A cada passada, numa ginástica mental, conto os passos que encurtam o caminho até o elevador. O botão plantado na parede antecipa-se à pressão do dedo e se acende. A resignada espera de dez minutos encerra-se ao acender das flechas, e abrem-se, de par em par, as portas do caixote de aço. Meu par de tênis apressa-se em acomodar-se entre a sandália vermelha de salto alto e o sapato preto clássico masculino. Com que então, à altura dessas boas catorze horas, quantos são um Pedrinho de vinte quilos somado a sua mãe de uns oitenta, adicionado da barriga do advogado do terceiro andar, descontado o cabelo curto da mocinha, acrescentada a macarronada do almoço, abatida a dieta do velhinho diabético? Vem o pasmo: o peso da carga é o dobro dos quilos incrustados no aviso fosco das paredes retangulares. Inútil cálculo, náuseas.
Num instante, o elevador é uma grande caixa com a inscrição "Cuidado frágil". Frágil cuidado. No fosso escuro, enquanto gira a manivela da engrenagem, a ebânea graxa lubrifica os mecanismos confusos, e é ela tão suja ante a alvura desses ternos bem passados! Espetáculo desconcertante esse, marcha silenciosa de cegos confinados, vidas suspensas em cabos, nenhum horizonte, apenas pensamentos pré-agendados. Nas esferas oculares, medra a insignificância de criaturas prisioneiras. Que venha a lava do Vesúvio e cristalize toda sombra de dúvida, esculpindo gritos derramados na incandescente lava! Diria algum sábio: "São estátuas de condôminos a caminho de suas casas, reféns do conforto e da pressa". Tantas são as angústias pendidas desse táxi! Companheiros de viagem são os estranhos de todos os tempos. Engrenagens acondicionadas em engrenagens.
(Quem desejo ver não anda em elevador nem em lugares públicos. Nada resta senão compor um poema em homenagem ao vazamento do meu banheiro. Meus olhos livram-se de mim e rolam pelo elevador até tecarem outro par de esferas. Meu fracasso! Alguém ri. A continuar esse suplício, apeio mais cedo cinco andares e subo os mais de escada. Já posso adivinhar o silencioso pisar do solado antiderrapante dos meus tênis).
Mas grita a realidade: são segundos! O martírio dura uma perpetuidade, e o relógio, indiferente, gira os mesmos ponteiros. A cada plim a porta se abre: salva-se mais uma alma, rumo aos quarenta metros quadrados de "céu" apartamento. Atrás, seguem viagem passageiros acotovelados. Trancafiados outra vez, recomeçam os exercícios primevos de desvios de olhares, displicentes folhetos publicitários enfiados na bolsa. Por enquanto, meios-sorrisos, esboços de cumprimentos, e a porta maquinal segue selando desenlaces. Já agora, risos, vozes mansas, sussurros preenchem a curta distância entre o ancestral silêncio e os macerantes minutos a pulso compartidos. Vazio nesse instante, desce o elevador para nova viagem. Do céu à rua, sem baldeios, solitário.