Esse momento da vida brasileira, no qual se integra a campanha eleitoral, parece estar produzindo aquela sensação de nervosismo que antecede as tempestades. Isto porque, dependendo de quem chegue à presidência da República, pode acontecer o dilúvio da completa deterioração da economia. Na enxurrada seremos levados de roldão na contramão de história e se passará muito tempo até que advenha a bonança.
Não há sequer a certeza de que por detrás do futuro governo subsistirão alguns daqueles que fazem a diferença, como o competente presidente do Banco Central Armínio Fraga ou o novo personagem descoberto pelo Brasil nesta campanha, o brilhante economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton. Afinal, tanto um quanto o outro faz parte daquele raro grupo de homens capazes de aliar à própria inteligência a formação de alto nível e a experiência profissional. Isso elimina de suas ações cartesianas a probabilidade do improviso, tão disseminado no País de modo geral e, o que é pior, tão largamente empregado por aqueles aos quais delegamos o poder de decidir por nós.
Significativamente, enquanto alguns analistas políticos esperam que o Programa Eleitoral Gratuito mude (se é que vai mudar) alguma coisa no panorama das intenções de votos, persiste uma constante que faz pensar em como o candidato do PT vem sendo auxiliado em sua quarta tentativa para assumir o cargo mais alto República. Daqui a pouco, como notou Denis Rosenfield em artigo no O Estado de S. Paulo, bastará que Lula fique apenas sorrindo, não vai precisar falar nada pois nada o atinge, nenhuma crítica lhe é feita.
Aliás, seria melhor mesmo, pelo menos para a cúpula petista, que seu candidato permanecesse mudo e sorrindo como uma Miss. Quando ele não lê o que lhe mandam recitar é um desastre completo e, caso ganhe as eleições, sinceramente não sei como fará, porque em algum momento terá que falar por contar própria tanto em conversas com lideranças brasileiras quanto internacionais. E nesses instantes ele poderá, por exemplo, palrar com entusiasmo sobre seu governo "positivista". Se tivermos Lula-lá, é melhor que os dirigentes do seu partido o mantenham em prolongadas viagens, que é o que ele gosta. Sobretudo, viagens para Cuba e Venezuela onde estão seus "modelos de democracia", Fidel Castro e Hugo Chavéz.
De todo modo, Lula e o PT continuam sendo "beatificados". Nenhum escândalo, nenhuma denúncia, que para outros seria fatal, atinge o partido acima de qualquer suspeita. Ao mesmo tempo são poupadas administrações petistas, a maioria notabilizando-se pela mediocridade e pela incompetência, sendo que a imprensa dos municípios são extremamente condescendentes com os senhores alcaides do PT.
Enquanto isso, o candidato Garotinho, já dando como perdida sua eleição, veste a fantasia do populista latino-americano, integra o bloco dos contra o FMI e promete apoio no segundo turno ao destaque do PT, Luís Inácio Lula da Silva.
Como se isto não bastasse, o candidato José Serra tem tido como alvo constante de suas críticas, tão somente o candidato Ciro Gomes. Ótimo para Lula que segue adiante leve, livre, solto e sorridente, acreditando que é um estadista só porque lhe vestiram um terno de griffe.
Mas há ainda algo que ajuda muito. O PT possui aliados num setor ideológico formado por pessoas como as que o Almirante Mário César Flores, em magistral artigo publicado no O Estado de S. Paulo de 20/08, definiu como aquelas que "cultivam concepções de segurança nacional anticapital privado e pró-capitalismo de Estado, mesmo que as estatais se pautem por interesses corporativos nem sempre coerentes com a segurança nacional".
Diante de tudo isso, pergunto: Como será 2003? Talvez nem Nostradamus pudesse prever o que acontecerá. Mas que há aquele clima que precede as tempestades, isso há.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, escritora e professora universitária.