Houve uma época - não muito distante, infelizmente - em que meus olhos estavam voltados para a terra de Tio Sam. Nessa época, eu reverenciava gente como John Rawls e achava que a suprema glória era conseguir vencer em Harvard.
Foi nessa época que eu encontrei o sr. Roberto Mangabeira Unger, titular em Harvard e teórico-mor do hoje candidato a presidente Ciro Gomes. Unger estava rondando a livraria Cultura do Conjunto Nacional com o seu neto - ao que parece - com aquele jeito macambúzio que só ele parece ter.
Já havia lido um livro e folheado outro de Unger. O professor, menino-prodígio que fez toda sua carreira nos States, é sem dúvida dono de vasta erudição (alemão, chinês etc.) e de pensamento original (se bem que não sei bem em que descansa tal originalidade).
Quando estava saindo, peguei o professor e perguntei-lhe sobre Rawls. Ele respondeu-me algumas coisas quando foi pego por outros basbaques que queriam a assinatura dele no seu livro "Paixão" (que ainda possuo, não li e hoje não quero mais ler).
Desde então, Unger foi pré-candidato à prefeitura paulistana (perdeu as prévias no PSB acusado de pretender filiar correligionários na última hora com o único intuito de aumentar sua votação). Sumiu por algum tempo, aparecendo agora como todo-poderoso (?) de um sempre oligarca Ciro.
Passados alguns meses da prévia à prefeitura, topei com o professor em uma banca na Paulista. Saí esbaforido perguntando-me por que é que o basbaque não ia comprar seu jornal na 5a. avenida.
Sei o quanto podem impressionar o currículo do professor e seus conhecimentos em quem vive de olhos vidrados na terra do tio Sam. Sei-o de experiência própria.
Acontece que cresci. Não acho que existam receitas milagrosas para países em crescimento e menos ainda acredito em transposição de saberes alienígenas que alienígenas outros consideram portentosos. Quem manda aqui são brasileiros de olho em suas próprias realidades.
Pois em política pouco importam pretensos sábios que sabem chinês tão bem a ponto de traduzir obras de pé. Em política importa saber qual a vontade nacional e como fazer para torná-la realidade. Para isso não é preciso sequer sair do próprio rincão. Quanto mais meter-se a sábio disposto a tornar-se tirano sem com isso dispor-se a pagar com a própria cabeça pelos erros que porventura venha a cometer.