A água da Terra está agonizando. As cidades bebem fezes tratadas, venenos lavados com flúor; um líquido sem sabor, sem energia, que molha apenas. Cidades, antros de parasitas que tudo consomem e nada produzem a não ser papéis escritos. Cidades, aglomerados de imbecis travestidos de palhaços a rondar pelo asfalto em busca de algo que os faça sorrir. Esses seres enjeitados, que esqueceram como viver.
Cidades de seres idiotizados, de homens frouxos e mulheres fracas. Lugar reservado aos vagabundos da vida, aos covardes da criação. Gente que faz de um nada um mote de vida, que cria rabiscos e os troca por pão. Até quando?
Animais ignorantes a gerar crias que já nascem infelizes, que jamais pisarão a terra. Seres assépticos, hermafroditas fracotes, que sobrevivem às custas de antibióticos e vacinas. Crianças de ossos moles, de cérebros minúsculos e olhos sem visão. Frutos de casais de molóides que cheiram a tudo, menos um odor humano.
Teatro de fantoches manipulados até nos sonhos. Farrapos de gente a bradar hinos de consumo. Bonecos que respiram ares de aspirador de pó e se empanturram de alimentos plásticos. Pobre gente que não serve para nada. Sequer saberiam plantar um pé de couve – traidores de Caminha, almas robotizadas e programadas para o lucro.
Cidades e lucro – almas gêmeas, como o verme e os dejetos, como carne podre e abutres. Aglomerado de víboras empoleiradas a se mortificar pelas antíteses das virtudes. Artesãos de rabiscos, a roubar do desconhecido o sustento de suas proles. Mortos-vivos que perambulam pelo planeta à espera da morte infeliz. Macacos que passam a vida a se iludir com falsos tesouros. Inúteis, que não servem para nada, que nada produzem de útil, que não sobrevivem a um minuto sozinhos na natureza que destroem a cada dia, e que lhes traçará o suspiro derradeiro entre dores e contorções.
Restos da esperteza a burlar as leis do Universo em troca de rações pastosas. Comem lixo e defecam bactérias que os vão matar aos poucos. Vestem-se como símios sem estilo, a bramir personalidades forjadas a moldes. Perderam tudo – os sonhos, a beleza, o amor puro, a esperança, a alegria, a coragem. Vivem aos sorteios do desespero, da apatia, da neurose, da angústia. Vivem a longa luta de esperar pelo túmulo – nem morrer sabem.
Escondem-se entre tecidos tatuados, saturados entre luxos embebidos de ganância, a gritar aos ventos o quanto acham que podem – e nada podem. Criam filhos entupindo-os de drogas, de pós e vitaminas sem substância. Criam fetos engradados, que jamais viverão sequer o conforto uterino. São a escória da humanidade, o que de último sobrou, a tentar uma última esperança de ficar.
Não ficarão, estão à beira da expulsão final. Cambada de idiotas que tudo atrapalha. Quem sabe a volta aos tacapes os faça prestar para alguma coisa útil, seres desprezíveis e preguiçosos, indolentes e burros.
Declina a América, afunda a Europa, suicida-se o Oriente Médio pernicioso, ergue-se a terra dos atlantes. É o destino se cumprindo lentamente, a purgação do planeta a expulsar os que aqui já não servem. Ficam os fiéis, somem os teimosos. Divina é a paciência, eterna é a vida. Felicidade é inevitável, o único livre arbítrio é a tua velocidade para alcançá-la lenta, lentamente...