Porque, por quê , porquê, por que, ter tantos porquês?
É por ser uma língua cheia de armadilhas, feita para se errar, para se inventar, para se inverter, para se desfazer do velho, recriando algo a cada nova mistura de letra, palavra que fica perneta se nela mexer, ou engravida a cada enxerto, assim eu a aleijo ou fecundo, a cada instante que escrevo, e a parecença é de letra que não se comporta, dama impertinente, dona de seu próprio lugar em cada palavra.
É essa a conduta que me cabe, ao mexer com tal língua, rica e incauta, cheia de atropelos, feita para se matar, para se esquecer, para se confundir, para se inverter, e é por isso que te amo, minha língua pátria, que a cada dia profano, com a insensatez de um ébrio que não escolhe a palavra que lhe sai pela boca .
Não espero que sejas extirpada, nem muito menos quero trocar-te por qualquer outra, és minha, tanto quanto meu próprio ser, faz parte desta identidade que me expõe, assim, toda torta, diariamente desrespeitada, criativamente refeita de acordo com cada boca, as bocas dos incautos, dos irreverentes, dos analfabetos, dos críticos, dos famosos, dos cínicos, dos adolescentes, dos malandros, e de todos que habitam estas terras Brasileiras.