Amigos, não se iludam, o verdadeiro "risco país" caminha para completar oito anos de idade. O resto é pura conversa fiada. Fiada sim, porque os monstruosos volumes de nossas dívidas, interna e externa, são impagáveis. Ou alguém duvida disso? Quem "deu à luz" esses monstrengos e os alimenta há mais de sete anos, quer transferir a paternidade para outros. Mas não resistem a um "DNA" político e econômico sérios.
Agora me calo e cedo a palavra a depoimentos insuspeitos. Deu trabalho pesquisá-los, mas creio que valeu a pena. Vamos aos fatos. Entre os dias 14 e 16 de junho de 2002, todos os órgãos de nossa imprensa estamparam declarações do Sr. Rudiger Dornbush, considerado por muitos como um dos principais economistas da atualidade. Ele é professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Seu depoimento foi feito em conferências na cidade de Genebra, na Suíça. Disse ele: "Estamos prestes a ver um colapso da economia do Brasil até o fim do ano". Disse mais o professor Dornbush: "Se estamos buscando um especulador para culpar pela situação do Brasil, esse especulador é Fernando Henrique Cardoso". Declarou também que "Fernando Henrique se utilizou das privatizações para financiar sua eleição para o segundo mandato no poder e agora deixará uma dívida social e fiscal enorme para o próximo governo".
Outro trecho da fala do professor: "O problema não é o mercado financeiro, mas uma série de governos da região latino-americana que se autodenominam democráticos". Opinião de alguém insuspeito, mas que foi logo posta em ridículo pelos atingidos, como era de se esperar, claro. A crítica, para alguns "democratas", só é válida, se favorável a seus interesses ou convergentes com seus objetivos. Pensar diferente é ser contra, expressão tão em moda, lançada pelo presidente americano e adotada por alguns que se anunciam liberais e... democratas!
Pesquisei e divulgo. Opinião do economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, professor do Ibmec Business School e chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (Tribuna, 10/06/2002): "Não foram as incertezas quanto ao processo eleitoral de outubro próximo — embora elas possam ter influência, que fizeram o risco Brasil piorar (...) conforme avaliaram as agências internacionais de classificação de risco, e sim os fundamentos da economia nacional, que não estão bons, como se desejaria".
O economista entende que os indicadores econômicos nacionais apontam para um discreto crescimento ou até mesmo uma certa estagnação. Diz ele que o governo precisa gerar dólares em curto prazo, devido ao tamanho da dívida liquida interna do setor público, estimada pelo Banco Central, em 24 de maio de 2002, em R$633,3 bilhões, ou 50,4% do PIB. Na opinião do Sr. Carlos Thadeu, seja quem for o próximo presidente, ele assumirá o país de mãos atadas e poderá fazer muito pouco para tirar a economia brasileira do "atoleiro" em que foi posta.
Entre as várias críticas que fez às táticas do BACEN, disse o economista que "outro equívoco foi a decisão de antecipar para o início de junho, em vez de setembro, como anteriormente determinado, a correção diária das carteiras dos fundos de investimentos pelo preço do dia". Entende o Sr. Carlos Thadeu que esta decisão pode até estar tecnicamente correta, mas concorda com o economista Luis C. Beluzzo, professor da UNICAMP, que ela foi inoportuna e gerou desconfiança nos investidores que migraram para o dólar, fortemente pressionado, desde então.
Agora atenção: para quem aprecia números, na mesma entrevista, o economista lembra que, se a dívida pública externa for somada aos compromissos internos, o total da dívida pública brasileira sobe para R$684,5 bilhões, o que representaria 54,5% do PIB, um percentual muito elevado. Mais: citando o próprio Banco Central, ele destaca que, se considerarmos a dívida bruta do governo, este total sobe para R$906,2 bilhões, ou o equivalente a 73,8% de toda a riqueza nacional... Amigos, releiam este trecho com atenção, por favor. (O grifo é meu.)
Seguindo. O jornalista Lindolfo Machado, em sua coluna de 08 de junho de 2002, escreveu: "Quando FHC assumiu, a dívida interna do Brasil era de R$62 bilhões. Hoje ela está em R$630 bilhões. Pagamos aos bancos, por ano, para rolar essa dívida, 18,5% de juros. São, em números redondos, R$120 bilhões a cada 12 meses, ou R$10 bilhões por mês, ou ainda R$2,5 bilhões por semana. Em quase oito anos, aos preços corrigidos de hoje (08/junho) o governo FHC já pagou à rede bancária nacional e estrangeira algo em torno de R$900 bilhões. Quase o valor do orçamento da União, que é de R$1 trilhão e 200 bilhões, para 2002. Quase o valor do PIB".
O jornal "O Globo", de 15 de junho de 2002, em seu caderno de Economia, página 26, trouxe matéria com o título "FMI alerta para fragilidade econômica do país". O representante do Fundo, Sr. Rogério Zandamela, alertou para o que chama de "quadro permanente de vulnerabilidade" da nossa economia. O economista do FMI referiu-se especificamente à alta necessidade de financiamento externo do Brasil, desde a segunda metade dos anos 90.
Disse Zandamela: "A cada ano o Brasil precisa de US$50 bilhões a US$ 70 bilhões para fechar suas contas". Comentou ainda que a dívida interna teria uma estrutura inadequada pela concentração de papéis atrelados a taxas pós-fixadas. Disse que mais da metade da dívida interna brasileira é corrigida pela Selic, enquanto cerca de trinta por cento está indexada ao dólar. E concluiu: "A deterioração das contas externas e o perfil não adequado da dívida pública são anteriores ao acordo de 1998. E até hoje, as vulnerabilidades são as mesmas".
No dia seguinte, o mesmo jornal, no mesmo caderno, trouxe uma entrevista com o economista e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. Destaco suas palavras: "Haverá uma crise financeira, independentemente de quem for eleito presidente". Mais: "Banco Central cometeu o pecado da soberba". Ele não poupou críticas à equipe econômica e à cúpula do BACEN, considerando-os responsáveis pela queda-de-braço que o país trava com o mercado financeiro.
O ex-ministro chegou a afirmar que "Combinação de juros elevados com crescimento medíocre é marca do malanismo". Na mesma edição de "O Globo", o economista Fernando Ferreira, sócio da consultoria Global Invest lembra que "São poucos os países do mundo que apresentam o chamado déficit gêmeo , ou, dívida interna elevada e resultados negativos no balanço de pagamentos. No ano passado o déficit brasileiro foi de US$ 23,30 bilhões, uma evidência de que o país não consegue divisas para fazer frente a seu endividamento externo".
Mais adiante ele afirmou que "O Brasil não consegue gerar reais para pagar a dívida interna porque, na prática, tem déficit fiscal. E também não consegue gerar dólares para pagar a dívida externa, já que o resultado do balanço de pagamentos é negativo". Já o economista Luiz Carlos Prado, professor da UFRJ, entre outras considerações sobre nossa economia, diz que "Apenas em 2002 e 2003, o país tem de refinanciar entre juros e amortizações da dívida interna, R$200 bilhões". Amigos, ele se refere apenas a juros e amortizações. A dívida em si continua impagável. E crescente, digo eu.
Na edição de 07 de junho de 2002, página 7, a Tribuna apresentou matéria com este título: "FMI reitera que nervosismo nada tem a ver com Lula". Foi o porta-voz do FMI que asseverou: "Apesar de todo o debate sobre a incerteza que haveria se ocorresse uma mudança (em favor) do Sr. Lula, a democracia no Brasil ganhou raízes fortes e o País fortaleceu suas instituições de forma tão significativa que o Sr. Lula ou qualquer outra pessoa que chegar ao poder não mudará isso". E aí?
A revista "Época" do começo de junho trouxe extensa reportagem com o título "À beira do Abismo". Dela extraí este trecho: "Em 5 anos o empobrecimento foi de 34% e os gastos com comida encolheram em 20%. O desemprego cresceu mais de 600% nos últimos 10 anos — É uma descida rumo ao poço — A classe média está com raiva. Sente-se frustrada: apenas 15% das pessoas com renda entre R$2 mil e R$7 mil estão contentes com a vida que têm — O pessimismo é enorme — Após enfrentar sete anos (a era tucana) de crescimento médio anual de 2,5%, uma parcela considerável dos 80 milhões de brasileiros que podem ser incluídos na classe média vive uma pré-argentinização".
As palavras acima são atribuídas ao centenário e insuspeito Dr. Roberto Marinho. Maior insuspeição que esta é impossível. Vamos a outra declaração de alguém com intimidades com o poder. Li na "Folha" de 05 de junho de 2002 esta declaração do Sr. Delfim Netto: "O cidadão viu sua renda estagnada nestes oito anos — Viu o governo vender as usinas hidrelétricas com crédito do BNDES e agora socorrer os compradores com aumento de tarifa que sai do seu bolso. — Nos oito anos, a participação dos gastos com serviços públicos no seu orçamento dobrou de 13% para 26%".
Segue o Sr. Delfim: "Em 2002, 2003, 2004, pelo menos, precisaremos de US$1 bilhão, por semana, para financiar as amortizações da dívida externa e o déficit em conta corrente (...) O Brasil quebrou em 1998 e recorreu ao FMI. Mas foi insuficiente para reduzir a vulnerabilidade". Pois é, palavras de Delfim Netto.
O jornalista Mauro Braga, em sua coluna de 07 de junho de 2002, afirma: "Todos já sabíamos que FHC estava deixando uma herança tétrica no campo social, mas se achava que a estabilidade, tão defendida pelo governo, estaria pelo menos garantida em um primeiro momento. Hoje se vê que nem isso restará depois que o atual presidente deixar o governo. Tudo não passa de um castelo de cartas que desabará no princípio do próximo ano".
Amigos leitores, agora me respondam: quem representa o verdadeiro, o autêntico "risco Brasil", o Ciro Gomes, o Garotinho, o Lula? Pois eu acho que nem o Serra. Afinal, é uma mentira deslavada falar dele, do "risco", tentando ludibriar os brasileiros, ao anunciá-lo para um futuro próximo. Ele já está aí, repito, e cresce desbragadamente há quase oito anos. Vem sendo fabricado às custas de desmandos, erros na condução da política econômica (releiam depoimentos acima), entre tantas mazelas mais. Quanto a você, leitor, acredite no que quiser, só não se diga depois enganado, mais uma vez.
NOTA DO AUTOR: As fontes de onde extraí as informações aqui expostas estão arquivadas junto a todos os documentos nos quais efetuo pesquisas, quando necessário.