Quando, nos idos tempos de boas aulas de Português no Colégio D. Bosco em Piracicaba, o Prof. Benedito Antonio Cotrim nos deu as frases “Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos” e “Roma me tem amor” como exemplos de palíndromos, achei interessante e me recordo que fiquei repetindo isso em casa por um bom tempo. Como pode uma frase ter a propriedade de formar uma outra igual a si mesma quando lida ao contrário? Em Matemática, seria como se isso fosse o resultado de um operador que transformasse o inverso de uma função em si mesma. Ou um operador trivial que não alterasse nada ao ser aplicado a uma função, como a derivada da exponencial ex, por exemplo. Interessante! Algo mais poderia ser assim na natureza, me questionei? Mais tarde, depois de ter feito o curso de Física e estudado vários aspectos da Termodinâmica, percebi que os palíndromos podiam ser entendidos como exemplos de reversibilidade espacial. Mesmo não sendo um sistema físico ou biológico esse em estudo, constata-se que a frase lida ao contrário é a mesma, ou seja, é reversível no espaço. Recentemente tomei contacto com os processos irreversíveis de Ilya Prigogine, o ganhador de Prêmio Nobel em Bioquímica, que afirma que a verdadeira vida se coaduna com processos irreversíveis no tempo. Portanto, se puderem ser definidos os “palíndromos temporais”, esses estariam em oposição à vida Os processos irreversíveis é que apontam a flecha do tempo e, segundo a Teoria do Caos, fazem com que a vida seja definida como uma propriedade emergente de um sistema longe do equilíbrio. Na verdade, para mais desespero dos disciplinadores medievais em atividade, ela é plena no limiar do caos. Conceitos fortes e difíceis de serem aceitos pela mentalidade clássica e cartesiana de nosso sistema educacional. A visão antiga e cômoda é a de que quanto mais próximo do equilíbrio, melhor. Quem advoga essa causa deve gostar de cemitérios. E dizem mais ainda: quanto mais reversível, melhor. Afinal, a Física clássica diz que os processos reversíveis é que são ideais e que, a todo custo, dever-se-ia evitar as perdas por atrito, as quais tornam os sistemas “menos perfeitos”. Ligação direta com os filósofos gregos da perfeição que deram estrutura à revolução científica do século XVII. Que dizer das irregularidades que dão significado à vida, o que foi elucidado pela Teoria do Caos e pela Geometria Fractal nas últimas décadas? Bobagens demais para merecerem crédito, dizem os cavernosos encilhados de Platão do alto de suas cátedras universitárias. Esse pessoal pensa que com essas loucuras modernas podem explicar qualquer coisa, regurgitam eles no mais recôndito de seus esconderijos institucionalizados.
Agora, ao ler o ótimo artigo de Rômulo Marinho no site da Usina de Letras na Internet, alguns insights me vieram ao pensar nas eleições que se avizinham. Se tomarmos esses conceitos como arquétipos a serem trabalhados, podemos analisar a vida política dos candidatos como sendo ou não exemplos de palíndromos temporais. Se o candidato, pelo retrospecto, insiste na constância inócua da busca do equilíbrio, onde não há diferença de energia e, portanto, onde não se realiza trabalho, este seria um exemplo de palíndromo temporal. É como se fosse um “1001” no tempo. É a busca do ponto onde, classicamente, não há perdas. Não percebem que esse é o céu que não existe. Se derivá-los, permanecem idênticos. São triviais demais para qualquer mudança significativa. Indo além do pessoal, pode-se pensar também nos candidatos que, embora sob disfarces variados, tem a intenção de manter o país num grande palíndromo temporal se analisado de 1500 até agora. Ou seja, de lá para cá ou daqui para lá, dá na mesma. Mudança de zero %. Operador trivial, de novo. Se, por outro lado, o candidato analisado mostra estar em constante mudança, seria um exemplo de irreversibilidade no tempo, o que em termos de natureza significa evoluir. O mesmo se aplica em termos de sua perspectiva para a nação em relação aos 500 anos passados. Cabe a nós decidirmos, entretanto, se as mudanças que eventualmente ocorreram, ou que estão sendo propostas pelo candidato, são realmente eficazes e estão em harmonia com a natureza, ou seja, se significam evolução ou não. A visão mais ampla e integrativa da natureza, nesse caso, não é opcional para o eleitor. Isso porque, segundo Prigogine, a natureza só evolui para melhor, o que está em sintonia com o conceito de auto-organização de sistemas vivos, a conclamada autopoiese de Maturana e outros.
Assim, levando em conta os conceitos da Termodinâmica de Prigogine, da Teoria do Caos e as ricas e detalhadas explicações de Rômulo Marinho na net sobre palíndromos, podemos ter mais elementos para classificar nossos candidatos e, quem sabe, poder votar mais conscientemente desta vez. As questões para pensar, no momento, são: Queremos eleger palíndromos temporais ou não? Ou seja, vamos eleger “a grama amarga” como nosso representante, de novo? E ainda: Somos capazes de identificar os candidatos palíndromos? Se sim, não nos deve ter custado tempo para perceber os quatro exemplos de palíndromos colocados neste texto. Pelos conceitos de Ressonância Mórfica do biólogo Rupert Sheldrake e de Emaranhamento Quântico, detalhado pelo físico Roger Penrose, temos a tendência em votar em semelhantes. Portanto, cuidado com as respostas às questões acima.