Dia desses estava dirigindo pelas ruas de Ipanema quando um sujeito com um adesivo enorme, no qual estava escrito “Brazão” me deu uma fechada daquelas. Imediatamente exclamei : “Vai ô Brazão viado!”. Ao final desta célebre frase me deparei com a seguinte observação: vc já reparou que quando estamos ao volante, e por uma circunstância qualquer vamos xingar o motorista de um outro carro – vamo lá, gente, quem não faz isso? – utilizamos o objeto mais visível a nossos olhos para designar o nome do motorista?
Vc está parado no sinal. À sua frente tem um fiesta verde com um adesivo que diz : “O sangue de cristo tem poder.”. O sinal abre, o motorista demora a arrancar e vc, afobadinho, logo se prontifica a falar : “Vamo logo aí, ô sangue de cristo . . . !”, e dá uma buzinadinha. A picape que está atrás de vc está piscando os faróis frenéticamente para vc dar passagem. No vidro da frente tem um adesivo gigantesco que diz: “Ratinho Rodas”. Vc liga a seta para a direita, bota o bracinho pra fora, faz aquele gesto clássico para o “ratinho” passar e resmunga: “Vai, vai ô ratinho pentelho. . ..”. É impressionante ! E o pior é que a gente faz isso com tanta naturalidade, com tanta segurança, que o nome da pessoa passa a ser aquele mesmo.
O trânsito é mesmo uma coisa muito doida. É gente fazendo besteira, é velhinha com a boca quase encostada no volante, é Kombi lotada de gente parando no meio da rua, e por aí vai. Para um concenso geral, ou melhor, até para facilitar a vida dos guardas, do Detran ou de nós mesmos – falo também em seu nome –, as pessoas que habitualmente cometem um insulto ou outro, o substantivo próprio do motorista vigente deveria estar estampado em algum lugar do carro. Sei lá, tipo as luzezinhas que ficam em cima dos taxis, ou um adesivo colado no pára-brisas, não importa. Tinham era que inventar um jeito, de a gente saber o nome de quem tá dirigindo. Pois só assim, ao invés de ficarmos berrando nomes inexistentes, faríamos algo muito mais educado - por mais que fosse um ato de xingamento. Imaginem. O pálio vermelho te dá uma fechada que vc quase atropela uma família de pombos silvestres, vc educadamente pára ao lado dele e da-lhe um esporro: “caralho, Cristina, tu tirou a porra da carteira de motorista na escola do Steave Wonder?!”.