Arrependimento (*)
Penso no que perdi e sinto pena
De mim mesmo. Meu Deus, uma loucura
Apoderou-se do meu ser, e a pura
Verdade hoje me acusa e me condena.
Santa alma, tão ditosa e tão serena,
Não sonhara jamais com tal ventura...
Ressurge do submundo, e a noite escura
Foi um convite ao sonho que envenena.
Recordo pesaroso, e, na cabeça
Um martelo constante. Dói. Reluto.
E nada faz com que eu não pense e a esqueça.
Procuro dominar-me e, num minuto,
Sinto o infinito e descortino a espessa
Mortalha que me cobre o céu de luto.
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(*) Brasília, DF, 08/05/1968. |