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Artigos-->Do patético ao tragicômico -- 14/08/2002 - 09:17 (rodrigo guedes coelho) |
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"Do patético ao tragicômico"
Heitor Reis (*)
"O responsável pela situação atual
não é o pobre, nem o americano,
nem o militar: somos nós, a elite brasileira."
(Eugênio Staub, presidente da Gradiente)
A Folha de São Paulo, em seu caderno "Mais!", de 11/08/2002, informa que José Murilo de Carvalho é professor de História da UFRJ,
participou de uma mesa-redonda organizada pelo Instituto Moreira Salles e a editora Bei, em 18/06/2002, onde esteve presente o
Ministro Pedro Malan, entre outros. Seus comentários, apresentados na ocasião, geraram um texto (com o mesmo título deste), o qual
foi publicado naquela edição, onde alguns autores, além dele, analisavam a América Latina, "O Continente Irrelevante".
Logo no início, ele utiliza a seguinte definição de política democrática: "vigência de um sistema de governo baseado em ampla
representação e exercido em ambiente de liberdade". Mais à frente, afirma: "Hoje, pelos padrões geralmente aceitos, (o Brasil)
possui uma política democrática."
Eu gostaria de discutir aqui o fato de que ele se utiliza do "padrão geralmente aceito" e não do padrão correto de democracia.
Observe que na definição por ele utilizada há uma negligência, até mesmo quanto à etimologia do termo (demo = povo; cracia =
governo).
Até onde eu sei, e o dicionário confirma, democracia é: (1) Governo do povo; soberania popular; democratismo. (2) Doutrina ou regime
político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa de poder, ou seja, regime de governo que se
caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral pela divisão dos poderes e pelo controle da autoridade.
Será que "o padrão geralmente aceito" exclui o dicionário?
E, em termos de "liberdade do ato eleitoral", acrescento: livre, inclusive da influência do poder econômico. Numa democracia de
verdade, não poderia haver financiamento de campanhas eleitorais apenas pelos ricos. Hoje este direito é negado aos pobres,
transformando a maioria dos representantes do povo em representantes da elite, que sempre privatizou o Estado. Isto faz com que nem
todos sejam iguais perante à lei.
A democracia contrasta flagrantemente com a plutocracia, que também o mesmo dicionário define como sendo a dominação da classe
capitalista, detentora dos meios de produção, circulação e distribuição de riquezas, sobre a massa proletária, mediante um sistema
político e jurídico, que assegura àquela classe,
o controle social e econômico (Aurélio Buarque de Holanda). (1)
Cumpre ao leitor decidir-se quanto a classe que governa este país:
(a) O povo, como afirma o professor? Democracia.
(b) Os ricos? Plutocracia.
(c) Os corruptos e ladrões? Cleptocracia.
(d) Os ricos e corruptos? Cleptoplutocracia.
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Existem algumas questões sobre as quais devemos nos debruçar, para dar ao tema uma amplitude negada pelo renomado professor:
A democracia social, mencionada em seu texto na Folha, como uma possibilidade após a democracia política, ocorreria mais
naturalmente quando ocorresse o governo por qual das classes mencionadas acima?
A concentração da riqueza no topo da pirâmide social em nosso país, uma das três maiores do planeta, não seria mera conseqüência do
fato de que o povo jamais governou este país? Ou seja, de jamais termos tido uma democracia?
Ou será que o povo governaria com o objetivo de tornar-se ainda mais pobre, conduzindo a riqueza nacional caridosamente para Cayman,
Suiça e outros paraísos fiscais, freqüentados pela elite econômica, como tão bem afirmou o Secretário do Tesouro estadunidense,
Peter O Neill?
Existe democracia social sem democracia política? Existe democracia política sem democracia social?
Quando os ricos detém o controle social e econômico, eles o fazem com o objetivo de privilegiar as classes inferiores ou para
aumentar ainda mais o seu próprio poder?
Haveria interesse de nossas oligarquias em que fosse divulgado aos quatro ventos, pela mídia e universidades por ela manipuladas,
que não há democracia no país?
Quando um veículo, com a capacidade que a FSP tem na formação de opinião de nosso povo (ou melhor, da elite e classe média, já que
pobre não lê a Folha), divulga idéias desta natureza, cujos conceitos afrontam a mais básica interpretação da verdade, podemos
constatar que, além da ditadura do poder econômico, sob a qual historicamente padecemos, também permanece uma sutil, porém
dogmática, ditadura intelectual, herdada da ICAR - Igreja Católica, Apostólica e Romana. Censura implícita.
E, assim, cada vez mais distante ficamos de uma democracia de verdade, já que os donos do poder midiático e seus lacaios
intelectuais são instrumentos do poder econômico (cleptocracia) para manter iludida a parte bem intencionada da classe média e da
elite sobre o que seja a verdade. (Relembro que pobre não lê a Folha.) Ou melhor, servem aos interesses dominantes, dizendo apenas o
que seja politicamente correto, de tal forma a manter as coisas como estão. São idólatras dos "padrões geralmente aceitos". O mesmo
ocorre com o rádio e a TV, estes sim, instrumentos de lavagem cerebral da massa, para eternizá-la ignara.
Conservadorismo explícito.
Aparentemente progressista, as idéias veiculadas naquele texto, não conseguem sequer apresentar um conceito de democracia compatível
com o mais popular dicionário que possuímos. É este o padrão de ensino "geralmente aceito" em nossas universidades. Nelas, ainda
ensina-se que a Grécia é o berço da democracia, apesar de que, apenas dez por cento da população usufruía deste privilégio, quando o
restante era composto por escravos. (2)
A maravilhosa filosofia grega que cultuamos é fruto do ócio criativo, existente apenas para aqueles que possuíam (ou possuam hoje)
número suficiente de escravos concretos para permitir-lhes tamanhos saltos abstratos.
Nossas universidades, nossa mídia e a classe dominante estão aliadas no sentido de impedir a consciência crítica da manada de
milhares de debilóides que formam a cada ano. Professores de história, jornalistas, sociólogos e outros profissionais são meros
clones de um "padrão geralmente aceito" de capacidade intelectual, mantido pelas graças daqueles que, historicamente, se sustentam
no poder. Cumpre a cada um submeter-se ou não à ele. A maioria normalmente escolhe algo entre o patético e o tragicômico. Mas
altamente bem remunerado...
Referências:
(1) http://br.geocities.com/ditaduracivil - "Plutocracia x Democracia", de Osny Duarte Pereira, jurista, membro do Conselho da
República e professor do Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB , quando em vida
(2) http://try.at/HeitorReis - "Grécia, o berço da plutocracia"
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(*)
Heitor Reis é Engenheiro Civil, em Belo Horizonte, MG.
Nenhum direito autoral reservado. Use e abuse.
Aceita críticas e sugestões, dialeticamente.
Maiores detalhes e contatos:
http://try.at/HeitorReis - heitorreis@brfree.com.br
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