O gosto da queijadinha da infância, ainda hoje, tem mais sabor que as outras todas provadas pela vida a fora...As sensações da infância são ímpares.Os perfumes, as cores, as dimensões( como era grande, para mim, o quintal da casa de minha avó).
E aquilo tudo se desvanece quando crescemos: muda a rua, os transeuntes, os odores, as conversas...Cai sobre os nossos ombros a realidade da vida, a estulta competição que vai demolindo amizades, afastando as pessoas.
Por isso que, certa vez, num discurso, afirmei que a vida é uma fábrica de saudades. No evolver caleidoscópico dos dias ela vai fazendo e desfazendo sonhos. Une e separe, aproxima e distancia. Põe tantas faces em nosso caminho, vozes, abraços, despedidas, reencontros...E a gente vai, lentamente, embrenhando-se no tunel da existência e, vez ou outra, tentando fugir da cruenta luta do cotidiano, vai lembrando as queijadinhas apetitosas que enchiam de prazer gastronômico os dias da infância na pacata Avenida do Imperador, um avenida de sonhos, uma rua que se transfigurou num asfalto onde rodam, barulhentos e desgraciosos, os ônibus da metrópole que substituiu a minha cidade de relembranças.