No início do ano os norte-americanos bombardearam duas vilas afegãs mataram 10 policiais das forças governamentais que apoiam os EUA. Havia denúncias de que essas forças andavam maltratando a população. Repórteres norte-americanos entrevistaram os prisioneiros, que disseram ter sido maltratados pelas tropas dos EUA. Depois disso, a ação norte-americana mudou, deixando para as tropas especiais afegãs a tarefa de maltratar – é claro, na presença de tropas dos EUA.
Essa mesma mudança se deu no Vietnã. É uma das razões pelas quais as tropas britânicas se retiraram do Afeganistão, ao se dar conta, segundo um membro de uma entidade humanitária inglesa, de que “os norte-americanos não tem nenhum interesse real em fazer esse país retornar à lei e à ordem”.
Membros da alta oficialidade norte-americana solicitaram ao recém empossado presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, que ele isentasse os militares que treinam tropas locais de qualquer acusação de abuso de direitos humanos. Esse pedido faz parte da campanha internacional do governo George W. Bush para prevenir acusações do Tribunal Penal Internacional contra norte-americanos.
Valendo-se da legislação antiterrorista aprovada pelo Congresso e assinada pelo presidente dos EUA, o governo norte-americano afirma expressamente que a ajuda militar será cortada dos países que ratificaram o Tratado, com exceção daqueles que recebem um tratamento especial dos EUA.
O tema é essencial para o presidente colombiano, que, eleito com fortes acusações e suspeitas de manter vínculos com paramilitares, teria dificuldades de se retirar de um Tratado assinado pela Colômbia dois dias antes de sua posse, mas que ao mesmo tempo joga todo seu programa de militarização generalizada do conflito colombiano num aumento substancial do auxílio dos EUA. Até agora, o governo norte-americano conseguiu a imunidade para suas tropas apenas de dois países – a Romênia e, é claro, Israel.
Fica claro, então, como a negativa do governo dos EUA a ratificar o Tratado tem a ver diretamente com a idéia, parte integrante da política de “terror infinito” a qualquer custo do governo Bush, de que a lei internacional deve valer para Milosevic, para Sadam Hussein e para os que eles consideram “terroristas”, mas não para os EUA, que pretendem se dar o privilégio de usar quaisquer métodos de ação, no Afeganistão, na Colômbia ou em qualquer terreno de sua guerra global, fora de qualquer controle internacional.