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Artigos-->Mesa Redonda de Usineiros - Um conto maldito XII -- 25/09/2002 - 14:50 (U.S.I.N.A.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ambiente era uma metáfora para suas vidas. Cantinhos obscuros, hipocrisia, desafetos tolerados pela soberba. Pessoas vem e vão daquele lugar, mas o prostíbulo continua sempre o mesmo. Com o mesmo cheiro de despudor e carinho de permuta. Com os mesmos tipos: jogadores, pervertidos, intelectuais hipócritas, pais de família, lésbicas não assumidas, viados famosos.



Como se sentiam em casa naquele ambiente. Alguns escondiam sua atração pelo perverso com frases de efeito do tipo “o instinto nos leva ao desejo da carne”, regado a infindáveis arrotos de palavras como “eu discordo caro fulaninho” ou “apesar de concordar com isso, tenho que discordar daquilo beltraninho”.



Ali eram todos usineiros em um puteiro. Arrogantes. Tratam os donos do lugar como a ralé. Sábio bêbado que lembrou que o lugar desses senhores e senhoras não é ali. Eu sou o puteiro e o usineiro é a puta. Todos sempre tão disponíveis para oferecer o que guardam de mais íntimo em troca de migalhas cujo peso cada um tem para si. Vaidade, fama, números, como trocados, miúdos, migalhas. O usineiro é o faminto. O usineiro é o drogado pelo ego. Viciado em injetar opiniões. O usineiro é pior que a puta, pois se vende mais barato. Como eu os desprezo.



Domingos está eufórico. Eu poderia me alimentar durante séculos de toda a fanfarronice do rapaz. Seu tipo atarracado e largo, papas sob o queixo, olhos fundos e negras olheiras... essa talvez seja a explicação para ele passar horas e horas aos meus serviços. Escrevendo e escrevendo, por mais que sejam lúcidos ou boçais seus textos, lá estava ele, sempre, querendo tornar-se onipresente.



Bruno, Kilandra, Ayra e Klaus. Suas almas podem ser fartura sem fim, celeiro inesgotável. Kilandra: Apesar de extremamente erótica em seu vestidinho preto, belissimamente ornamentado com seus lindos seios a saltar de um decote em forma de v, denota algo de funesto e anti-social. Respondia a tudo e a todos, geralmente os gracejos que eram ligados ao sexo, o qual ela se tornou referência, com ironia. Parecia nada levar a sério. Seus olhos escondem algo de triste e amargurado. Ali estão os vinte e tantos anos duros de alguém, a serem usados como meu brinquedo. Bruno: homens de bem, esses são os que mais me divertem. Entro em suas vidas, empurro-lhes os vícios, as más atitudes, os vejo rastejar, gemer, chorar e implorar por mais e mais. Bruno é sério e concentrado. Feliz no amor, Bruno!? Boa família, Bruno!? E se tudo mais girar!? Klaus Reich: o polêmico Klaus Reich, talvez esse fosse o mais parecido comigo, pena que há princípios em seus atos e isto o trai. Seus temores parecem aflorar... sinto o cheiro da necessidade de espaço. Ayra-on: o “senhor democrático” com suas explosões emotivas. Tantos vícios, tanta culpa... hipócrita! Bando de hipócritas! Escravos inconscientes do meu desejo! Dos malditos todos, esses são os que mais odeio...



- Em branco? Ai não seria minuta. Responde Domingos.

- Eu sou a favor da minuta e do assassinato. Afirma Ayra com voz embaçada.

- O que? Pirou! Ou está tão bêbado que perdeu a coerência? Berra Klaus.

- É o álcool. Brinca Bruno.

- Fodam-se todos! Não quero saber de minutas! Kilandra bate no capô do carro de Domingos, fusca verde e amassado.

- Ok Kilandra, se não quer não é obrigada. Responde Domingos.

- O que eu ganho com a minuta Domingos? Eu quero lucro. Quem eu tenho que matar? Klaus responde ocultando o olhar.

- Esse papo está meio diferente, diria mesmo sem nexo. Escrevendo, vocês são tão diferentes... Bruno explode e, após uma breve pausa, continua falando lenta e melosamente. Que tal comer uma puta? Deixar que chupe até a alma e que bom vai ser foder o rabo... trepar até matar.

- Ah! Chega... vou voltar e preparar pra sumir. Interrompe Ayra que entra nervoso.

- É verdade... todo mundo muito estranho. Klaus segue o caminho do bar e entra no banheiro.

- Eu não. Continuo acesa e pronta para amar... Kilandra responde, mas altera o tom de voz. Mas o amor não vem e ter tanto é sempre estar só... eu mataria por amor.

- Não. Vocês precisam participar. Vamos lá para cima, no bar, lá onde ficam os quartos. Lá nos vamos mudar tudo. Tenho que mudar a usina, nem que tenha que matar para conseguir isso. Domingos enrola sua minuta na mão, de cabeça baixa ocultando um sorriso.



O mezanino era o lugar onde os programas eram efetivados. A cafetina enviava suas meninas a pedidos ou as mesmas subiam quando conseguiam um cliente por conta própria. Doze cubículos com uma cama e um frigobar, paredes rebocadas e pintados de maneira desleixada da cor amarela que poderia ser confundido com sujeira impregnada. Domingos foi o primeiro a chegar. Num cantinho de espera ele rascunhava em um papel algumas coisas. O lugar impossibilitava a visão da escada e das portas do quarto, idealizado talvez para garantir a privacidade tão desnecessária do local. Klaus chegou logo depois.

- Pronto! Foi feito... Chega falando sozinho Klaus.

- O que? Pergunta Domingos.

- O que tinha que ser feito, ora... você é muito detalhista e abelhudo. Isso mata, sabia?

- O que mata é o amor. Kilandra chega logo depois. Onde estão os outros...

- Talvez nem venham. Bruno parecia querer uma trepada. Também, isso aqui parece mais um supermercado da carne. Riu Klaus.

- A carne é fraca em todos os sentidos. Ossos se partem, corações são dilacerados e a carne se rasga como um edredom. Ayra-on chegando ofegante no local.

- É. O desejo é um motor para o bem e para o mal. Diz kilandra.

- Vamos então a minuta. Fala Domingos

- Ok. O que se quer com a mudança? Pergunta áspero Klaus.

- Mudar nossas vidas. Bruno chega respondendo a pergunta de Klaus. Mas pra pior ou pra melhor?

- Ah! Suas vidas jamais serão as mesmas depois de hoje, eu garanto. Sorri Domingos, como se soubesse o futuro.

- A vida nunca semp... Que diabos?



Súbito um grito chama a atenção dos presentes. Ao subir as escadas damos de cara com uma das putas. Mão no rosto, desesperada. Madalena na cama, nua. Algumas marcas que poderiam ser de agressão ou paixão, estrangulada pelo próprio soutien, seu rosto escondido pelo lençol, no espelho escrito com batom:



“O sexo pode dar uma vida fantástica ou uma morte extraordinária”



Continu(em)a

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