Alguns historiadores americanos já denunciaram o fundamentalismo "made in USA". O discurso do reverendo Jerry Falwel em emissora de TV dos EUA justifica suas teses. "Eu aponto o meu dedo para o rosto dos pagãos, defensores do aborto, gays, lésbicas e todos os que secularizam a vida nos EUA e digo: vocês contribuíram para isso." O religioso se referia ao atentado terrorista de 11 de setembro do ano passado e aos "culpados castigo divino."
Esta reflexão remete a uma recente manifestação pública - irresponsavelmente - aos poetas jovens, expressões bundantes de racismo e intolerância revelam que o fundamentalismo literário está vivo no Brasil. Viajando um pouco no tempo, para não ser afetado pelo "homem-bomba", chego à "Belle Époque" e lembro-me que tudo o que caracterizou este período foi pluralidade de idéias, concepções, tendências filosóficas, científicas, sociais, literárias e artísticas. Naquele tempo, mesmo com o culto à tradição, predominava a inquietação. O resultado foi uma sucessão de vanguardas que influenciam os destinos da arte até nossos dias. A "Belle Époque" foi, inegavelmente, o berço de movimentos como cubismo, futurismo, surrealismo, dadaísmo e tantos ismos.
Décadas após, o Brasil entrou na dança da revolução estética, assumindo a condição de vanguarda mundial com o concretismo - motivo de paixões e iras que perduram em nossos dias, infelizmente, alimentando os personalismos estéreis.
À poeta-taleban é dado o poder da vida e da morte. Em nome de que? Basta que declare o que é antipoesia e ponto final? Não se fala mais nisso? Porque não é possível gostar de Camões e Leminski?
Como um fanático, ele pensa que tem a chave da salvação. O que fazer com os estudos sobre a transpoética? Lixo! Haicai. Lixo! E o cheiro de sangue corre os campos petrolíferos do mercado editorial. Entre os escombros de mais um bombardeio, executivos na pele de poetas gerenciam seus empreendimentos, esbravejando suas fúrias e decretando a falência do futuro. Patológicos merecem todo o nosso repúdio. Especialmente os que se referem de forma pejorativa às raças africanas.
Abaixo a ideologização da arte! Abaixo o integralismo literário dos que se acreditam donos de uma idéia estética central, sobre a qual todas as outras devem espremer a alma humana fazer maus versos a não fazer nenhum.
"Qual o problema? A elitezinha intelectual, balofa e medíocre, está se sentindo ameaçada? E logo pelo que considera de baixo lustre? O debate estético não pode ser confundido com uma corrida de cavalos, em que alazões se sobressaem pela demonstração de virilidade e poder diante de pangarés.
Abaixo o monitoramento! O papel da crítica não pode se resumir ao "cartilhismo". Se algo de grave há de ser contestado na literatura brasileira, que seja o critério para escolha dos proprietários dos fardões nas academias de letras, onde Sarneys e Portelas tomam chá. Por que os menininhos afoitos que combatem a poesia concreta e a poesia marginal com tanta fúria, não contestam isso? Do jeito que estão, para que servem as academias? Para abrigar vaidades inconfessas e relações incestuosas com os poderes? Guardadas as devidas exceções, logicamente.
Poesia é subversão. Poesia é invenção. Não vamos permitir que o ananismo vaidoso e arrogante de determinados "expoentes" da poesia brasileira submeta o debate estético à condição de charco. Não vamos permitir que interesses ocultos se sobreponham ao exercício permanente e livre da poesia. Abaixo o fundamentalismo literário! Pelo bem da poesia!