PACTO SOCIAL: As credenciais de Lula como negociador
07/08 • 19:40 - www.lula.org.br
Por Claudio Cerri, da campanha Lula Presidente
Quem reúne as melhores condições para fazer a transição, da anomia econômica em que se encontra o país, para um novo ciclo de crescimento com resgate social?
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva, da coligação PT-PCdoB-PL-PMN-PCB, demonstrou ontem, em entrevista ao "Jornal da Globo", porque é a melhor opção diante desse cenário. Em resposta aos questionamentos da apresentadora Ana Paula Padrão e do comentarista político Franklin Martins, Lula expôs de maneira clara e segura três sólidos argumentos a seu favor:
1. Seu credenciamento histórico como negociador com credibilidade e trânsito em amplas faixas da sociedade
"Somente eu posso fazer um novo contrato social de que o Brasil precisa", afirmou o candidato. "Claro que nós não vamos quebrar o Brasil dando um reajuste de 60% para o funcionalismo. Não vamos esquecer as reivindicações dos trabalhadores. Mas vamos negociar, sentar na mesa e estabelecer um pacto";
2. A consistência programática de suas alianças, baseadas em um projeto de governo
"O PT é um partido com posição consolidada. Por isso está tranqüilo para fazer alianças. Temos programas detalhados para moradia, combate à fome, energia, segurança pública, emprego e vários outros. Tenho divergências com o Quércia [ex-governador paulista Orestes Quércia], sim. Tanto que estamos em partidos diferentes. Mas fazemos aliança com todos os que se opõem ao modelo neoliberal, com base em programa. Nós gostaríamos de fazer aliança com todo o PMDB, infelizmente a verticalização impediu isso";
3. Uma postura independente que resgata o primado do político sobre a lógica de mercado — o que talvez seja o principal diferencial de sua candidatura diante do discurso tecnocrático de uns e do continuísmo mitigado de outros
"O problema do Brasil não é um problema de contabilidade. É político. Eu não acredito que o Brasil não tenha condições de resolver seus problemas".
Lula também criticou o engessamento cambial e descartou a centralização do câmbio como estratégia de política econômica. "Ficamos subordinados às intervenções do governo no mercado de dólares porque a economia está fragilizada por não gerar divisas. Deveríamos exportar mais porque é isso que vai acalmar os nossos credores. No entanto, o dinheiro do Proex (programa de fomento das exportações) acabou agora em junho, eram US$ 2,1 bilhões, precisa reabrir outra linha. A linha do BNDES cobra juros de 10% ou mais", criticou o candidato.
"Faço um alerta ao Fernando Henrique Cardoso", insistiu Lula, "não adianta apenas negociar com o FMI. Temos que fazer já uma política mais agressiva de exportações para que daqui a seis meses não tenhamos que recorrer ao Fundo novamente. O governo não acabou. O Fernando Henrique governa até 31 de dezembro de 2002 e tem que tocar o barco para frente. Vamos fazer as coisas acontecerem. Aquilo que não ganhamos ontem, vamos ganhar amanhã".
Leia a seguir alguns trechos da entrevista de Lula ao "Jornal da Globo":
O que precisamos é canalizar, organizar e otimizar os recursos de programas sociais — de âmbito federal, estadual e municipal — num único Conselho de Política Social. Tenho certeza absoluta de que vai ter o dinheiro que precisamos para fazer as coisas no Brasil. Eu não acredito que esse país não tenha condição de resolver o problema. Um prefeito do PT me disse: "Lula vá tranqüilo porque na nossa mão um real vale por dois na mão deles".
Se eu fosse ficar com medo de perdas de receita o ano que vem, eu não seria candidato. Sou candidato porque acredito que é plenamente possível o nosso país dar um salto de qualidade. Se eu for acreditar em todas as matemáticas que vejo na televisão chegaríamos à conclusão que o Brasil não tem a jeito. E o Brasil tem jeito. Tenho experiência de governadores nossos que entraram e a receita aumentou, e muito. Vamos fazer a receita aumentar com redução de impostos para a produção e a exportação.
Ninguém espera milagre no primeiro dia. Mas vamos 24 horas por dia para o Brasil dar certo, porque este país merece uma oportunidade.
Não vamos esquecer as reivindicações do funcionalismo, mas veja: eu adoro os meus filhos, mas nem tudo o que eles pedem, por mais justo que seja, posso dar. E muitas vezes eu os convenço a esperar uma melhor oportunidade. Quero sentar com o movimento sindical, quero ver a contabilidade do Brasil e quero, junto com eles, estabelecer um plano de recuperação das finanças do Estado e ao mesmo tempo um plano de recuperação do salário. Nós não vamos esquecer a reivindicação dos trabalhadores, mas estabelecer uma nova relação entre governo e sociedade.
É uma política de as pessoas perceberem que o governo está falando a verdade. Pretendo estabelecer um novo contrato social. Juntar empresários e trabalhadores e estabelecer um pacto neste país para que a gente possa crescer de forma mais sólida e mais harmônica. E somente eu posso fazer isso. Porque me preparei para isso. Porque a minha história está ligada a isso e tenho base de sustentação para fazer esse novo contrato social.