Há uma voz dentro de mim. Uma voz suave, constante, latejante. Uma voz serena que martela o meu dentro. Uma voz, em mim.
Não sei o que ela diz e cada vez mais sinto que estou surda ao tentar ouvi-la. Tento, tento e tento. Talvez não consiga, pois toda voz interior é incerta. E eu, mais incerta ao escutá-la. Disse certo escritor inglês : Só existe uma viagem, caminhar para dentro de si “por isso, e pela voz caminho lentamente para o eu”.
Só estou surda no inevitável esforço da audição, da mágica ação de se ouvir. Apenas sinto a voz tanto por vibração da vibração quente, notas incalculáveis das ondas sonoras. Leis da física alma.
O engraçado é que ao buscar o eu encontro o nós, ao buscar o ego encontro o mundo. Nessa circunferência, descubro o mero reflexo que sou, produto de um sistema que sonha ganhar vida própria. Assim, sei lá se está voz é minha, talvez nem seja uma voz, seja o vazio que me cutuca para ser preenchido.
Nessa volta sem fim e sem saber onde cairá, curva perigosa, estrada do impossível, a única certeza é de não estar cometendo o pecado de muitos outros produtos; o de não querer escutar, mesmo surdos, a voz interior.