Globalmente vivemos uma conjuntura extremamente instável e perigosa, com o risco de uma evaporação de centenas de bilhões de dólares de recursos (como já vem ocorrendo), estagnação e outros sintomas de crise financeira e econômica. No espaço mais imediato de nossas fronteiras nacionais, a situação não se configura mais sólida, confiável e promissora. O Estado esgotou a capacidade de ordenha do setor privado e do cidadão-eleitor-contribuinte. Sessenta por cento do que dispõe vai para pagamento do seu pessoal burocrático. O que resta é insuficiente para cobrir as exigências mínimas dos juros da dívida e das despesas previdenciárias. Os recursos disponíveis para investimentos em saúde, educação, moradia, estradas e outros bens fundamentais da infra-estrutura econômico-social estão minguados no Orçamento para o próximo ano. Não obstante, os alvos e projetos oferecidos pelos presidenciáveis brasileiros parecem não dar a mínima importância às limitações que a realidade apresenta aos sonhos na forma de fatos e números. A crer nas promessas de seus discursos e programas, o Brasil se situa lá fora, no Cosmos, na ilha de uma Via Láctea ou de um Big Brother para a qual apenas o céu é o limite. Como se a ambição eleitoral fosse suficiente para infundir à famosa "vontade política" o condão de uma lâmpada de Aladim capaz de converter sonhos em realidades.
Injustiça social, má distribuição da renda, baixo poder aquisitivo? Não tem problema. Aumentaremos o salário mínimo de R$ 200 para R$ 400 em quatro anos (Lula); duplicaremos seu poder de compra em quatro anos (Serra); manteremos seu valor em US$ 100, fazendo-o chegar a R$ 900 em dez anos (Ciro - embora seu presumido mandato dure apenas quatro anos); R$ 280 em 2003 e R$ 400 em 2004 (Garotinho). Além disso, Lula promete distribuição de 10 milhões de cestas básicas e, Garotinho, acabar com a fome no Nordeste.
Faltam empregos? Não tem problema. Em quatro anos promoveremos a geração de 4 milhões de novos empregos (Lula); criaremos 2 milhões por ano, 8 milhões em quatro anos (Garotinho).
Faltam moradias? Não tem problema. Construiremos 6 milhões de moradias em quatro anos (Serra); 300 mil apenas, anuncia Ciro, mas promete criar postos para vender material de construção a preço subsidiado.
A economia cresce pouco, por volta de 2% ao ano? Não tem problema. Lula fará com que ela passe a crescer a 5% e 7% anuais; Serra promete 5% ao fim de seu mandato.
Quanto à questão dos impostos? Não tem problema. Lula promete aumentar em 20% a arrecadação combatendo a sonegação; Ciro eliminaria os encargos sobre a folha salarial, passando a cobrar sobre o faturamento, reduzindo para 5 o número de impostos, criando o Imposto Sobre o Valor Agregado.
Esses são temas comuns às manifestações dos candidatos. Lula promete mais um ministério, para atender os prefeitos, afrouxamento da Lei da Responsabilidade Fiscal e o fim das invasões de terras produtivas; Serra, teto de preços para remédios, aumento de verba para programas de saúde, 4 bilhões de investimentos para recuperar estradas. Garotinho usaria 25% dos depósitos bancários para financiar a agricultura e a Petrobrás para furar poços no Nordeste, reativaria o Proálcool e aumentaria os benefícios da Previdência para quem aumentasse as contribuições.
Devo nesta altura informar ao leitor que utilizo acima dados apresentados por este jornal na sua edição de 24 de julho, quando ainda não tinham sido apresentados os programas de todos os candidatos. Tais dados naturalmente foram colhidos de pronunciamentos públicos feitos pelos candidatos. A apresentação dos programas oficiais naturalmente expandirá o campo das promessas. Mas é duvidoso que explicitem o principal, que seriam as propostas de solução para os grandes problemas já de conhecimento do público esclarecido. E também de como e de onde virão os recursos para cumprir todos os alvos já prometidos.
Assim, seria extremamente útil para esclarecimento do eleitorado que, nos debates que a seu tempo a mídia virá a promover, os questionadores se preparassem com seriedade para a tarefa de levar os candidatos a explicitar de que forma e com que recursos pretendem não só alcançar seus alvos de governo, como dar solução aos fantásticos problemas financeiros e sociais que não estão solucionados. Muitas promessas feitas nos fazem lembrar a pergunta de Garrincha sobre a forma de se vencer o jogo e ganhar o campeonato, a saber, se nosso adversário tinha sido avisado e estava de acordo com nossos desejos.
Benedicto Ferri de Barros
Benedicto Ferri de Barros é da Academia Paulista de Letras e da Academia Internacional de Direito e Economia e é autor de "Que Brasil é Este? - Um Depoimento" (Ed. Senac) e-mail: bdebarros@sanet.com.br