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Artigos-->MÉDICOS E DEUSES -- 14/09/2002 - 17:54 (Gabriel Salgado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MÉDICOS E DEUSES



Recebi recentemente um texto de uma pessoa que questionava justamente assim: Médicos: Deuses ou Semi Deuses?

Certamente, não existe uma só pessoa na nossa sociedade que não tenha estórias para contar, episódios onde a sua relação de qualquer ordem com médicos, não tenha apresentado resultados e avaliações tais como sentimento de admiração, dedicação, loucura, falta de sensibilidade, desrespeito, desorganização, sentimento de superioridade, paixão, afeto, sabedoria, e mais uma infindável relação de características contraditórias, provando que nesse mundo, como para todo mundo, tem de tudo do bom e do pior.



Minha contribuição para o assunto, no entanto, procura apenas dissecar – para usar um termo médico – alguns dos quadros de fatores que levam a tal comparação e a tantos questionamentos. Mas não pretendo esgotar o assunto, nem comprar polêmicas. Apenas, como convivi com a área médica durante toda a minha vida, desde filho de médico, sobrinho de médico, bisneto de médico, primo de médico, colega de república de estudantes de medicina, publicitário e especialista em marketing que atendeu várias organizações na área da saúde, acabei conhecendo bastante dos dois lados da moeda, já que também não passo de um constante paciente.



Nenhuma profissão, fora da área médica, exige tanto estudo e tanto tempo de formação. Comparável apenas à física, e ao marketing. O aprendizado não pode parar nunca. É um dos cursos mais caros do nível superior e de maior duração, exige especializações, domínio enorme de milhões de detalhes, conhecimento científico que se enriquece a toda hora, e que não permite que se siga sempre a mesma regra, porque tudo é muito evolutivo.



Os médicos estudam Doenças, mas tratam de Doentes. Pode parecer que seja a mesma coisa, mas não é. Pelo contrário. Em cada paciente, uma determinada doença evolui e se desenvolve de um jeito próprio, condicionado por inúmeros fatores, desde os genéticos como os da diferente estrutura celular e das defesas do organismo de cada paciente.



Ninguém mais, se aprofunda tanto na figura física do ser vivo como o médico, conhecendo milhões de detalhes da intrincada e complexa barafunda orgânica que faz esse universo infindável de segredos chamado ser animal vivo.



Mas esse ser animal, quando vivo, tem um comportamento, condicionado por fatores subjetivos, emocionais, psicológicos, e morto, tem outro comportamento ou reação totalmente diversa. O médico está sempre supondo e aprendendo com cada caso.



Por mais estudado, competente e conhecedor que seja, o médico, na sua luta para defender a vida, sofre constantes derrotas para a morte, e certamente, mesmo que não culpe a ela, tem que se resignar achando que foi vontade de Deus, ou então, aceita que sua competência de nada lhe serve como garantia nessa guerra.



Ao mesmo tempo, a prática da medicina, mesmo impondo terríveis sacrifícios ao médico, obrigando-o a conviver sem marcar hora, tempo ou lugar, com o infortúnio e a desgraça de doenças e acidentes, ou melhor, de doentes e acidentados, é sua forma de ganhar a vida, é uma prática comercial, que a cada dia está sendo mais complicada de fazer chegar à população de uma forma razoavelmente qualitativa.



Se de um lado, milhões de pessoas, por culta da desigualdade social, não tem recursos para poder pagar o acesso aos cuidados de saúde, que sempre são caros e dispendiosos, os famosos Planos de Saúde não são mais solução para nenhum dos lados, uma vez que se achatou o valor pago ao médico por cada atendimento, e por sua vez obrigou-o a fazer dezenas de atendimentos por dia, para conseguir faturar ou receber o equivalente ao que recebe um motorista de ônibus ou um simples camelô de uma capital. Não diminuindo ninguém, o custo para formar um médico já o coloca num outro nível de remuneração. O paciente então, recebe do médico o tempo e a atenção que pode ser dada, sem que o médico inviabilize sua atividade e a atividade onde trabalha, pois são sempre centenas de pessoas esperando para serem atendidas. Se não cumprir metas não serve.



Para complicar, uma consulta não permite que se tenha total controle do tempo, pois em cada paciente, as respostas, os problemas e o quadro geral condicionador são específicos, impedindo que se aja como numa linha de montagem de indústria, encaixando peça a peça na mesma ordem e seqüência.



Comparo muitas vezes a dificuldade do médico à dificuldade de um consultor de marketing. O paciente, geralmente chega depois de ter passado da hora de socorrer com tempo hábil. O que poderia ser simples de resolver já se complicou. Os recursos necessários às vezes excedem a capacidade do paciente e tornam mais difícil o tratamento.



Os pacientes, geralmente, falham ou não seguem exatamente o recomendado, não tomam o medicamento certo, não abandonam práticas paralelas prejudiciais, não confiam totalmente na exigência feita pelo médico ou pelo consultor de marketing para que o tratamento tenha êxito.

No entanto, ele jamais dirá, no caso de uma complicação, que a culpa foi dele, pois foi o médico ou o consultor que não foram capazes de resolver uma coisa que depende mais do empenho e da dedicação de cada paciente, mesmo que todos os fatores externos não estejam totalmente sob o controle de nenhum dos dois.



Assim, a coisa se complica e todos têm a democrática opção de tecer sua opinião, de fazer juízo ou julgamento quando a coisa não sai como se esperava.



Claro que como em todas as profissões, existem bons e maus profissionais. O problema é que para estas duas atividades, a questão é sempre grave, porque na área do médico, se acontece a falha ou a derrota, está em jogo a vida do paciente e na área do consultor de marketing, se ocorre a falha ou a derrota, está em jogo a saúde do negócio e uma vida inteira de clientes e funcionários ligadas ao mesmo eixo.



Assim, acredito que este texto não encerra o assunto, mas levanta uma visão muito mais detalhada da complexidade de detalhes que essa luta entre os homens está sempre trazendo no incontrolável novelo embaralhado do nosso destino. Desculpem-me as céticas opiniões, mas Deus ou os Deuses não tem nada a ver com isso. Se tiverem, que resolvam, pois para isso se acredita que existam.

Gabriel Salgado.

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