Não sei quando começou a fazer parte de mim de uma forma consciente.
Sempre achei que ele existia apenas, mas não, ele simplesmente está lá para quem o vê, para quem o sente, para quem o ama.
Gosto do mar sempre.
Quando ele me desperta com o seu ar rezingão.
Quando só nos olhamos calmos e felizes.
Quando devagarinho me beija os pés, como a dizer “bem vinda”.
Quando é azul, escuro e profundo ou quando é verde, brilhante e alegre, e me faz sorrir.
Quando, quase transparente, me mostra segredos que, acredito, só parti-lha comigo.
Só ao mar conto os meus segredos, com ele partilho as minhas alegrias, para ele vai o meu sorriso cúmplice e o meu riso claro e feliz.
Tímida mas determinada, como faço quase tudo na vida, a ansiedade é enorme e parece que só respiro de novo quando nos encontramos.
Ele espera-me. Calmo? Ou também ele ansioso? Então digo-lhe porque não tenho aparecido, como tenho ciúmes de quem nele mergulha no Verão, como conto os dias, as horas, para começar a fazer frio e as pessoas abandonarem o nosso espaço. Ele fala-me de conchas e búzios, de pedrinhas e ouriços, e tudo vem largando devagarinho aos meus pés. Sempre trago comigo alguma coisa e aos poucos a casa vai ganhando o cheiro e o sabor do meu amor.