Agora, na maturidade dos meus dias, entendo porque minha avó, tão cheia de enlevo, escutava o programa radiofônico da velha P-R-E-9, Ceará Rádio Club, " Coisas que o Tempo Levou" , do radialista José Lima Verde, recolhendo histórias de tempos idos, fazendo tocar valsinhas e modinhas antigas, enfim, pondo o passado no presente para a memória remoer guardadas e reprimidas recodações.
Entendo o retrospecto porque chega o dia em que, cansados da lida da vida, dos piparotes que ela nos reserva em dados momentos, nós acendemos a lanterna de popa de nossa embarcação e, ao invés de iluminar a proa para enxergar o caminho que se abre à nossa frente, começamos a cascavilhar o caminho das horas vividas, talvez, quem sabe, para compreender o que está acontecendo agora.
Muitas e muitas vezes, é claro, nós não iremos descobrir um elo que nos indique o rumo correto dos acontecimentos, mas, sempre haverá uma oportunidade de encontrá-lo, quiçá num gesto que esboçamos, numa frase dita em hora errada, uma decisão tomada sem reflexão e sem o cálculo dos riscos, enfim, é nos dias já vividos que nós temos a resposta para muitas das coisas que vivenciamos hodiernamente.
E, com os olhos umedecidos pelo pranto das recordações de dias saudosos, nós olhamos para o presdente tão sáfaro, pensando numa volta impossível que o tempo, comboio em disparada sempre no rumo do porvir, a toda hora nos adverte como corvo de Poe: NUNCA MAIS, NUNCA MAIS.
Mas, não tem problema, os "flashbacks" fazem bem, desde que não percamos muito tempo com eles, retirando as lições que devem ser aprendidas para podermos ir confiantes em busca do nosso futuro.