Desde os primórdios o ser humano vem buscando explicações para muitos acontecimentos que extrapolam a linha do tempo da evolução humana.
Podemos notar esta tentativa não só pela inteligência e raciocínio do ser humano, mas principalmente no seu ato criador e, é justamente isso que faz a diferença entre o HOMEM e o ANIMAL.
Utilizando-se do conhecimento acumulado através dos tempos somado às certas situações desafiantes, o ser humano é capaz através de uma interação com o meio, modificar, transformar, gerar cultura e ir respondendo suas indagações.
Sendo assim, o ser humano dentro do seu processo de hominização vai se constituindo enquanto ser pensante e criador, constituído, a princípio, de um equipamento corpóreo fino (visão bifocal, postura ereta liberando os membros superiores, linguagem articulada, mãos apreensoras) que lhe permitiu adaptar-se ao meio e às situações difíceis em que se encontrava. Isto pode ser verificado através de achados arqueológicos que nos mostram um pouco da produção dos primeiros utensílios “fabricados” pelo ser humano para vencer suas dificuldades.
Talvez tenha sido justamente essa interação com o meio que contribuiu para a formação de um outro equipamento que colocaria o Homem bem a frente da espécie animal: o equipamento espiritual, aqui traduzido como um conjunto de idéias. Gordon Childe, sobre esse assunto, dizia em seu livro O que aconteceu na história: “ Para a defesa de ideologias e inspirado pelas idéias o Homem toma atitudes nunca observadas entre os animais.”
Os rituais executados cerimoniosamente para enterrar os mortos desde a sociedade primitiva são peculiares somente à sociedade humana, acentuando assim, cada vez mais as diferenças entre o HOMEM e o ANIMAL.
Podemos notar essa preocupação desde a época do Homem de Neandertal ( +/- 40000 a.C.) que preocupados em proteger os corpos dos mortos cavavam suas sepultaras próximas do fogo, como forma de aquecer seus ocupantes, abastecendo seus mortos, também com ferramentas e carnes.
Toda essa atenção dispensada aos mortos de maneira tão precoce, como foi citada acima, acabaria se enraizando em nossos comportamentos acabando por inspirar maravilhas artísticas.
A exemplo dessas maravilhas temos as pirâmides do Egito, onde os faraós esperavam passar a eternidade e que se constituíram num registro das suas crenças, esperanças e ideais.
No Egito não foi apenas as artes que se desenvolveram a partir da preocupação com a vida após a morte, mas também a literatura e a Ciência, como é o caso da técnica de mumificação, por eles desenvolvidas para preparar os corpos dos faraós a espera da eternidade.
Além da relação arte / morte, também existe a questão do ritual que acompanha até os dias atuais o sepultamento dos mortos. Na Grécia eram considerados obrigações dos filhos os funerais dos pais, seguindo sempre os ritos tradicionais. Para tanto o cadáver era cuidadosamente preparado, fazendo parte do ritual a lavagem do corpo, que em seguida era untado com óleo perfumado e depois envolto em vestes brancas, para ser exposto em leito aparatoso com os pés voltados para a porta. Também eram dispostos ao redor do mesmo vasos de perfume. Uma outra prática era colocar óbolo, como forma de pagamento a Caronte, o barqueiro dos infernos.
É claro que com o passar do tempo a dimensão e entendimentos sobre a morte e o que possa existir além dela sofreram alterações, bem como da cultura e religião de cada povo. No entanto, ainda hoje podemos verificar a preocupação dispensada aos rituais funerários ao nos depararmos com verdadeiras obras de artes nos cemitérios do mundo inteiro.