Que e-mail delicioso de uma leitora universitária, que me diz:
“Não sei escrever poemas. Nunca soube. Mas gosto de lê-los, desde menina.
Gosto de você, na usina, e de alguns que escrevem com inteligência.
Porém, a sua citação de Florbela Espanca, colocando o link para chegar até ela foi de uma grande felicidade para mim. Nunca havia lido coisas tão lindas.
Sou estudante de direito, da Universidade de Campinas e adoro ler nas horas livres.
Apesar de as “más línguas” tentarem mostrar o contrário, você, mesmo pela Internet, está cumprindo o seu sagrado papel de professora.
Vá adiante! E obrigada.”
Cara Maria Lúcia,
Jamais se espante, com o que lê a meu respeito. É que eu sou uma espécie de “mito”, aqui na UL.
Há pessoas que até têm dúvidas se eu realmente existo.
E eu acho isso uma glória!
Outros amam, de tal forma, a imagem que resolveram fazer de mim que, volta e meia, desfazem tal imagem, colocando-me no extremo oposto. E eu me divirto a valer com essas inconstâncias.
Na verdade, talvez eu nem exista mesmo. Quem sabe, não sou um ser do “Outro Mundo” a dar uma espiadinha por aqui , no mundo dos mortais, para dar-lhes um pouco de diversão, inspiração e até a oportunidade de se redimirem através do que escrevo. E já escrevi tanto...
Quer saber, Maria...
Às vezes, até eu mesma duvido de minha existência. Vejo tantos “eus” dentro de mim, que acabei por perder a minha real identidade.
Vê?
Tudo o que escrevo neste momento, nem sei porque o estou fazendo. Algo me impele e eu, simplesmente, obedeço.
Não digo que “psicografo”, para não correr o risco de ser excomungada pelo "Padre da Usina", que nega qualquer coisa que “se mexa do outro lado”.
Mas...
Ah!... Eu falava de meus “eus” ou de meus “outros”. É, sim... Sinto-me “plural” nesta singular “experiência finiúnica”, por todos os séculos dos séculos...
AMÉM!!!
Para encerrar, um presentinho de Florbela, que Fagner musicou:
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !
Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !
E, olhos postos em ti, digo de rastros :
“Ah ! Podem voar mundos, morrer astros”,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."