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Artigos-->Mais do que informar -- 03/04/2001 - 12:04 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Até a "Globo" - quem diria! - entrou no jogo do denuncismo, transformado ultimamente em nosso esporte nacional predileto. O "Jornal Nacional" todo dia apresenta um capítulo novo de sua mais nova novela, a corrupção. O pior de tudo é que a "Globo" se utiliza de meios ilegais para fazer seus programas - gravar conversa alheia, sem permissão - e esse trabalho de arapongagem é apresentado como se fosse uma grande contribuição ao país, um exemplo de ética a ser seguido por todos. A impressão que se tem é que na "Vênus Platinada" só trabalham virgens vestais...





Abaixo, "Mais do que informar", um texto interessante do coronel Walter Felix Cardoso Junior, muito pertinente nesses tempos em que prospera a desinformação e a arapongagem em todos os meios de comunicação e se tenta ridicularizar os serviços de informações da ABIN.





"Mais do que informar



Walter Felix Cardoso Junior



O texto é forte e provocativo, pois contém o que não se quer ouvir e contesta vozes que se julgam acima da verdade. Não estão, mas são senhoras das mídias, e quem as controla decide o que deverá ser tido como verdadeiro pelo grande público.



Não como uma ação deliberada, mas como resultado do que se vê, além de informar, educar e divertir, outra grande função da Imprensa é envelhecer os fatos. Notícia nova gera demanda e a mentira também faz parte desse negócio. Entre a versão e o fato, “publique-se a versão”, engenharia da desinformação, montada para influenciar o comportamento das pessoas.



Nesse ramo, a velocidade é quase tudo. Ninguém apura nada do que lê. As notícias se sucedem, articuladas, e a imprensa sensacionalista manipula a população.



As fontes de informação se copiam e se repetem, degradando cada vez mais a verdade, que passa a ser descartável. E tudo isso sob a égide da “liberdade de imprensa”, apanágio da irresponsabilidade editorial.



Esperei passar algumas semanas do último e violento surto de agressões aos serviços de informação do Estado para abordar essa questão de um ângulo diferente.



Boa parte da Imprensa sempre detestou a Inteligência. Considera-a concorrente, uma vez que buscam resultados sobre os mesmos alvos – a corrupção e tantas outras mazelas da humanidade. Curiosamente, para alcançar os seus objetivos, a imprensa vale-se dos mesmos métodos e processos que tanto condena nos órgãos de informação do governo.



Tendo a necessidade de vender muitos jornais para sobreviver como atividade econômica, a imprensa difunde o escândalo sob a forma de notícia, manobrando as emoções de acordo com os seus interesses políticos e comerciais.



Ela considera a Inteligência privilegiada, por dispor de recursos humanos altamente qualificados, verbas públicas, e... as facilidades do tratamento de informações apoiado na base de dados do Estado (leia-se Receita Federal, Banco Central e tantos outros santuários das informações privilegiadas).



Ela também desdenha a Inteligência, por esta perseguir silenciosa e metodicamente a verdade, protegendo as suas fontes, enquanto a imprensa faz uso do conhecimento para arreganhá-lo na cara dos leitores, leiloando tiragens, sem muita preocupação com a idoneidade do material com que trabalha e difunde.



Cada vez mais vaidosa de ser o “quarto poder”, temida inclusive pelos mais poderosos, a imprensa considera-se a “dona da verdade”, e com o direito de fazer dela o que bem entender – até mesmo a execração pública de inocentes, como ocorreu há poucos anos em São Paulo, com os proprietários da Escola Base, posteriormente inocentados pela Justiça.



Achando-se ética e moralmente acima da Inteligência, alimenta nas escolas de jornalismo uma grande cruzada contra o setor de Inteligência governamental, incutindo nos jovens idéias e posições destinadas a perpetuar esse confronto.



Bom exemplo desse posicionamento deletério é a atual campanha de descrédito dirigida à Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, destinada a erodir a imagem de seriedade e profissionalismo que conquistou nos últimos anos, apesar das permanentes hostilidades pseudo-ideológicas que marcaram a reestruturação do Órgão em passado recente.



Criando estereótipos como “araponga”, “abinado” e tantos outros, a imprensa procura lançar o ridículo sobre essa atividade honrada e essencial do Estado. Reforçando o engodo, ela insiste em caracterizar a Inteligência como antro de “torturadores”, quando todos sabemos que tal prática sempre foi uma “norma” das atividades policiais.



A propósito, os abusos praticados pelas polícias, inclusive a Federal, e também por algumas unidades das Forças Armadas, não tem nada a ver com o trabalho realizado pela Inteligência do Estado.



Em suas instalações nunca existiu prisão individual ou coletiva, mesmo porque a atividade sempre foi desprovida da autoridade para prender quem quer que fosse – coerentemente com a legislação de sua criação e o pensamento dos governantes da época, como pode ser constatado em suas biografias.



Passando por cima das inverdades, e a título de esclarecimento público, a atividade de Inteligência – reunião e processamento de informações, tal qual deve ser entendida, é imprescindível tanto na esfera governamental como na iniciativa privada. Sustentada no exercício da mente humana e valendo-se de valores positivos, realiza o acompanhamento lógico, racional e meticuloso dos fatos e situações de interesse do seu patrocinador, sustentando o processo de tomada de decisões.



É importante frizar que o produto desse trabalho não tem vinculação com o emprego da "força bruta", ou a prática de atos ilegais, recursos somente utilizados pelos despreparados e desesperados.



As distorções que possam eventualmente existir nessa atividade decorrem de indisciplina operacional ou de maus instintos intrínsecos, encontrados também em quaisquer outras organizações humanas. Tais aspectos justificam por si só os importantes cuidados que devem revestir o processo de seleção de pessoal para o desempenho funcional de Inteligência.



Recentemente tivemos a oportunidade de assistir longa e reveladora entrevista do General Alberto Mendes Cardoso, Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, concedida ao âncora televisivo Boris Casoy, onde discorreu abertamente sobre as limitações da ABIN, da insuficiência de profissionais à exigüidade de recursos financeiros. Em termos comparativos, é bom saber que a Argentina dedica à sua Inteligência Institucional verba orçamentária da ordem de 120 milhões de dólares/ano, enquanto o nosso Serviço de Informações sobrevive com apenas 12.



Pessoalmente, acho que tudo se encaixa muito bem na filosofia FHC de governar, um resquício da vingança que empreende contra os Governos Militares e seus instrumentos de poder, onde ele mesmo teve que sentar no “banco”, como declarou.



Não bastasse a vindita, a possibilidade de haver realmente corrupção pesada no seu governo, conforme acredita a maioria da população, assustada com tantas rumorosas ocorrências (lembremos do caso SIVAM; do leilão da telegangue; do caixa dois das campanhas de 94 e 98; dos precatórios do DNER; das relações comprometedoras do Secretário Eduardo Jorge com personalidades criminosas, que nos evocam o esgoto do Palácio do Planalto; e, agora, os muitos milhões de dólares da conta cayman), pode acabar ocasionando restrições ainda maiores ao trabalho da Inteligência.



Imaginem o desconforto de ter dentro da própria “casa” uma máquina funcional e obsessivamente programada para buscar a verdade dos fatos, mormente quando setores do governo estão literalmente “de joelhos”, diante de tantas denúncias e dolorosas omissões.



Contudo, o pânico desses corrompidos do governo poderia ser ainda maior se soubessem que na atividade de Inteligência, a exemplo de um sacerdócio, os profissionais são movidos por valores morais elevados, como a honra e o sentimento de cumprimento do dever. Assim é que, reconhecendo-se nacionalistas inflexíveis, esses homens do tratamento das informações sabem que a lealdade à nação vem bem antes do respeito que possam ter por qualquer passoa investida da autoridade, seja ela quem for.



Por esse motivo, acredito, os instrumentos de pressão e de constrangimento funcional, costumeiramente utilizados nos bastidores legislativos e judiciários, pouco funcionariam com os servidores da Inteligência.



Para finalizar, é de lamentar que se verifique o desmonte cada vez mais acelerado das estruturas de defesa do Estado (as Forças Armadas e a Inteligência Institucional, principalmente), demonstrando uma total miopia dos atuais governantes quanto à visão histórica e global do importante papel desses organismos na consecussão dos Objetivos Nacionais, circusntância que vem comprometendo a nossa perspectiva de desenvolvimento nas dimensões política, social, e econômica.





Florianópolis, SC, 31 de março de 2001



Walter Felix Cardoso Júnior – Coronel da Reserva de 1ª Classe do Exército; Doutor em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; Especialista em análises e atividades de Inteligência Empresarial Estratégica e Contra-Inteligência.

wfelix@zaz.com.br"

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