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Artigos-->AINDA A REVOLUÇÃO BRASILEIRA -- 07/08/2002 - 09:20 (rodrigo guedes coelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A revolução brasileira é só um nome. Ela nunca se realizou. As elites dirigentes vivem na ilusão de que é desnecessária. Basta fazer

alguns retoques e, nas crises, pedir mais dinheiro ao FMI. E então o Brasil volta a funcionar sobre fundamentos sólidos (para eles).

Se empréstimo resolvesse os problemas, estaríamos todos no paraíso social. Mas eles apenas nos precipitam mais fundo no purgatório

da dependência, purgatório que eqüivale a um inferno para pelo menos 50 milhões de brasileiros. Quando Betinho, cheio de com-paixão,

deslanchou em 1993 a campanha contra a fome e a miséria, havia, segundo dados do Governo, 32 milhões de famintos. Oito anos após, em

2001, consoante a Fundação Getúlio Vargas, esse número ascendia a 50 milhões. Esse dado não revela um inferno?

O Papa bom, João XXIII, disse repetidas vezes que não conseguia dormir só com pensar nos famintos do mundo. Movidos por esse

sentimento escreveu a encíclica Pacem in Terris(1963). Agora em 2002 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento nos

envergonha com a constatação de que o fosso no Brasil entre os que comem e não comem aumentou. Pudera, somos a terceira maior

concentração de renda do mundo, só perdendo para Serra Leoa e Suazilândia na África. Consequentemente, os direitos são

sistematicamente violados. Segundo a mesma fonte, numa escala de 1-7, no item respeito aos direitos e às liberdades, obtivemos a

nota 3. Rodamos rotundamente. Nestas condições, se entende por que nossa democracia tenha tão parca sustentabilidade. No arco de

100 anos, 70 foram vividos sob ditaduras. A vigência dos direitos e a inclusão social são pré-condições mínimas para o funcionamen

to da democracia e para qualquer mudança substancial. Com um povo faminto e doente, como daremos o salto rumo a uma sociedade

sustentável e democrática?

Por isso, mais e mais cresce a percepção entre os analistas que a perversidade estrutural brasileira não se supera fazendo economia

de revolução no sentido de mudanças das estruturas de poder social, político e cultural. Para tal revolução se necessita acumulação

de poder social que se canaliza em poder político que se proponha fazer a revolução no quadro de uma democracia enriquecida. Esta

deve ultrapassar a democracia meramente eleitoral, que pára na porta da fábrica e comparecer como democracia participativa, de

baixo para cima e, por isso, popular.

Essa força social e política já se constituiu em nosso pais. Ela é representada emblematicamente por um torneiro mecânico que furou

a blindagem das elites contra as mudanças estruturais e agora, pela quarta vez, se apresenta como portador da esperança de que um

outro Brasil é possível. Sejamos claros: é o único que significa oposição ao sistema e não apenas oposição ao Governo, como os

demais. Sua eventual vitória, poderá significar a revolução brasileira. Mas se, por fraqueza diante das elites, não a fizer, será

execrado pela melhor consciência de nosso povo. Sua primeira meta é revolucionária: Fome Zero. Quem não começar por ai, está

defraudando 50 milhões de famélicos. Administrará a fome com migalhas mas não cuidará dos famintos. Desta vez, temos que arriscar,

coisa que nunca fizemos. E o risco poderá nos recompensar com o começo da revolução necessária, sonho de nossos melhores.



Leonardo Boff é teólogo





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