A carruagem em fuga sorriu de través para o tapete de borracha, roubando-lhe toda a maciez de pista recapeada recém. Armada de boa dentadura, eu tinha a meu cuidado vidrinho efervescente de lágrimas para recarrego da pistola d’água que me assaltasse. Entrementes, os gerânios alheios tomavam conta do meu colo, colhidos foram da trajetória de um buquê de noiva incógnita. Soprava carniça lívida na bem-disposta trilha de solenes borboletas, palradeiras mariposas, zangões tensos e crioulos, num abuso de cores e belezas. Eu, nem aí para excessos (tanto zelo para quê), açoitava o ar com meus cabelos, para dentro da paisagem de cartão postal turístico. Meu paladar esmaecera-se à saliva grossa de cristais de gengibre. Meu nariz assobiava de tanta secura. Mesmo assim, cumpri-me e estabeleci-me, ganhando fôlego para a parada obrigatória na encruzilhada dos muitos eus, momento esse de arriscar pensamentos sub-reptícios para além dos prudentes pára-brisas. Minuto de mudo silêncio. Hora e vez de passar a cavalaria motorizada do outro lado de nós. Calma, seremos deuses daqui a pouquinho, pelo menos enquanto durar o sinal aberto. Seres humanos nós todos éramos. Por enquanto e para sempre.
Apostei e ganhei todas que o próximo vidro traseiro estamparia a piada mais sem-graça do mundo. De cor e salteado conheço bem esses motivos, mas me esmorece repetir memórias de realejo quando um aviso assim me ultrapassa. Sonhos embalsamados piscavam olhos verdes para o traço a jato de tudo o que estendesse braços à beira. A campa cheirava úmida e fria, e entendi: tempo de avistar as sagradas cruzes dos sacrossantos becos. Cruzes que sinalizavam covas vivas de onde um dia brotariam plantas ornamentais por toda a larga extensão da grama de tinta verde. Um dia. Quando florescessem as rosas. Criar datas para esticar a vida - toinnnnn!
Foi que minha cabeça ressuscitou aqueles cata-ventos desérticos, esqueletos rodopiantes ao som de vento nenhum, em pleno vulcão do Jequitinhonha. Bem na curva mais acima, atravessaria um cachorro magro, boêmio de muitas vidas, e na maior sem-cerimônia obrigaria o freio das idéias vindas de atropelo. Mas ainda não era tempo.
No oásis de dizeres receptivos a meus desejos, fui chegando reduzida e descompensada, e foi quando - senão quando - avistei a camaleônica Babel de mil perfumes e adereços. Estaria eu só, finalmente. No mais, as horas futuras. Bem-vindas e abençoadas. E pensar que nem era tarde...