Abandono (*)
Fadada ao sofrimento desumano,
Não lhe tardou chegar a desventura.
A sua alma infantil, terna e tão pura,
Não conheceu a mãe por mais de um ano.
Restou-lhe o pai, que fora mau, profano.;
Negou-lhe a paz e os dias de ternura
Com que as meninas sonham sem a dura
Realidade, que ataca e mostra o engano.
O amor -- esse mais puro sentimento --
Desenganou-a e a fez embrutecida.;
Encheu-lhe a alma de mágoa e de tormento.
Hoje, contemplo-a, tão desprotegida,
E me sugere, forte, o pensamento:
Não foi gente o pai.; não amou na vida!
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(*) Brasília, DF, 07/05/1968. |