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Artigos-->FHC e eles, FHC e "ele" -- 21/08/2002 - 09:36 (rodrigo guedes coelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A reunião do presidente Fernando Henrique Cardoso com os candidatos à Presidência, na segunda, 19/08, foi o típico caso "para inglês ver". Para inglês, alemão, francês, japonês e, muito, muito, muito especialmente, para americano ver.



Os textos podem ter variado um pouco pra lá, um pouco pra cá, mas o que prevaleceu foi uma só mensagem: os candidatos com reais chances de ganhar a eleição não vão fazer estrepolias e brincar de laboratório depois de eleitos. Ou, pelo menos, logo depois de eleitos.



José Serra já estava fartamente comprometido com os tais "fundamentos" da economia e com as contrapartidas do Brasil no acordo com o Fundo Monetário Nacional. Anthony Garotinho, ao contrário, já vem batendo há tempos no governo, na economia, no FMI, em tudo o que vê pela frente. Mas ninguém acredita, a esta altura, que ele possa subir a rampa e ocupar o gabinete presidencial.



Entonces, todos os holofotes estavam sobre os dois líderes das pesquisas, Lula, do PT, e Ciro Gomes, da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB). Em comum, os dois disputam não só o primeiro lugar como também o apoio e a simpatia do PSDB num eventual segundo turno sem Serra. Em comum, também, os dois tentam se equilibrar no seguinte salto alto: uma posição de responsabilidade diante da crise e um discurso radicalizado de campanha.



Pois não é que ambos conseguiram? Depois do encontro com FHC, os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Euclides Scalco (Secretaria Geral da Presidência) e mais o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, Ciro falou sucintamente, sem direito a pergunta de repórteres. Lula leu um longo texto entregue a FHC com propostas, também sem permitir perguntas.



E ambos se comportaram conforme o script previsto pelo Planalto. Marcaram a posição de oposição. Lula deixou claro que vai mudar a política econômica logo no primeiro dia. E Ciro manteve a crítica a essa política, destacando que se bate contra ela há sete anos. Mas nenhum dos dois chutou o pau da barraca. Eles não criticaram o acordo com o Fundo, não ameaçaram descumprir as metas fiscais ou dar calote (vade retro!).



Em resumo, foram oposicionistas, sim, mas agiram como "estadistas", passaram a imagem de "responsáveis" e "maduros", com um empurrãozinho, claro, de suas assessorias. A de Ciro recomendou que ele falasse o menos possível, para não continuar trocando desaforos a torto e a direito. A de Lula escreveu o texto, deu para Lula ler e evitou, assim, que ele tivesse rasgos de sinceridade e desse um safanão, ou pelo menos um safanãozinho, no FMI ou no governo.



À saída, Garotinho distribuiu um texto azedo contra o governo, e Serra falou mais uma vez, e como sempre, como se estivesse numa cátedra, não no meio de uma campanha. Em comum com Lula, Serra também apresentou propostas para FHC, como a de baixar o preço do trigo -leia-se, do pãozinho.



Se todo mundo cumpriu o scritp direito, FHC não só fugiu do seu como criou o principal gesto e o mais importante fato político do dia: depois do encontro formal com os assessores de lado a lado, chamou Lula num canto e falou uns dez minutos com ele.



Na véspera do horário eleitoral gratuito na TV e diante da perspectiva de um segundo turno Lula-Ciro, a mensagem foi clara: se for assim mesmo, FHC tende mesmo, e cada dia mais, a apoiar Lula contra o ex-correligionário Lula. Falta saber, agora, se o PSDB irá atrás. Ah. E se o eleitorado governista também.





Eliane Cantanhêde

Eliane Cantanhêde é diretora da Sucursal de Brasília e colunista da Folha

E-mail: elianec@uol.com.br

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