Dizem que o estilo trai o homem. Uma frase aqui, uma palavra ali, fica revelada a nossa identidade. Também está dito, que a nossa alma se mostra naquilo que escrevemos, mas onde ficam os dissimulados, os contraditórios, os fingidores?
Paras fugir das molduras rígidas do "ri e o mundo rirá contigo; chora, chorarás sozinho", as pessoas buscam máscaras que se afivelam ao rosto ou a alma, como muito bem pincelou Djalma Barbosa Viana em duas trovas magistrais:
Sábado Gordo
Rei Momo assume o seu posto
E a gente batendo palma
Põe a máscara do rosto
E tira a máscara da alma.
Quarta-feira de cinzas
Rei Momo enfim é deposto
E a gente voltando à calma
Tira a máscara do rosto
E põe a máscara da alma.
No circo da vida, portanto, existem as almas que choram reveladoramente, despudoradamente, francamente; outras, por seu turno, vão sufocando o pranto, sopitando a dor, contendo as emoções, a despeito da erupção interior que abala o coração e esfrangalha a alma.
São tantos os atores e tantos modos de representar.A realidade e a ficção estão sempre numa frenética disputa, qurendo prevalecer.
Uns querem a realidade, outros fogem dela, já porque não a aceitam, já porque não a entendem, já porque, enfim, são adoradores da fuga.
O enigma dos sentimentos ocultos persiste mesmo nas pessoas mais comunicativas, que as vezes falam de mais para confundir, para enganar porque, muitas e muitas vezes, por dentro, estão chorando enquanto riem.
No seu livro "O Homem que Ri", Victor Hugo nos mostra este contraste: enquanto o personagem, mutilado por uma operação que faz sua boca permenecer num ritus de riso, tantas vezes queria chorar e, no entanto, aparentava rir...
E nos contrastes nós nos balançamos, vivendo e dissimulando, dissimulando e vivendo...