Ocorre, previsivelmente que os problemas sexuais da mulher têm uma multiplicidade de causas. As dificuldades de irrigação sanguínea, as descompensações hormonais e outras disfunções fisiológicas tem como agravantes as barreiras psicológicas. Quase meio século depois da revolução de costumes que liberou a porteira do prazer sexual para a mulher, as “vozes” da repressão instaladas no fundo da psique feminina ainda emperram o caminho da satisfação. Isso tudo sem contar parceiros que, espantosamente, continuam ignorantes no bê-à-bá do orgasmo feminino. Uma em cada duas brasileiras tem algum tipo de queixa na área da satisfação sexual em determinada fase da vida. Três em cada dez desconhecem o orgasmo na relação sexual – proporção que aparentemente se manteve estável nas últimas décadas. O que está mudando, segundo o diagnóstico traçado nos consultórios dos especialistas, foi a disposição feminina de procurar soluções. Descobriu-se, em 1975, numa pesquisa realizada com 600 mulheres atendidas em um ambulatório de ginecologia conduzida pelo Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, Nelson Vitiello, que apenas 2% do total dessas pacientes compareçam para tratar de suas disfunções sexuais. Na imensa maioria dos casos, a identificação dos distúrbios se deu por meio daquilo que os médicos chamam de “achado” – revelações encontradas casualmente no decorrer das consultas ou exames. Em 1998, Vitello repetiu a pesquisa e constatou que o índice de disfunções se mantinha praticamente inalterado. A novidade era o número de pacientes que haviam procurado o ambulatório com a intenção assumida de resolver seus problemas de cama: quase um quarto do total. A insatisfação da atual geração de adultas jovens (as mulheres insatisfeitas costumam recorrer aos especialistas por volta dos 30 anos, quando concluem que já experimentaram o sufiente para saber que está faltando alguma coisa) pode até ser parecida com a de suas antecessoras.
Oficialmente, apenas em 1953, com o célebre estudo feito por Alfred Kinsey, a ciência aceitou que era o clitóris, e não a vagina, o gatilho do prazer feminino.
A maioria das mulheres ainda desconhece o próprio corpo – situação que, para os homens, tem menos chances de acontecer. Desde cedo, eles têm uma relação muito mais explícita com seus genitais , já que podem vê-los, tocá-los e senti-los. Mulheres, em compensação, estão destinadas a conviver com uma sexualidade mais oculta sob uma conformação que esconde e dissimula. Para os psicólogos, elas só vão saber que tem vagina lá pelos 8 anos, e que têm clitóris por volta dos 13. E mesmo assim... se foram muito curiosas.
O cerne da questão continua sendo o peso da repressão que ainda paira sobre as mulheres. Ao contrário dos homens, a manifestação da libido feminina é algo reprimido desde a infância. Há mulheres que sofrem de anorgasmia primária, ou seja, que nunca atingem o orgasmo - nem durante o ato sexual. Fisiologicamente, nenhum problema. Em compensação, todas apresentavam um ponto em comum: Cem por cento delas possuem em seus registros uma educação familiar opressiva, que vinculava sexo a pecado, dor, sofrimento ou perda de auto-controle.
O que deve ser entendido é que o ambiente de maior liberdade sexual pode jogar contra o prazer. Ao iniciar mais cedo a vida sexual, a jovem queima a etapa do namoro com jogos eróticos – o popular “amasso”. Essa fase que não inclui o ato sexual em si, funciona como uma espécie de aprendizagem para a vida sexual adulta.
A maior interessada em mudar esse tipo de comportamento é a própria mulher, assumindo-se e embarcando num caminho de autoconhecimento, em todos os sentidos, e de responsabilidae por seu próprio prazer.