A visão quadrada do mundo dos cristãos primitivos resultou mortes em nome da defesa da chamada “verdade” divina. Hoje, a igreja que assassinava os que discordassem da chamada escritura inspirada não vê alternativa que não seja reconhecer o erro cometido. Como a fé é, sob a lógica cristã, a “certeza daquilo que se não vê” (Hebreus, 11:1), ela pode ser e tem sido letal.
A leitura de alguns poucos textos da Bíblia nos leva à conclusão de que Jeová, o deus criador de todas as coisa, chamado de onisciente, não sabia muito bem como era o mundo que ele próprio criara. E o Cristianismo complicou mais, tornando o mundo quadrado.
Em apenas dois versículos do Velho Testamento, vemos um mundo plano e circular, como um disco a flutuar sobre as águas:
Quando lemos que "As águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia debaixo do céu foram cobertos” (Gênesis, 7: 19), já temos uma idéia de um mundo plano, e a forma circular é apresentada pelo profeta Isaías, que, falando de Jeová, disse: "É ele o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos” (Isaías, 40:22).
O segundo mandamento dito escrito pelo dedo do próprio Jeová adverte: "Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra" (Êxodo, 20: 4). Esse versículo espanca qualquer dúvida: a visão do mundo dos hebreus era na forma de um disco a flutuar sobre as águas.
Quando surgiu o cristianismo, a forma do mundo se alterou um pouco: ele ficou quadrado.
Falando da tentação de Cristo pelo Diabo, o denominado homem inspirado disse: “Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles.” (MATEUS 4:8). Não imaginou que o diabo tivesse feito uso de algo como a nave Vostok, de Iúri Gargárin, transportando Jesus em volta da Terra para lhe mostrar todos os seus reinos, porque não sabia que o planeta tem formato esférico. O feito diabólico só seria possível em um mundo plano.
João, o vidente do Apocalipse, escreveu: “Depois disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra.” (Apocalipse, 7:1) Para ele, além de plano, o mundo nem se podia comparar a um disco, mas seria mesmo QUADRADO. Só assim poderia ter quatro cantos para comportar os quatro anjos.
Essa visão quadrada do mundo, longe de inofensiva, foi desastrosa. A “certeza daquilo que se não vê” resultou em muitas mortes, entre elas a do italiano Giordano Bruno, que percebeu que essa fé é, com mais propriedade, O FIRME FUNDAMENTO DAS COISAS INFUNDADAS, A CERTEZA DA EXISTÊNCIA DAS COISAS QUE NÃO EXISTEM.
O navegador Fernão de Magalhães documentou mais essa visão geoquadrangular, da qual discordava: “A igreja diz que a terra é quadrada, mas eu sei que ela é redonda, porque vi sua sombra na lua. Tenho mais fé em uma sombra do que na igreja.”
Com o avanço científico, e conhecimento geográfico global, tudo ficou tão claro, que ninguém mais tem coragem de defender a forma plana e quadrada da terra. Todavia, Ainda existem muitos que acham possível o diabo e Cristo terem avistado, do alto de um monte, todos os reinos da terra, assim como as estrelas do céu deverão cair pela terra “como a figueira, quando abalada pelo vento forte, lança seus figos verdes.” Nunca mais alguém morrerá pelo crime de afirmar a redondeza da Terra, mas pela fé ainda se mata, porque a visão quadrada de outras coisa ainda permanece. Ainda há quem creia ser possível, após um ato suicida, ir para um paraíso divino. Os perigos da fé ainda assombram o nosso mundo, e as guerras santas, por incrível que pareça, ainda existem e parece que persistirão por muito tempo.
Obras de João de Freitas:
Ateu Graças a Deus (conclusões do autor sobre o estudo da Bíblia e das religiões);
A Arriscada Pretensão de Saber o Futuro (uma análise dos fracassos dos videntes);
Livre-se do Cigarro (os malefícios do vício e os meios para se livrar dele);
Proteja Sua Língua (como falar e escrever corretamente o Português; uma coleção de erros ortográficos e ortoépicos que eliminam muitas pessoas em concursos; um simplificação da análise sintática; etc.).
A fonte da Juventude (como o autor mantém, aos 43 anos, uma aparência bem mais jovem e excelente capacidade física);