Assim como, na calada da noite, as lagartas executam o seu trabalho de corroer os livros, as estantes e as madeiras da casa, do mesmo modo o ódio injetado no coração vai remoendo os bons hábitos, vai minando as boas intenções, vai consumindo os desejos de paz, de harmonia, impulsionando o indivíduo para os descaminhos da guerra entre irmãos, entre seres afins que deveriam tão-só amar-se e confraternizar. O ódio é mal imenso para a humanidade. Todo aquele que souber expulsar de seu coração esse verme destruidor, através da prece, através de luta diuturna de vontade férrea, poderá rejubilar-se de ter conseguido vitória muito expressiva, plena de virtude.
Jesus nos ensinou a amar, mas não apenas isso. Ele nos propiciou também sabedoria para podermos enfrentar e sobrepujar as paixões mais vis que nos assaltam, tentando dominar o nosso procedimento. Examinem a serenidade do Senhor diante dos assédios injuriosos dos maus, dos perversos, dos que tinham ódio nos corações.
Assim também devem vocês proceder: ao atacarem-nos com violência ou ao insinuarem mansamente que devam agir imprudentemente, contrariando a doutrina evangélica, devem acalmar o coração, confrangendo-o submissamente à sua poderosa vontade, devem arrefecer as batidas orgulhosas e buscar compreender a causa, a razão dos apelos de seus irmãos. Verão que estão desorientados, que só têm más intenções por viverem na ignorância das virtudes, as quais vocês se esforçam por obter. Não respondam ao ódio com ódio, mas oponham-lhe o amor: primeiro o amor a Deus; depois o amor ao próximo. Instruam seu coração nesse sentido; dêem-lhe por objetivo conseguir serenidade muito forte; ensinem-lhe a não prejulgar os atos de seus irmãos; possibilitem-lhe discernir, dentre as atitudes, quais as mais favoráveis à reconciliação.
O mundo gira em grande velocidade e, antes que suspeitem, lá está de volta ao mesmo lugar. Não dêem ouvidos às palavras carregadas de insinuações malévolas, prenhes de intuitos vis e traiçoeiros. Não se esqueçam de que a vida é extremamente curta e que deve ser vivida para a grandiosidade de Deus, em constante e infatigável busca de progresso moral. Aos seus irmãos desencaminhados, levem seu afeto e seu esclarecimento. Busquem elucidá-los de seus erros. Demonstrem-lhes as causas de seus pensamentos “pecaminosos”. Façam com que percebam que só vantagens momentâneas e materiais é que impulsionam para os procedimentos despudorados. Indiquem-lhes os livros sagrados que contêm a luz divina da esperança e assegurem-lhes a benevolência espiritual, de sorte que o seu conforto venha a frutificar em boas ações. Eventualmente, poderão convencê-los a trilhar o mesmo caminho que vocês perlustram. Sempre, no entanto, estarão agindo com o coração leve, obtendo as graças necessárias para sua redenção. Não acalentem, porém, fé hipócrita, feita de perdões e de permissividades. A sua fé deve ser robusta, o seu coração deve revestir-se da dura capa do desdém pelos vícios.
O seu irmão não deve ver em vocês anjos de bondade e de carinho, espalhando pétalas de rosas por sobre espinheiros empedernidos. Nada disso! Deve saber que vocês são os ceifeiros das mazelas e os anunciadores da justiça de Deus. Não devem demonstrar que fraquejariam às lágrimas, por mais convulsivas e comovedoras possam ser. Vocês deverão endurecer o semblante, cobrando seriamente o pagamento das dívidas contraídas por seus irmãos, quando, aproveitando-se de oportunidades criminosas, fraquejaram, cedendo aos vícios. A sua dureza de caráter será seguro farol que guiará seu irmão à rota do bem e do amor, a qual leva à virtude e à purificação da alma. Colherão assim, mas muito depois, os frutos saudáveis de seu trabalho no serviço de Deus.
A oportunidade de servir é dada a poucos. Deus não quer que pessoas despreparadas e viciosas se ponham a pregar a fé espírita. Daqui a necessidade de serem virtuosos, de procedimento imaculado. Muitos dos irmãos dos centros espíritas têm fraquejado, de modo que suas palavras encontram barreiras intransponíveis em seus exemplos, em seu modo de vida. O pastor que ordena às ovelhas que sigam para o redil e se encaminha para a taverna não poderá esperar ser atendido.
Examinem, irmãos, o seu procedimento. Não se encham de ódio por esta revelação de seu caráter. Atendam com o coração manso ao nosso alerta. Vocês, especialmente, pois foram chamados e escolhidos. Sofreiem o seu orgulho e pensem seriamente em sua salvação. Vocês subiram ao topo da montanha. A vocês foi dado conhecer o mundo em perspectiva superior, plena de verdade. A sua queda, irmãos, os arremessará para muito além dos que somente puderam encetar a jornada. Vocês ficarão em posição difícil diante de suas próprias aspirações. Vocês têm a luz à sua disposição. Iluminem-se vocês mesmos, meditando, refletindo, procedendo justamente e com total desprendimento material das ambições de usufruir benefícios espirituais especiais. Vocês são todos iguais, irmãos no Cristo, filhos diletos de Deus. Não se julguem superiores por portarem o facho que Jesus lhes confiou. Antes, previnam-se quanto a cair em desgraça mediante procedimento orgulhoso e vão. Aos poetas, de nada valerá a lira se só cantarem versos de agonia, de embaraços e de angústia, não enaltecendo a grandiosidade da obra de Deus. Desse mesmo modo, as palavras do Cristo serão só balelas proferidas sem convicção, se vocês insistem em proceder desarmoniosamente.
Amor com amor se paga. Ao ódio se perdoa. Vocês devem saber que seus irmãos na espiritualidade lhes estão pregando com muito amor, no desejo incoercível de os prover de energias e fluidos capazes de os erguer. Não duvidem desse amor. Não respondam com ódio no coração. Prestem atenção nisto, para que seu orgulho não subjugue sua vontade.
Irmãos, procedam com amor por amor de Deus e do próximo e terão toda a nossa simpatia e amparo. Serão iluminados e poderão ter certeza de que não estão sós.
Bem-aventurados os que transformam ódios em amor, pois a eles Deus reservou o seu próprio amor!
Maciel.
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