Às vésperas de Lula ganhar as eleições já no primeiro turno, um fato curioso me chamou a atenção.
Duas senhoras, colegas minhas de trabalho -- cujas intenções de voto variaram de Serra a Garrotilho, por serem ambas radicalmente opostas à idéia de Lula ser nosso presidente --, sempre que me vêem usam de provocações em relação ao fato de eu defender veementemente a candidatura do ex-metalúrgico. Os argumentos que usam são: Lula não tem preparo para governar o país; continua o mesmo radical que pregava ruptura com o FMI, as invasões de terra, o desrespeito às instituições, apesar de agora querer transmitir ao eleitorado a imagem de alguém amadurecido politicamente.
O fato curioso é que hoje, depois de uma provocação não respondida, as duas senhoras passaram a ler uma reportagem crítica sobre Lula em revista semanal, cochichando, pondo o dedo onde a reportagem parecia ser mais contundente, como se quisessem dizer: “Não te disse? Lula não pode ganhar as eleições!”
Foi então que imaginei uma cena na qual duas pessoas que comungam das mesmas convicções, fragilizadas emocionalmente pela expectativa de se frustrarem pela descoberta de que estavam profundamente equivocadas, dão-se as mãos, unindo suas últimas forças, como dois náufragos lutando contra ondas furiosas.
No caso das duas senhoras, as ondas furiosas contra as quais insistem lutar são a decepção do povo brasileiro e sua esperança de que Lula, eleito presidente, possa resgatar a dignidade de milhões de pessoas, as quais, diferentemente das duas senhoras, não vão trabalhar diariamente de carro, não têm comida todos os dias, roupas decentes, educação de qualidade (de nenhuma espécie, aliás), restando-lhes chegar à praia da esperança...Lula lá!