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Artigos-->Entender, querer, fazer -- 13/08/2002 - 17:43 (rodrigo guedes coelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O artigo abaixo foi publicado pelo candidato à

presidência José Serra na seção Tendências e Debates

da Folha de S. Paulo de 13/08/2002



JOSÉ SERRA



A dois meses da eleição em que vamos definir a

estrutura do poder político para os próximos quatro

anos -presidente da República, 27 governadores, 54

senadores, 513 deputados federais e 1.059 deputados

estaduais-, o país faz um novo acordo internacional e

respira aliviado de uma crise que afetava todos nós,

embora, seguramente, mais de 90% dos brasileiros não

tenham conseguido entender por quê.

Dólar supervalorizado, risco Brasil em alta, Bolsa em

queda; isso nada significa para os brasileiros que mal

conseguem sobreviver, a mãe pobre chefe de família, o

desempregado, enfim, todos que nunca tiveram na mão

uma ação, um c-bond nem mesmo uma nota de US$ 1.

Esse é o encanto quase sagrado da democracia. No dia 6

de outubro, os 115 milhões de eleitores, conhecedores

ou não dos verdadeiros ou falsos mistérios e dilemas

da economia, tenham ou não uma nota de US$ 1 na mão,

serão absolutamente iguais durante os dois ou três

minutos em que estiverem escolhendo os novos senhores

do poder político. A vontade da maioria é que

determinará se e por quanto tempo o Brasil ainda vai

espirrar quando algum outro país tiver uma gripe, se e

quando terá de negociar acordos com o FMI para evitar

crises, reais ou artificiais, internas ou importadas.

O entendimento com o Fundo foi muito bom para o

Brasil.

Mas, é claro, seria melhor ainda se ele não tivesse se

tornado indispensável. Muitos brasileiros, inclusive

eu e mais dois candidatos presidenciáveis, entendem

isso: como chegamos a precisar do FMI e como foi

essencial fazer este novo (e bom) acordo.

Mas não basta entender. Uma pequena parte dos

brasileiros, que conhece os mecanismos da economia,

defende-se bem ou aumenta suas fortunas e seu poder

com a sucessão de crises. Foi sempre assim em nossos

cinco séculos de história. Tem gente que sabe, conhece

o que ocorre, mas mora no andar de cima, como diz o

jornalista Elio Gaspari. Já o andar de baixo fica

desprotegido e, quanto mais não seja, é preciso evitar

essas crises para que as coisas não desabem sobre ele.

Outra pequena parte dos brasileiros tem saudade dos

velhos tempos da ditadura e a especialidade de

bloquear mudanças, buscando se perpetuar e manter o

atraso, é sua principal fonte de poder. Aqueles dois

ou três minutos em que cada cidadão do andar de baixo

estará na cabine de votação podem romper o bloqueio.

Por isso, essa gente perturba o processo eleitoral,

inventa candidaturas e acusações, espalha boatos,

forja dossiês e as mais esdrúxulas alianças.

A embalagem é nova, um embrulho para presente, o trio

elétrico toca músicas modernas e as fantasias são bem

coloridas. Só o beija-mão revela como tudo deve ser

diferente, desde que tudo continue como está.

Por isso, não basta entender. É preciso querer. Como

seria possível mudar o Brasil que temos? Como ir além

da estabilidade duramente conquistada e preservada

pelo governo Fernando Henrique, uma vitória importante

para os excluídos sociais, porque eliminou a inflação

corrosiva dos baixos salários, tornou o real tão

valioso no primeiro dia do mês como no último? Como ir

adiante no aprofundamento de políticas sociais na

educação, na saúde e na proteção social de forma

inovadora e abrangente?

Com essa pergunta, mobilizamos mais de cem das

melhores cabeças do país em todas as áreas, para

prepararmos juntos um programa de governo. Os

brasileiros que querem mudar o Brasil -inclusive eu e

mais um candidato presidencial- já o conhecem ou

poderão conhecê-lo, através de jornais, revistas e do

site www.joseserra.org.br.

Mesmo entendendo e querendo, para fazer é preciso ter

experiência e determinação. Tenho 40 anos de vida

pública, de presidente da União Nacional dos

Estudantes a senador da República, com passagens pela

Secretaria de Planejamento de São Paulo, Assembléia

Nacional Constituinte, Câmara dos Deputados,

Ministério do Planejamento e Ministério da Saúde.

Nunca fui acusado do menor deslize com o dinheiro

público. Ninguém contestou minha dedicação nas funções

que exerci, nem a minha solidariedade com as

aspirações e os interesses do andar de baixo, da

maioria dos brasileiros.

Entendo, quero e sei como fazer para construir um

futuro em que o Brasil não precise mais fazer acordos,

mesmo bem feitos, com o Fundo Monetário Internacional,

mantenha a estabilidade econômica e, através de

mudanças pacíficas e inteligentes no rumo da justiça

social, ofereça melhores oportunidades a todos os seus

filhos e reduza a desigualdade.

Sou o único candidato presidencial cujo programa de

governo garante que as mudanças cheguem a todos e a

cada um. Pense nisso, leitor eleitor, durante aqueles

dois ou três minutos em que você e mais 115 milhões

serão donos do Brasil.





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José Serra, 60, economista, é senador pelo PSDB-SP.

Foi deputado federal pelo PMDB-SP (1986-88), pelo

PSDB-SP (1988-94) e ministro do Planejamento e da

Saúde (governo Fernando Henrique). É candidato à

Presidência da República pela coligação PSDB-PMDB.



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