Todos temos o direito de ter preferência por um ou outro candidato. Isso faz parte do processo democrático de qualquer país civilizado. O problema é quando a aversão a um candidato ultrapassa todos os limites da decência, da intolerância do preconceito. E é isso que estamos vendo aqui na Usina de Letras com relação a alguns colegas.
Nunca escondi para ninguém que tenho preferência por Lula, contudo nunca usei essa preferência para atribuir uma série de inverdades aos adversários. Quando apontei os pontos fracos dos adversários, fiz isso em cima de dados e apontei as deficiências de cada um partindo de uma análise histórica.
Dessa forma afirmei e continuo a afirmar que José Serra representa a continuidade desse modelo que governa o país há oito anos. Serra pode até mudar alguma coisa, mas as mudanças serão pequenas. Pequenas porque essa é justamente a sua proposta, fazer pequenos ajustes ao que aí está. Para alguns, esse modelo está bom e querem que continue assim; para outros, porém, esse modelo tirou seus empregos, reduziu seu padrão de vida, etc. Essas pessoas não estão satisfeitas e optaram por um candidato que rejeitasse esse modelo. Muitos votaram em Ciro, Garotinho e Lula. Entre esses eleitores, eu me encaixo. Isso, porém, não me dá o direito de usar esse espaço para fazer ataque infundado ao candidato governista.
Posso afirmar que José Serra é o candidato do governo, porque é! Foi escolhido como candidato pelo presidente da República; é do mesmo partido do presidente Fernando Henrique Cardoso; os partidos que fazem parte de sua coligação são os mesmos que dão sustentação ao governo. Essas são afirmações irrefutáveis. Portanto a eleição de Serra vai representar a continuidade, porque foi para isso que ele foi escolhido. Também é verdade que sua base de apoio é muito mais frágil do que a do atual governo. Também são fatos que o atual governo fez uma série de promessas e não as cumpriu durante o seu governo. Também é verdade que o governo vendeu a maioria das empresas nacionais e não explicou direito até hoje onde foi parar o dinheiro dessas privatizações. Como também é verdade que Serra é uma pessoa integra, fez alguns avanços quando estava à frente do ministério da saúde. Se ele não fosse alguém capaz de governar não teria sido escolhido candidato a presidente. A mesma afirmação é válida para Lula, Ciro e Garotinho. O que acontece é que existem grandes diferenças nas propostas desses candidatos.
Não me cabe aqui analisar as propostas de cada um deles. O intuito desse artigo é alertar os leitores de que não se deve usar esse espaço para atacar os candidatos com o intuito de denegrir a imagem deles através de suposições e inverdades. Não seria melhor apontar as qualidades de seu candidato do que ficar tentando desqualificar o adversário?
Quando alguém tenta a todo custo desqualificar um oponente é porque deve ser inferior a ele. Caso contrário, estaria muito mais interessado em mostrar onde seu candidato é melhor do que o oponente. Se não o faz, é possível concluir que o candidato atacado deva ter mais qualidades que o atacante. O mesmo vale para os eleitores.
Em se tratando de Serra e Lula, as qualidades tanto de um quanto do outro estão acima de qualquer destempero de eleitores irresponsáveis, que se acham acima da verdade. E para mostrar isso vou citar dois exemplos.
Aqui mesmo, na Usina de Letras, um colega que não merece nem seu nome ser citado, fez as seguintes acusações ao candidato Lula:
“Num governo Lula, o Brasil se tornaria uma Venezuela”.
Ninguém em sã consciência e com um mínimo de informação faria tal afirmação. Vejamos. O histórico dos dois é totalmente diferente. Hugo Chavez é um general Golpista que conseguiu ser eleito presidente por uma maioria empobrecida. Lula é um líder carismático e democrático que há anos vem se empenhando em construir um grande partido político nacional através de eleições livres e diretas. Além de não ser populista, Lula jamais pregou a tomada do poder por vias indiretas. Hoje seu partido, o PT, é o maior partido do congresso. Fazer a afirmação acima é estar mal intencionado. Esse mesmo tipo de acusação foi rebatido pelo jornal “The New York Times” e pelo próprio embaixador da Venezuela. Este último afirmou que Chavez é muito mais amigo de FHC do que de Lula.
“Lula não tem diploma universitário para exercer o cargo de presidente”
O próprio FHC defendeu Lula desse tipo de acusação ao afirmar que isso não passa de preconceito. Além do mais, pelo que eu saiba, não existe curso superior para presidente da república. A história está cheia de exemplos de governantes que foram presidentes sem ter diploma universitário e muito desses presidentes entraram para a história como exemplos a serem seguidos. Acusar Lula de não estar apto a governar o Brasil por não ter nível superior é coisa típica de país tupiniquim. Fazer tal afirmação é demonstrar uma atitude preconceituosa e até de desrespeito a Constituição.
Eu pediria de forma encarecida aos colegas usineiros que, ao invés de ficar atacando os candidatos adversários, aproveitassem esse espaço democrático para nos mostrar as qualidades de seu candidato. Quem sabe assim talvez até nos convenceria a mudar de opinião ao invés de aumentar nossa aversão a ele. E principalmente, em respeito aos seus leitores, que, se por algum motivo preferir mostrar as deficiências dos adversários, que não utilize métodos fascistas distorcendo a verdade. Que futuro nós queremos para nossos jovens se somos os primeiros a manipular a verdade?