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Artigos-->Canto do Cisne -- 19/08/2002 - 21:34 (rodrigo guedes coelho) |
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Laerte Braga
Acabou sendo o palco de Lula. O candidato do PT levou a FHC uma
carta contendo uma série de sugestões para os quatro meses e meio que
faltam para o término de um desastrado e corrupto reinado de oito anos. A
própria imagem do “presidente”, a despeito de todo o esforço da “Globo”, no
“Jornal Oficial”, dito “Nacional”, foi a de quem já está tomando café
requentado.
Lula cumpriu um compromisso eleitoral e o PT soube transformar o
palco para o canto do cisne de FHC num evento favorável. Foi, disparado,
dentre os quatro candidatos, quem melhor saiu-se naquilo que, a princípio,
parecia uma armadilha.
Outra aspecto que ficou claro é que, nessa altura do campeonato,
nem FHC acredita que José Serra possa chegar ao segundo turno. O enfoque do
“presidente”, na entrevista que deu após o encontro com o candidato Anthony
Garotinho, o último dos quatro, foi a de quem quer parecer estadista e não
conseguiu ser mais que uma pálida imagem do FHC de oito anos atrás, quando
eleito para o primeiro mandato. As caras de Pedro Malan e Armínio Fraga,
principais agentes do FMI e do sistema financeiro internacional no Brasil
não eram diferentes. Junto deles, Euclides Scalco, ministro Chefe da Casa
Civil, neste momento cumprindo temporada de batedor de carimbos.
Não houve concordância com o acordo feito com o FMI, a despeito de
todos os candidatos manifestarem intenção expressa de cumprir contratos,
manter o superávit primário de 3,75%, controlada a inflação e assegurada a
estabilidade da moeda. Mesmo com o dólar a 3,11 reais, cotação de
segunda-feira.
Ciro Gomes, dos quatro, foi o que aparentou estar menos a vontade
no encontro. Reiterou os mesmos compromissos assumidos por Lula e foi vago
em relação ao entendimento com o FMI. Disse que pediu as cópias dos
documentos para estudar em caráter de urgência e depois emitir parecer por
escrito.
O Ciro light e educado que busca mostrar depois do Ciro explosivo
e mal educado, exposto pela imprensa em todo o Brasil, por conta de sua
veia “collorida”, não estava muito tranqüilo. Ou o sapato apertava. Ou o
colarinho. Ou a roupa estava grande demais, o fato é que o candidato, em
seu novo papel, não sabia sequer onde enfiar as mãos.
Garotinho confirmou a impressão generalizada que brinca de ser candidato a
presidente e é apenas um “molequinho”. Falou uma coisa para FHC, deixou uma
carta num envelope fechado contendo a nota oficial de seu partido, o PSB
(Partido Socialista Brasileiro) com duras críticas ao acordo e ao governo e
explicou com seu costumeiro uma no cravo, outra na ferradura, numa
linguagem confusa, como sempre, o que fez, não fez, nada consistente.
O que está visível no candidato “socialista” é que neste momento
pensa apenas em chegar ao terceiro lugar, ficando à frente de José Serra, o
que seria um feito. É quase certo que tenha garantido o governo do Estado
do Rio para sua mulher, Rosinha, laranja sem qualquer problema, o que lhe
assegura sobrevida política mesmo sem mandato.
Serra fez o que dele se esperava. Elogiou o acordo, falou de como
vai ser o seu governo, arregalou os olhos, tentou convencer que sabe tudo e
é o melhor preparado, mas já admite, embora não tenha dito, lógico, que vai
mesmo é lecionar no estrangeiro a partir do próximo ano.
Para quem esperava um FHC num pedestal típico de um imperador
sábio, único, criador do céu, da terra e de todas as coisas, uma decepção.
É apenas o fim melancólico de quem se imaginava um semi deus, ou
mesmo, o próprio Deus, como costumava dizer Jânio Quadros.
O fato mais interessante do dia a dia político e eleitoral do
Brasil acabou sendo a decisão da família Sarney. Clássicos e notórios sem
vergonhas do Maranhão, decidiram apoiar Lula, Ciro e Serra. O patriarca,
José Sarney, está com Lula. A filha, Roseana, candidata ao Senado, está com
Ciro e José Sarney Filho, ex ministro do Meio Ambiente e deputado candidato
à reeleição, está com Serra.
Soma-se a toda a série de acontecimentos lamentáveis no vale tudo
para manter o controle das coisas e dos “negócios”.
O que acreditava-se pudesse vir a ser um dia de explosões
mirabolantes na política brasileira, terminou com um traque. Boa parte dos
jornalistas de Brasília perceberam o abatimento de FHC. Ao que tudo indica,
nem espelho mágico mais segura o homem diante da perspectiva de voltar à
condição de mortal comum.
As pesquisas divulgadas no domingo por dois dos maiores institutos
do Brasil, “Data Folha” e “Vox Populi” serviram para diminuir as
esperanças de Serra sobre ganhos com o encontro dos candidatos e FHC. Para
acender a luz laranja no esquema de Ciro. Para confirmar o tamanho moleque
da candidatura Garotinho e fazer desaparecer qualquer dúvida que o favorito
é Lula. No primeiro e no segundo turnos.
O canto do cisne acabou sendo de pato manco.
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