envidar esforços para promover a reflexão sobre os principais problemas que obstaculizam o progresso dos encarnados. O mais, prometemos ir respondendo à medida que formos requisitados.
Fiquem na graça de Deus!







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CONHECENDO O FUTURO





Um dos maiores desejos da humanidade é ficar sabendo antecipadamente o que se passará nos próximos decênios, para poder preparar-se para os eventos. Se houvesse segurança nos prenúncios mais graves, certamente o povo iria cair em sérios desmandos, a ponto de pôr por terra os ganhos mais ponderáveis da civilização. Sendo assim, é bom que haja quem, de tempos em tempos, venha com prognósticos de terríveis catástrofes, os quais colocam a maioria de orelha em pé, mas que redundam em nada, tendo em vista que a inspiração para as predições sói provir das zonas mais negras do Umbral.
Estamos fazendo referência ao tema principalmente porque os humanos desejam precaver-se de certos males previsíveis, somente pelo fato de serem despojados de perenidade, quedando à mercê das intempéries e do jogo de interesses dos mais poderosos, que não hesitam em determinar o enfraquecimento dos que já se vêem desprovidos de recursos para o custeio de sua manutenção e dos familiares.
Que bom seria se pudéssemos auxiliar no campo da matéria, do mesmo modo que somos capazes de fazê-lo no âmbito espiritual! Iríamos auxiliar os mais ricos a ficarem ainda mais felizes, com o aumento considerável das fortunas, caso dessem emprego a mais trabalhadores, distribuindo as tarefas de acordo com a necessidade da população. Configurar-se-ia o aprimoramento na área da saúde pública e o aperfeiçoamento educacional do grosso do povo, eliminando-se a ignorância, no interesse de maiores conhecimentos para aplicação imediata, em função do aparelhamento para o cumprimento dos dispositivos biológicos mais elementares, como sejam o da alimentação condigna, o da residência protetora, o do meio ambiente bem tratado. A produção inteligente dos ingredientes nutritivos necessários para o benefício celular favoreceria o crescimento e a manutenção dos elementos mentais, capazes de se tornarem na base sobre que se depositariam os conhecimentos de caráter prático e teórico. Assim, poderíamos incrementar positivamente os dados do espiritismo, uma vez que não haveria transtornos a serem contornados, privilegiando-se integralmente a compreensão, devido ao fato de que a inteligência se desenvolveria com naturalidade e os anseios de riqueza se limitariam enormemente a uns poucos indivíduos gananciosos, em virtude de viciação cármica.
Não vamos, contudo, trazer nós mesmos qualquer previsão disto ou daquilo. Para cada indivíduo, haveremos de solicitar que se empenhe na aquisição dos bens morais, através da ajuda possível que dedicar aos irmãos. Se os sonhos são permitidos, pois sempre haverá quem deseje que tudo na Terra venha a transformar-se para melhor, reavendo o povo o primitivo paraíso, também é perfeitamente razoável interpretar a realidade como por demais onerosa para a maioria, de forma que tudo o que se possa oferecer aos miseráveis terá como conseqüência enorme deslanche de bens, já que os benefícios soem correr em cascatas de favorecimentos.
Se fizermos mísera escola em local onde sobeja a ignorância, ou simples posto de atendimento médico onde grassa a moléstia, teremos dado considerável empurrão para que outras unidades venham a se instalar, por força dos bens produzidos pelas que, pioneiras, conduziram os pensamentos dos moradores para a possibilidade das conquistas socioeconômicas. Não é bem assim que acontece nas cidades, quando a população exige a instalação de creches, de postos de assistência ou de escolas? Não será por isso que os políticos têm de enfatizar, nos discursos, as promessas de atendimento desse tipo de reivindicações? Pois, então, não seria crível que, se os poderes espirituais pudessem organizar turmas de socorro físico, iriam destinar os esforços para a concretização desses sonhos humildes de atendimento prioritário, para depois cuidarem dos aspectos morais e filosóficos?
Portanto, bons amigos, aceitem a sugestão de planejamento das atividades e elaborem roteiro, para dar aos irmãos o conforto material que lhes proporcionará as condições mínimas de higiene, conforto e educação, para, em seguida, oferecer-lhes as doces consolações das teorias espiritistas. Melhor será se os caros leitores se encontrarem no número dos poderosos, no âmbito da política, da economia ou da inteligência. Quanto mais capazes os indivíduos que se deixarem envolver pelas teses espiritualistas ministradas do etéreo, maiores serão os bens que se aguardarão para futuro bem próximo.
Não será, então, lícito explorar o vezo divinatório, em favor do crescimento da fraternidade, da solidariedade e do conhecimento das leis e mandamentos divinos? Entretanto, havemos de compreender que a predição se fundamentou na evidência do progresso mental e espiritual de imensa série de seres bem dotados, quer no campo da boa vontade, quer no das finanças, quer no dos conhecimentos especializados.
Vejam que, em nenhum momento, estamos incentivando que se despoje o rico das posses, nem que faça distribuição delas pelos necessitados. O que estamos afirmando, repetimos enfaticamente, é que os ricos se tornarão ainda mais ricos, por se encherem da mais pura felicidade. Por outro lado, não estamos requerendo dos desprotegidos que tão-só bradem contra os poderosos, exigindo a recompensa pela sua condição de miserabilidade, mas estamos pleiteando que se ofereçam, sem hipocrisia, para o trabalho penoso da construção de civilização mais harmoniosa e mais justa. É do esforço, da dedicação e da inteligência dos homens que brotará o bem-estar coletivo e, por via de conseqüência, que se fará mais facilmente sobre a face da Terra o novo reino do Senhor.
Queremos agradecer a boa vontade do mediador pelo serviço desinteressado que vem prestando no campo da mediunidade. É desse mesmo desprendimento que estamos carentes nas demais áreas de atuação dos bons e dos justos, para que se concretizem as palavras proféticas dos espíritos de escol, quando previram para a humanidade a chegada de uma era de ouro, onde todos se confraternizarão no regozijo da maior ventura: a felicidade de mundo de absoluta paz e cooperação universais.
Será possível realização maior? Haverá quem deseje mais do que isso? Não será nesse orbe de amor muito mais fácil de se programarem vidas de absoluta coerência com os planos da encarnação? Não teremos aí o sucesso que nos atemoriza presentemente, mediante os desastres iminentes, tendo em vista a falência de nossa determinação em fazer vingar os programas ajustados para o encarne? Não somos agora tão solicitados pelo campo carnal, a ponto de nos fazermos diferentes de nossa realidade psíquica, para atender aos reclamos de necessidades meramente culturais, apreendidas diretamente da sociedade, sem que nos víssemos realmente estimulados para tais conquistas? Não é verdade que estamos perigosamente à deriva na navegação que empreendemos, sujeitando-nos aos verdugos sociais consubstanciados no desejo insopitável do aproveitamento indiscriminado de todas as sensações prazerosas, em detrimento evidente de muitas virtudes constantemente apontadas a nós pela consciência sempre vigilante? Em suma, não somos nós o joguete desta vida atribulada, que determina integralmente cada pequenino gesto, seja no sentido de nos apropriarmos dos bens materiais, seja no de desprestigiar os valores morais, apesar de sentirmos íntima aversão até por nossa personalidade?
Que se poderá predizer para o futuro espiritual de pós-túmulo, para o homem moderno cristalizado nesta civilização de fancarias tecnológicas? Que poderemos prever de bom ou de mau, para quem se acostumou aos pequenos furtos, aos crimes sutis, à maledicência irresponsável e ao descaso perante a miséria do irmão que se arrasta nas sarjetas da maldição social? Não seremos nós que nos atreveremos a dizer qualquer coisa nesse sentido. Vamos deixar para os bons amigos a elaboração de algumas predições fundamentadas nos dados que lhes estejam disponíveis, a partir das próprias experiências de vida.
Quanto a nós, não nos hão de faltar boa vontade e disposição para o auxílio oportuno. Olhando para os guias e mentores, sobeja-nos ainda outra previsão maravilhosa: jamais iremos perder-nos nos descaminhos da maldade, se respeitarmos integralmente as recomendações que emanam dos planos maiores da luz. Sejam a nossa experiência e a nossa fé excelentes mananciais de esperança, para que as nossas palavras sejam entendidas na justa medida em que estão comprometidas com o socorrismo fraterno. Que as nossas mensagens se transformem em dons suaves de amor, para que atraiam as bênçãos do Pai sobre todos nós.
Ergamos os pensamentos a Deus e saibamos pedir-lhe as virtudes que nos faltam, contrapondo a promessa do trabalho, do estudo e da dedicação ao irmão incapaz de igual discernimento.
Fiquemos nas mãos do Senhor!







27

CORINGAS





São bem conhecidos dos humanos os coringas, que se prestam para todos os afazeres. São assim chamados, na espiritualidade, os amigos de forte expressão moral que acorrem aos chamados dos suplicantes em perigo, onde quer se encontrem, principalmente se ameaçados por levas de desordeiros, como sói acontecer com freqüência, especialmente quando não se presta atenção aos atos agressivos contra os dispositivos da lei.
Não se trata de espíritos protetores, na acepção mais rigorosa do termo, pois não se dedicam a ninguém em particular. São como que plantonistas do socorro fraterno, sempre atentos para os balbucios do medo ou da insegurança.
Muitas vezes, tememos trazer aos encarnados certas informações, principalmente porque têm o hábito de adaptá-las ao rol de seus conhecimentos, de modo que são bem capazes de transformar os bons auxiliares dos serviços em entidades do candomblé ou de alguma outra seita de caráter esotérico.
Os amigos a quem estamos fazendo referência específica também não são os chamados duendes ou gnomos, que infestam a imaginação das criaturas afeitas a obter da natureza tudo o que lhe pedem, como seja saúde, dinheiro, amor e demais petrechos que costumam ornamentar o bom sucesso dos que se estimam de bem com os poderes e energias cósmicos.
Os irmãos que têm como atividade o socorro pronto estão aptos ao primeiro auxílio, quando desfiam as melhores preces em favor dos que se sentem acuados, dando-lhes alívio imediato aos problemas mais prementes. Na Terra, seriam os médicos que comparecem aos locais dos sinistros, para a prestação dos primeiros socorros. Assim que, entretanto, as equipes especializadas chegam, cedem a vez e partem para tarefas mais simples, no próprio campo atingido pela dor, ou vão atender a novos chamados, espertos e inteligentes, para impedirem que as criaturas desandem em lamúrias e acusações contraproducentes, de modo particular quando resolvem ferir os adversários em revide das provocações, terminando por ficar sob o domínio deles.
Neste caso especial, quase sempre falecem-lhes os poderes de recuperação das entidades vitimadas pelas próprias incúrias, perdendo-as para as forças do mal, que as carregam consigo para as trevas. Por isso, são mais eficazes quando se trata de auxiliar os encarnados, pois não há como os malfeitores executarem desprendimento fluídico, através de que possam carregar com o infeliz para o seu reino de horror.
Como reconhecer que se está sendo ajudado por seres tão magnânimos? Pelos efeitos imediatos que se sentem de sua participação, pois têm o dom de agir com presteza e com força, ativando os centros nervosos dos que se deixaram estimular em demasia, favorecendo-lhes as reações metabólicas para o falecimento das forças ou para o fortalecimento delas, dependendo do tipo de coação que estão a sofrer.
Em muitos casos, em lugar de atuarem junto às vítimas, são capazes de agir em relação aos agressores, caso os encarnados não estejam excessivamente obsidiados pelos comparsas do etéreo.
Assim, recomendamos que as pessoas que se vejam em situações aflitivas imediatamente emitam sinais de S.O.S. espiritual, por meio de rápidas preces rogativas de ajuda e de apoio. Serão atendidas pelos protetores familiares, sem dúvida alguma, mas estes, quando estão longe, em missão de outra natureza, sabem que, ao se achegarem aos pupilos, os encontrarão já reconfortados pelos amigos coringas.
Vamos ter de fazer referência agora a uma espécie de atitude invertida que gera extraordinário desconforto moral aos auxiliares da primeira hora, qual seja o pedido para a proteção de atos em descompasso com os ditames das leis de Deus. Muitas vezes, o teor das solicitações, cuja natureza vibratória é de fácil reconhecimento pelos que se acostumaram com os seres que as emitem, consegue iludir, no primeiro instante, os bons socorristas, de forma que deixam tarefas preciosas, como o estudo em horas livres, para o atendimento de falsos pedidos de ajuda. Aí a atividade que exercem se conduz pelo contrário do esperado pelos encarnados, de forma que estes sentem verdadeiro mal-estar pela transformação das tentativas de iludir os companheiros do etéreo, chegando as providências tomadas a gerar desmaios, dores de cabeça ou de estômago, pela freqüência energética aplicada em favor daqueles que não esperavam receber ajuda no campo da verdade.
Nem sempre, contudo, têm os mortais o discernimento de reconhecer que estão sendo auxiliados. Antes, regelam-se contra os efeitos pouco saudáveis das reações orgânicas, passando a agir acintosamente e despudoradamente, em insensato incremento dos perigosos arroubos iniciais da criminalidade. Aí mais sofrem, tornando-se crônicos os males, até que se inteirem de que a causa de todo o sofrimento está vinculada às atitudes pouco evangélicas que haviam consumado.
Como a finalidade do tratamento está intimamente presa à recuperação dos amigos, não se sentem os coringas, de forma alguma, culpados por qualquer conseqüência mais drástica que possa levar os atendidos, inclusive, ao abandono da carcaça corpórea para reingresso nos páramos espirituais. Mas tais decisões jamais ficam nas mãos dos amigos socorristas. São deliberações que envolvem todos os protetores familiares, embora tenham tido o primeiro impulso administrado pelos coringas.
Quanto à natureza benévola e amiga desses seres ainda não totalmente afeitos à disciplina rígida dos grupos formados nas instituições educativas, não se coloca em dúvida. Por isso, é útil tê-los por perto quando as intenções de aprimoramento moral fundamentarem os atos de toda hora. Jamais iremos recomendar que se fuja deles, contudo, antes de procurá-los, é bom avaliar, com precisão, se se está quite com os mandamentos e demais tópicos da lei, pois são rigorosíssimos na aplicação das diretrizes evangélicas, sem darem muita trela aos que persistem inoperantes ou até condescendentes com os males que afligem à humanidade.
Não iremos estimular as tentativas de sedução dos seres mais simples preconizadas por determinadas congregações de caráter religioso, pois, conforme já ressaltamos, tais atitudes são contraproducentes. Vamos, sim, incentivar a oração afetuosa, o pedido súplice de assistência, em casos dolorosos de sentimentos de desamparo ou de acidentes físicos.
Agora mesmo, quando estamos dissertando a respeito destes seres, muitos estão acompanhando os dizeres, buscando orientar a confecção da mensagem, para que possamos deixar claro o quanto de bons serviços poderão ser prestados por eles, caso os amigos encarnados não se atrevam a considerar-se superiores em astúcia ou malícia.
Pedem-nos para que recomendemos que a prece, no instante da vicissitude, seja endereçada diretamente ao Pai, pois é quando os requerentes menos se sentem afeitos à hipocrisia e ao dolo. Aí terão maior certeza de que o auxílio relevará os aspectos positivos, transformando a dor em serenidade, a aflição em paz, o desespero em luz.
Muito agradecemos a colaboração dos amiguinhos e deixamos convite para que se integrem na Escolinha de Evangelização, onde receberão toda a consideração que merecem, mediante programações orientadas para as necessidades que lhes sejam próprias.
Deixemo-nos estar nas suaves mãos de Jesus!




Comentário



Não queremos avançar demasiado nos conhecimentos específicos do que ocorre no plano da espiritualidade, com as diversas categorias de seres que, aos milhões, perpassam por todos os lados, atarefadíssimos ou em absoluto ócio, dependendo do grau evolutivo em que se encontrem.
Interessa-nos, sobremodo, deixar claro aos amigos que são inumeráveis os tipos espirituais que têm a missão de ajudar aos sofredores de todas as esferas, como também são os que vicejam para o mal, dadas as inúmeras conjugações de circunstâncias que pressionam as mentes para o revide, a desforra, a vingança, a desavença, o crime, em suma, para o desejo incontrolável de ver prevalecido o ponto de vista inquestionável de quem se considera invencível e supremamente poderoso.
Dessas duas formas de contacto extremas podem servir-se os humanos, dependendo, exclusivamente, de que o procedimento adotado seja tendente a favorecer a uma ou a outra. É claro que existem infinitas compleições espirituais, mas, a grosso modo, podemos falar que se dividem em duas grandes correntes: a dos que auxiliam e a dos que prejudicam.
Quando viemos trazer ao conhecimento dos irmãos a figura desses bondosos seres a quem resolvemos denominar de coringas, tantos são os atributos de que se servem para o atendimento dos sofredores, não pretendíamos senão enfatizar que, além dos protetores familiares, podem contar os que estiverem debatendo-se em dores com outros amigos dedicadíssimos. Nada mais.
É que nos ocorreu que os mensageiros da Escolinha costumam ficar restritos às lições das aulas, quando se esmeram por dar ênfase ao papel que todos exercemos relativamente aos parentes e amigos, esquecendo-se de que o socorrismo, na essência, prodigaliza auxílio, conforto e consolação a todos os necessitados, independentemente de categoria ou dos laços afetivos que os prendem entre si.
Pensamos que estes esclarecimentos tenham chegado em boa hora, quando poderia estar ocorrendo de que os amáveis leitores estivessem muito preocupados com tão insólitas apresentações. Resguardemo-nos de precipitar julgamentos, para não corrermos o risco de sermos injustos.







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BONS EXEMPLOS





Sempre que estivermos agindo, seja no campo espiritual, seja no material, coloquemos tento em que o resultado das ações, de forma drástica ou sutil, estará influenciando o procedimento de outras pessoas, mesmo que no simples ato de refletir a respeito de nossas condições, em função do que estivermos fazendo.
Vamos considerar o caso de um ser dotado de inimagináveis qualidades, perfeitíssimo em todos os sentidos, sempre disponível para o auxílio fraterno mais desinteressado, para o conselho amigo, para o conforto regenerador das esperanças e da fé.
Tal indivíduo, tendo envelhecido, acabou sob os cuidados de parentela descuidosa, esquecida do bem que lhe prodigalizou o venerando irmão, largando-o na rua da amargura, abandonando-o à própria sorte. Tanto fez pelos semelhantes; ficou na dependência da caridade pública.
Ao vê-lo na sarjeta, a estender esqueléticos braços para a súplica do bem que lhe dará um pouco mais de tempo na vida, teremos o pensamento de que possa estar ali, em andrajos, alguém de méritos tão grandes? Evidentemente, não será pelas exterioridades que saberemos bem caracterizar a personalidade do pedinte.
Entretanto, qualquer seja a atitude que tomemos, saberá ele definir, com extraordinária precisão, o porquê de estarmos reagindo pela forma que o fizemos e, em sendo superior, reconhecerá as causas e terá o remédio, caso a nossa atitude não se coadune com as normas evangélicas; ou agradecerá comovido, se perceber em nós entidades de superior discernimento moral, capaz de levá-lo para instituição de benemerência, para socorro oportuno.
Já estará o esperto leitor atinando com o resultado destas palavras. Se estiver pensando que qualquer indivíduo na sarjeta merece que lhe estendamos a mão, acertou em cheio, pois é o que se requer de quem está tão enfronhado nas leituras moralistas, que até estes textos inexpressivos vem acompanhando com interesse.
Eis que o bom exemplo não deve ser acompanhado tão-só por aqueles que têm o dom de reproduzi-los em seus atos, mas por todos os indivíduos, independentemente de sua postura perante a existência. Se quisermos atender aos ditames evangélicos, não há fugir do amparo precioso na hora do desconsolo, da dor, do sofrimento. Se quisermos evoluir espiritualmente, para podermos freqüentar outras esferas de vida mais adiantada, teremos de superar todas as deficiências de relacionamento que soem estabelecer-se intimamente na psique, durante os encarnes mal sucedidos. Se estivermos pretendendo suplantar todas as dificuldades relativas a este campo vibratório, haveremos de suspender todos os maus pensamentos e executar só boas ações.
Vejam que estamos categorizando os leitores da mesma forma que fizemos em relação aos espíritos no etéreo: cada qual está perfeitamente integrado a um sistema pessoal de conceitos e de valores, segundo os quais pensa e age. Para se ter a certeza de que o avanço no campo da espiritualidade está realizando-se no ritmo preconizado para a presente encarnação, será preciso considerar a soma dos benefícios aos necessitados, ou seja, o volume dos bons exemplos.
Somos equipe por demais experiente nesse setor, pois especializamo-nos em atender pessoas carentes de afeto, em desarmonia interior, necessitadas de amparo, para que não descaiam definitivamente através de atitudes que consignariam o oposto dos bons exemplos que recomendamos. Temos encontrado pessoas desesperadas, prontas para o crime contra os irmãos ou contra si mesmas, através do homicídio ou do suicídio. Nem sempre conseguimos afastá-las dos desideratos, porque se escoram em péssimos exemplos de indivíduos falidos, que adquirem mais essa dívida por não se terem dado conta da responsabilidade social ou humana dos atos.
Não vamos estender-nos também nestas considerações, pois são o que de mais encontradiço existe nas mensagens dos alunos da Escolinha. Todavia, vamos insistir em que os amigos se voltem para a análise da própria personalidade, buscando compreender as causas mais profundas de cada atitude, principalmente das que tiverem o condão de despertar a consciência, impregnando-a de dúvidas quanto ao verdadeiro caráter evangélico de que sejam portadoras. Em suma, para não aborrecer demasiado com fastidiosa repetição, que cada pequenino gesto se dê no intuito de se transformar em bom exemplo.

Eis que discorremos sobre tema obrigatório do curso, para o que rogamos dos leitores sua compreensão. Afinal de contas, ser disciplinado, atencioso, gentil e informativo faz parte da formação de quem almeja revigorar as esperanças de progresso dos irmãos.







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AVISOS OPORTUNOS





Deixamos, muitas vezes, de consignar bons pensamentos que nos ocorrem, por medo de estarmos dando vazão a intuições pueris, como se não fosse apropriado aos seres adultos tomar decisões só porque uma luzinha se acendeu no fundo da mente, muitas vezes sem caracterizar, de fato, o que se sustenta tão precariamente. Quase sempre, em tais circunstâncias, os avisos vêm diretamente dos amigos do etéreo, dos protetores familiares e de outros seres que almejam, ver-nos encaminhando-nos para as sendas do amor e da solidariedade.
Nós rejeitamos tão tênues influenciações, preferindo manter-nos encouraçados por decisões de plano, tomadas segundo roteiros preestabelecidos, elaborados a partir de preconceitos sociais. Ainda que preferíssemos atender à chamada interior, pode ser que sejamos tentados a voltar atrás, tendo em vista as reações contrárias das pessoas que estão ao derredor e que, calejadas, não ouvem qualquer informação espiritual. Assim, além das resistências próprias, existem as derivadas dos setores sociais, havendo um terceiro tipo: os informes em contrário dos obsessores ou dos espíritos que intentam sê-lo, cuja força é diretamente proporcional ao grau de envolvimento que mantemos com tais seres da penumbra moral.
Como considerarão estas mensagens os caros leitores? Irão, de pronto, juntá-las às que se suspeitam de rematada desfaçatez, ou estão tentados a introduzi-las na pasta das passíveis de crédito? Será que terão a coragem de analisá-las exatamente como são, ou seja, como meras tarefas escolares de grupo de alunos da Escolinha de Evangelização, ávidos por fazerem bons trabalhos, para ajudarem os honestos e os justos a recuperarem a confiança no plano da espiritualidade e a conquistarem mais simpatizantes para a doutrina espírita?
Cá estamos, de novo, promovendo aviso para a defesa dos que se encontram perigosamente numa linha de indecisão, sem que se resolvam a tomar a sensata deliberação de se integrarem em conjunto de elementos que já começaram os estudos doutrinários e os trabalhos de assistência espiritual e material.
Vamos organizar o tempo de forma a possibilitar enveredarmo-nos pelas sendas alegres das casas da fraternidade evangélica. Como estamos dirigindo-nos a quem teve acesso a esta espécie de leitura meio religiosa, meio profana, mas mediúnica e, por isso, proveniente de plano da realidade diferente do que se encontram os prezados leitores, acreditamos que, onde estejam os amigos, haverá a oportunidade de freqüentar alguma casa de tendência kardecista. Entretanto, se a leitura estiver dando-se em região onde nada se encontra parecido com centros espíritas, que os amigos se encham de coragem e comecem a praticar o bem junto aos companheiros de outras religiões ou seitas, oferecendo a sua força e os seus bens espirituais, para irem catequizando os mais próximos e maleáveis, ao mesmo tempo que jamais irão negar a palavra irmã do consolo ou o alimento precioso da recuperação.
Em suma, para tornar a palestra bem mais fácil de aceitar, tendo em vista a pobreza da argumentação, nunca deveremos faltar com nosso apoio aos carentes de ajuda, onde quer exerçamos o ministério do amor. Na caridade se encontra, definitivamente, a salvação. E no amor, a bem-aventurança.







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DERRADEIRA PRECE





Senhor, pensamos ter realizado as tarefas que nos foram determinadas. Não obstante, sabemos que, se nos tivéssemos dedicado com maior afinco, se tivéssemos sido melhores em tudo que fizemos, se estivéssemos mais adiantados moral e espiritualmente, por certo teríamos aproveitado de forma superior os ensinamentos dos mestres e proporcionado aos leitores textos mais atraentes e mais razoáveis. Perdoai-nos, Pai, a fraqueza e considerai-nos os esforços merecedores de alguma recompensa, pelo menos no sentido de recebermos outras atribuições no campo da benemerência mediúnica, conforme inspiração dos mentores da Escolinha de Evangelização. Para isso, enviai-lhes bênçãos de luz e de sabedoria, para que consigam esclarecer-nos na tenebrosa ignorância em que nos debatemos. Estendei, ainda, o vosso manto de proteção aos mortais, que foram o estímulo maior destes atrevimentos, favorecendo-lhes o entendimento das palavras de Jesus e dando-lhes o poder de decidir pela integração no campo da caridade e dos estudos doutrinários. Aceitai esta prece ao final deste opúsculo, o qual testemunha a nossa dedicação e o nosso trabalho, e abraçai-nos consoladoramente, mantendo-nos acesas as chamas da fogosidade messiânica. Muito obrigado, por tudo, Pai amantíssimo!







AO MÉDIUM





Se o trabalho direto no computador apresenta inúmeras vantagens sobre o manuscrito, tem também uma dificuldade quase intransponível: é que as palavras de estímulo ao médium vão escasseando, de molde a não possibilitar-lhe, de forma concreta, palpável, tangencial, corresponder-se com a turma que está ocupada com as transmissões.
Para as próximas equipes, não se esqueça de oferecer espaço (tempo), para que deixem registrados os temores, as euforias, as hesitações, os acidentes e demais ocorrências durante os trabalhos de mediunização.
Quanto a nós, estamos por demais felizes por completarmos as tarefas de forma bastante plausível para as deficiências que apresentamos. Foi preciso muita coragem para apresentarmo-nos junto a esta mesa, após termos tido conhecimento de algumas obras de cunho bastante elevado. Como quiséssemos realizar ditados extraídos de nossa experiência de trabalho, fomos obstados pelos professores, uma vez que daríamos, talvez, algumas demonstrações do que já havíamos aprendido, mas não adiantaríamos um passo no currículo proposto.
Sabemos que o amigo médium gostaria que iniciássemos, em apêndice, alguns relatos mais, de igual teor daqueles iniciais, quando revelamos alguns fatos pertinentes às funções socorristas que exercemos. No entanto, vamos ter de desiludi-lo, pois ocupamos por demasiado tempo este posto, quando há longa lista de espera de novas turmas em fase de iniciação mediúnica psicográfica.
Não será desperdício de tempo registrar agradecimentos ao jovem senhor, rogando ao Pai que lhe dê amparo para a realização dos sonhos e deveres cármicos. Muito obrigado, bom amigo! Fique na paz de Deus, na companhia da família.
Graças a Deus!
20.12.92.
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