Olavo de Carvalho, respeitoso escritor de livros como “O imbecil coletivo” e “A longa marcha da vaca para o brejo” dá-nos o ar da graça mostrando seus prestativos serviços para a degradação de uma humanização política e não exclusão constitucional.
O primeiro agravante está na responsabilidade do autor (novamente toco no ponto onde dói). O autor tem como responsabilidade os malefícios ou benesses que possa vir a acarretar com o que foi dito (direta ou indiretamente) em seus textos.
A prioritariamente deveríamos, nós a “classe”, buscar assuntos que mesmo polêmicos possam findar em união e criação. Buscar a intolerância e/ou deslegitimar movimentos não nos leva ao objetivo do escritor, filósofo, pensador ou ser humano: a verdade.
Lembro ao senhor Carvalho que logo em sua introdução vemos que o senhor apresenta sua pupila, negra, de classe humilde e oprimida por “um mundo dominado por aqueles gays”. A opressão dela vai muito mais além. Por ser mulher ela é relegada a direitos reduzidos de ascensão social por conta da sociedade machista que, o Direito Romano carregou viciosamente como pacote. Por ser mulher negra, carrega a cara da pobreza. Afinal é fato que mulheres negras são duplamente segregadas socialmente, não podendo ter acesso a estudo, a formação profissional e, quando raras as exceções, são deixadas de fora do campo profissional em seleções racistas e machistas. É essa a sociedade que oprime a sua pupila, não o carnavalesco carnaval com gays na rua.
É degradante a forma de exclusão machismo heterossexual. Escrever que “essa gente é simplesmente o povo brasileiro” contrapondo com o homossexual é mais uma forma de sectarizar, afirmando ser esse um ser sem pátria. O gay, segundo a opinião de alguns de nosso pensadores/escritores não é cidadão, paga impostos como é dever de qualquer um (cidadão), mas não deve ter direitos. Mesmo o direito de se manifestar contra essa injustiça deve-lhe ser negado.
Senhor Olavo de Carvalho, e a colega Milla Kette deveriam tomar cuidado ao escrever para um povo tão acostumado com intolerância e desconforto. Ao expressar “não é preciso dizer que tenho horror a qualquer tipo de opressão moralista” pensa botar panos quentes sobre o malcheiroso preconceito contra gays (e outras minorias). A frase acima soa vergonhosamente como a frase “não tenho preconceitos, mas...” ou as “dóceis” piadas racistas, as frases do tipo “não sou racista, mas...”, ou a comum expressão “tinha que ser mulher” ou negro ou gay. Machismo, homofobia, sexismo, racismo deveriam ser temas atacados por autores, e não alimentados por tais. Escreva e execute o seu papel social de repassar a verdade ou se cale.