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Artigos-->Juventude e Sociedade -- 25/01/2000 - 19:00 (Maria Angela C.Marques Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Referência: Artigo

Psicologia e Educação



JUVENTUDE E SOCIEDADE



Maria Angela Marques



Cuidar e amar são dramáticas necessidades humanas, pois contrapõem-se substancialmente ao movimento de superficialidade e imediatismo que a sociedade adotou como forma de obter sucesso .

Vejamos alguns exemplos relacionados ao que julga caminho para o “sucesso” dos jovens : estudar para “tirar boas notas” e “passar de ano”; o segundo grau, para o vestibular ; “formar” para ter uma profissão ; trabalhar “para ganhar dinheiro” ; grades e detetores para “conter” a agressividade na escola. Pensamentos e ações padronizados demonstrando o quanto ainda precisamos aprender que a vida expressa-se saudável quando compreendida e cuidada de forma mais generosa .



ENSINO SEM HUMANIDADE ENSINA O QUÊ , DE QUE MANEIRA E ...PARA QUÊ ?!

Vida é para ser sentida nas experiências diárias . Para que tenha qualidade, não adianta fracioná-la em disciplinas ou “temas transversais” como filosofia, direitos humanos, ecologia, cidadania, sem fundamentais mudanças de consciência.

O fato de serem definidos nos Parâmetros Curriculares , já indica que se constituem em grandes vazios humanos.

É a sociedade quem precisa aprender .

Não há quem possa “ensinar”. Mas sim, , conscientizar-se para estimular no dia-a-dia.

Requer, daquele que tomou para si a função de educar , profundas revisões das velhas estratégias e fórmulas de ensino que provocam mais silêncio do que anseios criativos. De Métodos que calam aqueles que são , por natureza, curiosos e arrebatados .

Os efeitos mais destrutivos se voltam contra a juventude , fulminantes ou geradores de morte lenta e silenciosa dos afetos e da alegria de viver, portanto da saúde como um todo.

O objetivo de “preparar o jovem para a vida “ não justifica despojá-lo de seus anseios e alijá-lo da pulsação do mundo. O cotidiano traz consigo dificuldades, renúncias, lutas, ônus ...mas, também, convivência, prazer, desfrute de pensar, refletir , criar, sentir-se.

Dias atrás, ouvi palavras ressentidas de um professor do ensino “fundamental” para uma mãe de aluno do ensino público : “ Ela quer uma escola de sonho “

O desejo materno é parte de um inconsciente coletivo - o sonho na escola.



FALTA DE SONHOS E “ PROVAÇÕES”

Ao longo do tempo, num ato predatório contínuo e sem par, a sociedade foi subtraindo o tempo de ser criança.

Como isto transparece na escola ?

A partir da 1ª série (ou antes.) , as crianças são acondicionadas em salas mal iluminadas , com janelas muito acima de seus olhos (e do próprio professor) , muito semelhantes a prisões . No número de tarefas e “avaliações” a que são submetidos. Sempre tendo que “provar” algo a alguém , sem tempo para a curiosidade, a cooperação e o lúdico que há em aprender.

Embora há tempos já se saiba que a aprendizagem encontra melhores condições em clima de confiança e bem estar, os alunos continuam permanentemente à prova , em situações de insegurança , competição e estresse .

Antiga prática de sujeição , revela-se no excesso de atividades, “ Planejamentos” e “Avaliações de Resultados” e torna a vida do jovem árida de sua própria pulsação . O mundo adulto dita as regras e cobra resultados.

Sem voz , sem ação, sem reflexão, são transFORMADOS em meros executores.

Cura-se ou morre-se pelo alimento ingerido . A cada dia, saem mais “fornadas” de adultos sem ludicidade , atados, sem liberdade para criar, imaginar , romper padrões sociais cruéis , rescrever o roteiro de vida que lhe fora imposto , que não sabe ou pouco deseja brincar , denotando a ausência do jogo e do divertimento puro , que pertence a quase todas às espécies que habitam o planeta.

Porém, os dramas que nos acometem têm sido um grande espelho voltado para nossas próprias faces, denunciando diariamente o que e como estamos fazendo ou deixando de fazer.

Nas práticas médicas, psicoterapêuticas e educacionais , a criança não deve ser o paciente identificado , a ser “curado”, tratado ou transferido. É necessário que olhemos para a sociedade doente ou problema, que lhe oferecemos . Sobretudo, busquemos renovações nos serviços públicos para a infância e adolescência , principalmente nas escolas .

Embora mudanças comecem a surgir , através de organizações não governamentais , ainda não podemos dizer que o nosso estilo socio-educacional deixou de ser ambiguamente individualista (egoísta) e “global” (induzindo à formação de massas sem identidades ) , competitivo e acelerado , no qual pessoas, sentimentos, diferenças , tendências, idéias , são tratados como meros acessórios descartáveis .



QUE SER SOCIAL ESTAMOS “PREPARANDO” ?

Se nem ao menos lhe permitimos viver de acordo com verdadeiros anseios humanos?

Se contribuímos para que os mais alienantes padrões culturais assumam o comando de sua vida?

Se lhe oferecemos a ilusão de força e onipotência e falta de vínculo com sua natureza?

Se impõe-se nas escolas, o automatismo e a passividade ?

Se cultuamos um modelo de “sucesso” e ordem à custa de grandes prejuízos orgânicos, psicológicos e afetivos ?

As violências cometidas contra a juventude , flagrantes ou sutis , são letais, pois a abate física e/ ou moralmente.

Ao reprimir valores e regras da infância e da juventude ou usá-los em próprio benefício , a sociedade perde um vasto universo de pulsões e sentimentos que enriqueceriam o HOMEM .

Consequentemente, os mais graves transtornos de relacionamento experimentados revelam suas desesperadas tentativas de adaptação aos padrões culturais que não reconhecem a ÉTICA DA VIDA.



EDUCAR É APRENDER, DIARIAMENTE

Que a vida transcende a padrões meramente impostos . Que seus clamores manifestam-se das mais variadas formas , sempre além de nossa visão rotineira ou apenas aprendida nos livros.

Que os atos “cheios” de certezas e conhecimento acarretam ações padronizadas, sem consciência, vão se tornando repetitivos , isentos de questionamento , de dúvidas, cheios de recusas ao sonho, ao novo, ao diferente, ao diálogo, consequentemente tornam-se cruéis e contra realizações .

Que na criação dos filhos , nas escolas , nas relações em geral, soluções mais felizes e duradouras seriam alcançadas , se tivéssemos sempre presente a consciência ou o sentimento de que o que importa mesmo é a Vida .

Que conversando com os jovens ( não apenas com os próprios filhos ou pacientes ) , vários, muitos , em casa, nas ruas, nos hospitais , nas escolas) não ficamos isentos. Suas revelações são fortes o bastante para ampliarmos nossos obtusos ângulos de visão .

Que obtemos informações vivas, de um ser que tem o seu tempo cada vez mais reduzido. Existencialmente , está quase morrendo.



EDUCAR É ESTIMULAR HUMANIDADE

Sonhar e realizar são potencialidade humanas . Educar significa estimular criar em comunhão com os sonhos pessoais e coletivos. Socializar não é o mesmo que normatizar e descartar o desejo inato do homem de ingressar em uma identidade ampla e coletiva . Significa que esta terá o brilho de sua co-participação.

Ao jovem deve ser dada a oportunidade de SENTIR-SE PARTE VIVA DE UM COLETIVO VIVO. A conseqüência poderá ser um profundo AMOR pelo Sistema do qual participa.



SONHO É APENAS SONHO SE ASSIM O QUISERMOS

Urge que não minimizemos mais a vida e insistamos que não seja tratada como algo meramente utilitário.

É necessário que, profissionais da saúde , pais, educadores , arrisquemos uma consciência sistêmica da vida, para que as tão desejadas transformações sociais aconteçam .



AUTORIA :

MARIA ANGELA MARQUES

psicóloga (CRP 01/1274)

(licenciatura e graduação)
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