O debate da TV Bandeirantes mostrou nitidamente a tática de José Serra na disputa presidencial: nem ser governo nem ser oposição. Ou ser um pouco governo e um pouco oposição.
É uma atitude que pode ser lance de esperteza eleitoral, habilitando Serra a ganhar pontos entre os que desejam mudança sem sobressaltos. Não assumiria o desgaste do oficialismo, embora sendo o candidato oficial, e, ao mesmo tempo, pescaria votos na oposição.
Na língua tucanês, poderíamos dizer que ele faz a política da "independência pragmática". Mas tal dubiedade também poderia ser traduzida por oportunismo.
Até agora, a julgar pelas pesquisas, Serra está no pior dos mundos. Não é visto como governista pelos governistas; a gestão FHC, como se sabe, é apontada como ótima ou boa por 25% dos eleitores. Muito menos é visto como oposicionista na oposição.
Até porque esse espaço dúbio já é ocupado, até aqui, por Ciro Gomes, que bate no governo, mas sempre lembra que já foi Ministro da Fazenda, nos primórdios do Real.
Se a tática da independência pragmática de Serra der certo, será classificada de esperteza; se der errado, de oportunismo. A vitória é sempre generosa com os vencedores, e a derrota, implacável.
Gilberto Dimenstein
É colunista e membro do Conselho Editorial da Folha