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Artigos-->Nota sobre o acordo com o FMI (LULA) -- 09/08/2002 - 10:11 (rodrigo guedes coelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Leia nota sobre o acordo com o FMI



08/08 . 20:53

NOTA SOBRE O ACORDO COM O FMI



1. Como já afirmamos na "Carta ao Povo Brasileiro", temos consciência da

gravidade da crise financeira que afeta o Brasil. Faremos tudo o que estiver

ao nosso alcance para evitar o aprofundamento dessa crise, que significaria

mais sofrimento para a população na forma de aumento do desemprego, queda na

renda e crescimento da pobreza.



2. Do nosso ponto de vista, a atual crise decorre da vulnerabilidade externa

da economia brasileira, que é resultado dos erros cometidos pelo governo nos

últimos oito anos. Em lugar de fazer o país crescer, robustecer o mercado

interno e exportar mais, o governo adotou um modelo em que o Brasil ficou

estagnado e dependente da volátil liquidez internacional. Com isso, a cada

nova turbulência é necessário contrair novos empréstimos.



3. Dentro desse modelo, tornou-se inevitável recorrer outra vez ao FMI. Nós

sempre dissemos que era melhor não ter que ir ao FMI. A história recente da

intervenção do Fundo na América Latina é um testemunho dos graves equívocos

da sua concepção monetarista, ortodoxa e recessiva. Mas tendo-se tornado

inevitável, entendemos que este acordo permite tranqüilizar o mercado e, com

isso, dar uma chance, se forem tomadas as medidas corretas, de o país voltar

a crescer. Pretendemos, nesta campanha eleitoral, mostrar que o Brasil, com

um novo governo, apoiado em outra coalizão, tem todas as condições de

implementar as mudanças sociais que o povo reclama. Mas para isso, o país

precisa voltar a crescer, compromisso maior de nosso governo.



4. O governo atual não deve acomodar-se com o acordo a que chegou com o FMI.

Em primeiro lugar, é preciso que os bancos internacionais restabeleçam as

linhas de financiamento comercial e renovem as linhas de crédito às empresas

brasileiras que precisam saldar dívidas em dólar. Não podemos permitir que

essas empresas quebrem e assim aumentem o desemprego no país. Deve-se,

também, tomar medidas emergenciais com vistas a diminuir a nossa

vulnerabilidade. Para isso, é preciso votar com urgência no Congresso uma

mini-reforma tributária que desonere as exportações, preserve as receitas

tributárias e contribua para gerar um grande superávit comercial. É

necessário, além do mais, reabrir as linhas de crédito às empresas

exportadoras. Faz-se urgente reativar o Proex, cuja verba prevista para o

ano todo esgotou-se em junho. É necessário que o BNDES diminua os juros

cobrados dos exportadores. É preciso também defender com vigor a economia

popular, impedindo que os bens de consumo do povo, como o gás, o pão e os

remédios, aumentem de preço em função das variações do dólar.



5. Fazemos um alerta ao governo quanto ao uso das reservas brasileiras. A

autorização para redução do piso das reservas líquidas em US$ 10 bilhões,

ainda que aumente a capacidade de o atual governo defender a moeda, se

efetivada, representa uma restrição muito grave para o início do próximo

governo. É inaceitável que as nossas reservas sejam gastas com especuladores

e o Brasil seja deixado em uma situação ainda mais vulnerável do que já

está.



6. Se vencermos as eleições, vamos, desde o primeiro dia, lutar de modo

incansável para aumentar a produção. Apostamos em um modelo econômico

alternativo, em que o Brasil volte a crescer, a exportar mais e a diminuir a

sua dependência do exterior. Na "Carta ao Povo Brasileiro" assumimos dois

compromissos para nossa estratégia de transição rumo a um novo modelo: o de

honrar todos os contratos, internos e externos, e o de preservar o superávit

primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e

destrua a confiança na capacidade de o governo honrar seus compromissos.

Para o próximo ano, o Congresso Nacional já estabeleceu a meta de 3,75% do

PIB. O acordo com o FMI estende essa meta para os anos de 2004 e 2005, o que

restringe a liberdade de política econômica do próximo governo. Nosso

governo se empenhará em criar condições para superar essa restrição, agindo

no sentido de estimular o crescimento e de reduzir, de modo sustentável, a

taxa de juros. Esse é o melhor caminho para melhorar a relação dívida/PIB.



7. Aceitamos, por ser inevitável, o acordo ora firmado. Porém, ao assumirmos

o governo, aproveitaremos de maneira soberana e responsável as negociações

periódicas que ele mesmo prevê. Acreditamos no Brasil, no potencial do país

e do seu povo. Reafirmamos os compromissos históricos representados por

nossa candidatura com uma nação soberana, justa e solidária, que só existirá

se implantarmos um novo modelo econômico no país.



Luiz Inácio Lula da Silva



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