Dito e feito: bastou Ciro Gomes subir nas pesquisas, atingir o segundo lugar e ameaçar até a dianteira de Lula para o mundo começar a cair na sua cabeça. O mundo e as acusações de campanha.
A segurança e o sorriso já não parecem mais os mesmos, depois que o coordenador da candidatura, José Carlos Martinez, foi obrigado a sair pela porta dos fundos para explicar relações nada ortodoxas com PC Farias, o tesoureiro da campanha de Fernando Collor.
A segurança e o sorriso pioraram ainda mais depois do debate de domingo na TV Bandeirantes, quando o tucano José Serra disse que Ciro "faltava com a verdade" em três casos: a inflação de sua gestão no Ministério da Fazenda, o valor do salário mínimo em dólar na mesma época e o prêmio da Unicef para o Ceará (que Ciro só recebeu, mas foi dado, mesmo, para o governo anterior, de Tasso Jereissati).
Serra pode não ter lucrado um só voto com as provocações, mas Ciro saiu do debate com uma espécie de cicatriz: a suspeita de ser meio "enganador", "pouco confiável". Uma característica, aliás, que sempre se atribuiu a Collor, que deu entrevista na segunda, 05/08, dizendo que vota em Ciro e que, aliás, o candidato da Frente Trabalhista disparou nas pesquisas justamente por ser comparado com ele (?!). Como andou dizendo alguém, típico "abraço de urso".
Não bastasse as agruras de candidato em ascensão, Ciro agora tem que ficar explicando o tempo inteiro suas ligações com ACM e a formatação política de sua campanha, fechada com o "atraso" Brizola à esquerda e com o "atraso" ACM à direita. No debate, Garotinho cobrou explicitamente o beijo que Ciro deu na mão de ACM - a quem, um dia, já chamou de "mais sujo que pau de galinheiro".
Para compensar a onda negativa, ele acaba de ter uma boa notícia: o Ministério do Trabalho admitiu, em nota oficial, que cometeu um erro ao registrar que um único trabalhador da Força Sindical fizera 32 cursos financiados com verbas oficiais do FAT. O presidente da Força é Paulinho, que se licenciou para se candidatar a vice de Ciro. Ufa! Menos um aperto para o candidato. Aliás, para os dois.
Mas a coisa não acabou aí. No mesmo dia da nota do ministério, saiu uma outra nota da Controladoria Geral da União, que identificou a inscrição do tal trabalhador nos 32 cursos. Nesta sua nota, o órgão diz que o caso específico está explicado, mas ainda falta explicar todas as outras dúvidas suscitadas em inspeção nos cursos da Força Sindical financiados pelo FAT. O relatório todo tem nada módicas 30 páginas. E é mais uma coisa sobre a cabeça de Paulinho. O que equivale a dizer: na cabeça de Ciro.
Isso tudo demonstra as fragilidades de Ciro Gomes, mas também evidenciam sua força na campanha. A regra é: só apanha quem está bem nas pesquisas, com reais chances de ganhar. É o caso de Ciro.
Dura a vida de candidato!
Eliane Cantanhêde
Eliane Cantanhêde é diretora da Sucursal de Brasília e colunista da Folha