Boêmio (*)
Das noites que passei na vil orgia.;
Das inúmeras vezes sem dormir,
Resta-me dor somente.
Abusei da bebida que engolia.
Perdi a juventude num porvir,
Que me fez indecente.
Desregrado, nem mesmo alto chegava
A casa a incomodar. Era perdido:
-- Senso que hoje me invade!
Do vinho ou da ceveja, muito brava,
Que me servia o zonzo Aparecido,
Sobra apenas maldade.
Só de engano vivi. Dela, não sei...
Das despesas, perdi há muito a conta.
Os gastos já nem orço.
Ninguém me amou jamais. Descri da lei.
Triste passado fere e me desmonta.
Sobrevivo em remorso.
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(*) Brasília, DF, 03/01/1966.
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