Ao sair ontem do encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes garantiu que iria cumprir os acordos com o FMI. Defendeu a estabilidade da moeda, o respeito aos contratos e a austeridade fiscal. Na prática, está mostrando que não está se lixando para o mercado.
O que aliviou o chamado "mercado" -essa entidade que, nas eleições, parece um ser mitológico- não foram as palavras, mas um gesto. Um gesto sempre pedido pelos empresários para acalmá-los: a indicação de Ciro Gomes para seu staff do economista Alexandre Sheinkmann, um defensor da economia de mercado.
Ciro está percebendo que o destempero e a pose de cavaleiro solitário contra as forças do mal rendem uma imagem de independência -o que tem significado, até aqui, bom desempenho eleitoral. Mas têm efeitos colateriais.
Ele sabe que, se eleito em meio à desconfiança, seu início de governo tende a ser catastrófico, minando-lhe as bases de apoio. Se, de um lado, ele precisa da imagem do rebelde, de outro, necessita de alianças na sociedade e nos partidos. Não quer ser apontado como um terrorista econômico.
Não é o mercado que está domesticando Ciro Gomes, mas a sensação de proximidade com o poder.
Gilberto Dimenstein
É colunista e membro do Conselho Editorial da Folha