Como São Paulo já dizia a Timóteo: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças; e recusarão a dar ouvidos a verdade, voltando as fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo...”¹
Nós estamos vivendo esse tempo. Em nossos dias, não falo só de Brasil, mas do mundo, há um fenômeno de arrogância escravista e mesquinha onde, cada vez mais, impera a cobiça, a usura, a sede de poder. Poder o quê? Poder dizer o que devemos fazer, poder dizer como devemos vestir, poder dominar nosso pensamento, nosso gosto, nossos princípios. Por falar em princípios, há tempos ouvi um provérbio que dizia ‘melhor e o fim das coisas do que o princípio delas’. A pessoa que disse isso teria misericórdia de nossas gerações.
Aos mais velhos, se lembram quando eram crianças: a criação que tiveram, a importância que a vida tinha, que as pessoas tinham, havia coisas torpes, mas não como agora. Quando se era repreendido, se aceitava a repreensão e tornava-se mais prudente, uma pessoa direita.
Aos mais jovens, se lembram dos programas de TV, dos desenhos de Disney, dos filmes de violência e sensualidade, dos traficantes próximos as escolas, dos sábados a noite embalada a drogas e álcool. Lembram-se das brigas, das injustiças, da moda que ditava que se você não tivesse um tênis Nike era-se excluído do grupo... Lembram-se de quando se era repreendido, o quanto discutia e desrespeitava tudo e todos para conseguir o que se queria.
Gerações diferentes realidades diferentes. Aos que tem mais de 50 anos, que não gostaram da maneira conservadora que foram criados e ousaram mudar, soltar as rédias dos filhos, vocês pais da geração coca-cola², uma geração que conhece a ciência e a tecnologia, uma geração que conhece as drogas e a luxuria. Uma geração que anseia por saber, mas não discerne. Uma geração que acredita em qualquer coisa, sem ponderar, pois não tem equilíbrio pra isso.
Vivemos um estado demagógico, em que a verdade é relativa, que as provas são relativas, em que as pessoas são superficiais, distorcidas e não se firmam na verdade. Meninas aceitam ser chamadas de cachorras, preparadas...³ Rapazes que são muito machos quando o assunto é ser tigrão, mas tem as mão frouxas para o trabalho, quando precisam sustentar os filhos, estes gerados inconseqüentemente num baile funk... Isso é uma lástima.
Temos os polidos, educados em caros colégios, filhos da classe A, que por acharem a vida um tédio, ou se afundam em drogas ou se dão a aventuras bandidas, dando prejuízos a sociedade e aos pais que gastam fortunas em honorários advogatícios.
Temos os bandidos assumidos. Os ‘caras’ maus de verdade. Afinal de contas alguém de verdade! Mesmo que a verdade deles seja a maldade e a crueldade, é a verdade deles. Eles são o que são. Não estão fingindo, declaram armados até os dentes que são maus. Eles também querem o poder. O poder de intimidar as pessoas, de fazer o comércio fechar, de convencer um jovem a se drogar, de ser seu escravo, seu fiel escudeiro. Essa é a realidade deles.
Temos outro tipo de pessoas, os políticos, demagogos de berço. Sabem falar o que o povo deseja ouvir. Mas só falar. Tem a astúcia de cobras a preparar o bote nas urnas, na hora que o botão verde é apertado, está feito. Ou quatro anos de mamata, ou quatro anos de luta pelos interesses do seu povo. Vale salientar que é sempre muito complicado descobrir quem é exatamente o povo do candidato...
Temos também as pessoas de bem. Trabalhadoras, civilizadas, politicamente corretas, crédulas, vivendo suas vidinhas normais, vendo o mundo a sua volta por meio de espelhos, daqueles que tem nos parques, que distorcem a realidade. Que formam labirintos em que se tem a impressão de se ver a saída, mas é ilusão. Pessoas de bem que formam a maior parte do povo, povo este que é cego e tem coceira nos ouvidos. Que resiste a sabedoria e abraça a alienação. A alienação social, a alienação política a alienação de si mesmo, pois vive uma ilusão onde a alta do dólar, que não tem razão real para subir, regula o pensamento pessimista que vê uma ‘argentinação’ da economia a rondar. Um povo que não conhece sua história, que não analisa sua real situação, que pensa e age segundo os personagens das novelas, que pouco lê, portanto pouco sabe.
Vivemos um estado demagógico, pois não temos uma percepção real da realidade em que vivemos, somos levados a pensar pensamentos que não são nossos, não questionamos, não lutamos, não reagimos. Acatamos um luto bandido, um aumento de inflação forjado politicamente, acatamos os abusos de poder, seja qual este for. Já não sabemos reagir: ‘Fazer o quê, né?’...
É lamentável o grau de cobiça de uns e de embriagues de outros. Estamos todos tão miseravelmente emaranhados em nossas vaidades, as fábulas que é fácil demais tirar proveito da situação, tão fácil quanto empurrar um bêbado ladeira a baixo...
As eleições estão as portas, mas um político não vai fazer diferença na sua vida. Quem vai fazer é você mesmo. Se você estiver sóbrio para isso.