Uma amiga de São Paulo me confessou que sempre foi mais homossexual do que hetero, sempre teve seus casos com outras mulheres, muito embora aceitasse um parceiro eventual de vez em quando. Os homens que encontrava, dizia ela, na sua grande maioria eram péssimos na cantada, fracos e previsíveis na cama, implicantes, egoístas no dia-a-dia, alguns até sem imaginação e reprimidos no sexo, desconhecendo as verdadeiras maravilhas que o corpo de uma mulher e seu espírito inquieto pode e gosta de experimentar. Claro que nós sabíamos que a generalização sempre é um perigo. Mas a questão não se resumia apenas a isso. O que ela também apontava era que algumas mulheres com as quais mantivera um caso, depois de algum tempo, começavam com cobranças, ciúmes, pediam fidelidade a ela, ou se revoltavam quando percebiam que ela se sentia livre para manter sua vida amorosa e sexual sempre ativa e desligada da prisão de uma relação monogâmica, abrindo espaço, inclusive, para algumas companhias masculinas. Esse comportamento antiquado e possessivo das parceiras deixava minha amiga revoltada, embaraçada, percebendo que elas acabavam agindo exatamente como os homens que ela procurava evitar e que as amantes também criticavam. Independente, madura, liberada e ativa, ela sofria a discriminação de mulheres e de homens que após terem saciado sua vontade imediata de sexo, se revoltavam com isso devido à dificuldade de aceitarem a capacidade dela em ser livre. Consideravam-na devassa, sem pudor ou amoral. Ela se sentia digna e soberana, cada vez mais independente, cabeça totalmente arejada. E era precursora de uma atitude de busca em exercer seu prazer e seu poder para desfrutar do que lhe desse na vontade, sem ter que seguir normas ou imposições ditadas pela sociedade. Ela fugia da “ficção” do “amor” mas buscava a “realidade” do “amar”. E a cada dia essa mudança parecia se espalhar como ondas em um lago atingido por uma pedra. Sim, tenho a sensação de que as mulheres, por incrível que pareça, (que sempre achei menos conservadoras) nunca foram de fato as forças alienadas e retrógradas. Isso sempre foi produto do preconceito machista. Não seriam as leis e normas – na maioria as grandes condenadoras dessa liberdade da mulher – criadas e comandadas, de modo geral, por homens? Em contrapartida, as mulheres arejadas como essa amiga estão sabendo separar sua fé e sua bondade filosófica de sua independência pessoal e de seus impulsos de prazer. E louvam a vida e sua capacidade de amar, praticando a arte do encontro entre corpos e espíritos, entre físico e cabeças, sem medo de serem felizes. Com a chegada de novos paradigmas nos nossos tempos de aldeia global, com a conquista de sua independência econômica e social, são elas que estão provocando as principais mudanças, ficando mais ousadas. Sim, elas, com raras exceções estão definitivamente assumindo abertamente a sua total liberdade de escolha, buscando o que desejam, na satisfação de seus sonhos, fantasias e impulsos eróticos. E com isso, fazem os homens mudar. Ditam novas normas e regras. Elas se manifestam, se expõem, tiram proveito do desejo que causam aos homens (e às mulheres também), exigem beleza e estética neles, provocam com roupas ousadas, modelam o físico, colocam silicone nos seios, melhoram a plástica, tudo para serem mais desejadas, mais sensuais e admiradas. Não é apenas uma forma de ser “objeto” mas exatamente o contrário, o modo de conquistar o seu poder, pelo caminho onde sempre se julgou que fosse explorada e dominada. É a REVOLUÇÃO DO GINECEU, onde elas, com eles ou somente entre suas iguais, buscam satisfazer desejos, sonhos, fantasias, com carinho e sensualidade, livres de preconceito. Oh! Que delícia de guerra!