Marcos Coimbra, Diretor do Vox Populi, afirma que menos de 30% do eleitorado tem candidato definido
SILVIO BRESSAN
Menos de 30% da chamada intenção de voto pronunciada nas atuais pesquisas eleitorais deve ser levada a sério. A advertência é do próprio presidente do Instituto Vox Populi, o cientista político Marcos Coimbra, que chama a atenção para a existência de três respostas diferentes a uma mesma pergunta. "Damos o nome genérico de intenção de voto, mas só 30% têm mesmo convicção da escolha e não mostram disposição de mudar", cita o especialista. "Entre os outros 70%, existem os que estão gostando ou simpatizando com alguém e aqueles que apenas lembram de um nome."
São essas duas últimas respostas, ressalta Coimbra, as principais causas da subida do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas mais recentes. "Tratam-se de intenções vagas, lembranças sem qualquer compromisso, que podem mudar de uma hora para outra", adverte.
No último levantamento do Vox Populi, Lula chegou a 42%, enquanto seu adversário mais próximo, José Serra (PSDB), está com 17%. Segundo Coimbra, isso se deve à aparição maciça de Lula, desde o mês passado, nos horários gratuitos do PT na televisão.
Comerciais - O diretor do Vox Populi lembra que o candidato petista teve 8 dias de comerciais, com 40 minutos por emissoras. Desdobrados em 30 segundos, foram 80 comerciais por emissora. "Agora, você pega 80 comerciais na TV Globo, no espaço de um mês, e vê se não lança qualquer coisa", compara Coimbra. Além disso, acrescenta, Lula teve mais 20 minutos, no dia 9 de maio, com o programa nacional do PT. Dois dias depois foram realizadas as pesquisas eleitorais divulgadas nesta semana.
"Lula se beneficiou da simpatia e da lembrança de muitos eleitores, por causa da intensa presença na mídia naquele momento", explica o cientista político. "Some-se a isso o fato de que ele ainda é, de longe, o candidato mais conhecido de todos e você tem uma boa explicação para essa subida."
Como essa exposição de Lula na mídia não se repetirá daqui para a frente, Coimbra prevê que o candidato petista pode perder alguns pontos. "Até o fim de junho, quando começa mesmo a campanha, é muito pouco provável que Lula cresça ou se mantenha, porque os outros candidatos também vão aparecer na TV", observa. Hoje vai ao ar o programa de Anthony Garotinho (PSB). No fim do mês, a vez é de Serra. E em junho, se a aliança com PTB e PDT for confirmada, Ciro Gomes (PPS) terá seu horário televisivo.
Assim, o diretor do Vox acha que o mais provável é que, quando a campanha começar de verdade, os candidatos voltem aos patamares do ano passado, com Lula na dianteira (em torno de 30%) e os outros numa faixa de 10% a 20%.
Na verdade, compara ele, a situação lembra mais 1989 do que 1994 ou 1998. Em 1989, Fernando Collor chegou ao segundo turno com 27%, enquanto Lula e Leonel Brizola (14%), Mário Covas (12%) e Paulo Maluf (10%) brigavam pela segunda vaga. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique polarizou com Lula e venceu no primeiro turno. "As chances de Lula ficar fora do segundo turno são tão pequenas quanto as chances de ele vencer no primeiro turno", afirma Coimbra.