Usina de Letras
Usina de Letras
300 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62744 )
Cartas ( 21341)
Contos (13287)
Cordel (10462)
Crônicas (22563)
Discursos (3245)
Ensaios - (10531)
Erótico (13585)
Frases (51133)
Humor (20114)
Infantil (5540)
Infanto Juvenil (4863)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1379)
Poesias (141062)
Redação (3339)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1964)
Textos Religiosos/Sermões (6296)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Da mentira e sua dificuldade -- 09/08/2002 - 10:34 (rodrigo guedes coelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Segundo Santo Agostinho, a mentira deixa de ser pecado em certas circunstâncias - entre elas, a necessidade de preservar o próprio pudor ou o pudor alheio, desde que não prejudique outras pessoas. Pecados também menos graves são as chamadas "mentiras sociais", ou "mentiras piedosas", que todos nós conhecemos e, eventualmente, cometemos. Mais tolerável é a chamada "restrição mental". Ninguém precisa sair por aí proclamando os seus erros, confessando as suas gafes, divulgando os seus pecados, revelando descuidos morais. Afinal, todos nós temos o direito de preservar a própria privacidade, que é sinônimo de liberdade. O sigilo dos negócios e os segredos amorosos são naturais e respeitáveis.



Quando postulamos um cargo público, a coisa é diferente. O ato de representação política é tão sagrado quanto a investidura no sacerdócio. O exemplo mais expressivo da exigência da verdade diante de Deus e diante dos outros é o que o Segundo Testamento registra, no Ato dos Apóstolos. A comunidade dos primeiros cristãos exigia a solidariedade efetiva de seus membros. Isso significava a venda dos bens pessoais e a entrega dos recursos à administração coletiva. Ananias mentiu sobre o valor da herdade que vendera, a fim de reter parcela para seu uso próprio - e foi punido com a morte. Com a morte também foi punida sua mulher Safira, por ter concordado com a mentira do marido. "Você não mentiu aos homens, mas ao Espírito Santo" - foi a explicação de Pedro, antes de providenciar, não sabemos como, a morte do mentiroso. Ao mentir para a comunidade, ele e a mulher mentiram a Deus.



O Estado pode - e deve - ter segredos. O líder, diante de seus seguidores, não pode mentir sobre si mesmo. Ao apresentar-se aos eleitores, o candidato deve dizer exatamente quem é e o que pensa. O eleitor deve ter a consciência de que, escolha bem ou escolha mal, está escolhendo alguém em quem confia, e só pode confiar ouvindo o que diz o pretendente, e aceitando a sua identidade e as suas razões.



No primeiro debate entre os candidatos, na TV Bandeirantes, o candidato Luiz Inácio se lembrou de uma pérfida e caluniosa mentira do sr. Fernando Collor de Mello, na campanha eleitoral de 1989. Collor dissera que, se Lula fosse eleito, iria confiscar os haveres bancários dos correntistas brasileiros.



Graças a essa mentira e a outros expedientes, o sr. Collor ganhou o pleito.



O primeiro ato de Collor foi exatamente o de fazer o que denunciara ser a intenção do adversário.



Outra coisa foi a revelação de que Lula tivera uma filha antes de seu casamento. Lula não tinha por que - até mesmo para a preservação da adolescente - dizer aos eleitores: ouçam, eu tenho uma filha fora de meu casamento. Ele poderia ter feito essa revelação e, se a fizesse a tempo, provavelmente o povo a entenderia, mas não estava a isso obrigado. Não se tratava de um pecado contra a comunidade, mas de uma circunstância normal na vida de qualquer um de nós. Qualquer um de nós, no entanto, procuraria preservar dos holofotes públicos um filho ou uma filha adolescente. Mais tarde, o próprio Collor, cuja campanha pagou à mãe da menina o preço da delação, foi obrigado a reconhecer um filho fora do matrimônio.



O sr. Ciro Gomes, se são autênticos os documentos divulgados ontem pelo jornal O Globo, está mentindo ao povo brasileiro - e mentindo sobre um ponto importante de seu passado. Vem sendo um lugar-comum em sua campanha o fato de só ter estudado em escolas públicas. Entende-se que o candidato usasse essa circunstância a fim de demonstrar que é um homem da pequena classe média, que não pôde freqüentar escolas particulares e caras - desde que isso fosse verdade. Convinha, no entanto, ao candidato dizer realmente quem é:



descendente de famílias antigas do sertão do Ceará, que ali mandam e desmandam há mais de um século. Ele poderia, muito bem, dizer a verdade, até mesmo porque a sinceridade ajuda a inteligência, e mostrar, em seu benefício, que essa origem de classe não impediria seu eventual sentimento de justiça. Mas Ciro - e mais uma vez, repetimos, se os documentos são autênticos - preferiu não só ocultar um fato, como criar outro.



A candidatura do ex-governador do Ceará está exibindo os sinais de esgotamento, em razão mesmo da crise de identidade que a persegue desde o primeiro momento. Sob a bandeira dos velhos comunistas, que podiam ter todos os defeitos, menos o de ocultar o seu projeto ideológico, reúnem-se os conservadores mais conhecidos de nosso tempo. Não é preciso apontá-los: eles estão aí, cada um deles com o seu CPF doutrinário, e alguns com CPFs propriamente ditos, bem reveladores de patrimônios fabulosos a conservar - e a dissimular.



A mentira está fazendo o sr. Ciro Gomes tropeçar em seus calcanhares. E o clima de medo e desânimo entre os seus assessores já começa a perturbar a campanha, revertendo uma ascensão que era tão frágil quanto parece ser a palavra do candidato.



Mauro Santayana









Mauro Santayana é jornalista e-mail: MAUROSANTAYANA@aol.com

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui