insolúveis e extratos azotados. O produto da combustão do tabaco, além da nicotina,
contém piridina, cianeto de amônio, cianogênio, lutidina, gases hidrocarbonados,
óxido carbônico, etc. . Na fumaça que se desprende do fumo, foram encontrados:
nicotina, ácido cianídrico, óxido de carbono, amônia, bases pirídicas e colidina.
De todos esses venenos, o principal é a nicotina, não só pela quantidade com que
ela está presente no tabaco, como, também, pela sua alta toxicidade. As demais
substâncias, englobadas sob o rótulo de "alcatrão", auxiliam a ação devastadora da
nicotina, que deve a sua denominação a Jean Nicot, embaixador da França em
Portugal, o qual, na segunda metade do século XVI, levou para o seu país as
sementes de fumo obtidas em Portugal, que, por sua vez, as havia obtido da
América Central, de onde o fumo é originário.
A nicotina é um alcalóide líquido, de cheiro bastante forte, que penetra
rapidamente na circulação sangüínea, durante a inalação da fumaça proveniente
da combustão do fumo. Ela é tão tóxica que, quando uma gota dela é colocada
na língua de um animal de pequeno porte, este morre depois de alguns minutos ;
a mesma gota , colocada sobre a pele de um coelho, provoca-lhe convulsões,
podendo levá-lo à morte ; o vapor de nicotina, aspirado por uma ave, através de
um tubo, mata-a rapidamente.
A quantidade de nicotina pura, extraida de vinte cigarros, colocada sobre a
língua de um homem adulto, mata-o em 15 minutos. Ao fumar, todavia, grande
parte do alcalóide volatiliza-se e perde-se na fumaça, não sendo, portanto,
absorvido puro ; entretanto, o fumante de um maço de cigarros por dia absorve,
em uma semana, quase meio grama de nicotina, quantidade que, absorvida de
uma só vez , seria suficiente para fulminá-lo instantaneamente. Por isso o fumo
é chamado de "veneno lento".
Esse veneno lento afeta, comprovadamente, todo o organismo humano.
Afeta o aparelho digestivo, com perturbações da salivação e da emissão de sucos
digestivos, acompanhadas da falta de apetite e da exacerbação de gastrites e
úlceras pépticas ; afeta o aparelho circulatório, com espamos vasculares, arritmias
e hipertensão arterial ; prejudica o aparelho respiratório, provocando bronquite
tabágica e diminuição da capacidade respiratória, além de ser um fator importante
na gênese do câncer de pulmão ; afeta o sistema nervoso, causando dor de cabeça,
vertigens, excitação, alterações da percepção e até alucinações ; afeta a visão,
podendo provocar atrofia do nervo óptico, com conseqüente diminuição da acuidade
visual. E assim por diante, "ad nauseam".
Graças a essa alta nocividade é que, desde a sua descoberta, pelos colonizadores
espanhóis, na Província de Yucatan, na América Central, no século XVI, e devido à
sua rápida difusão por toda a Europa e, daí, para o resto do mundo, o tabaco tem
sido combatido por médicos, religiosos e governantes, chegando, o papa Urbano VII,
a mandar excomungar os fumantes.
Em diversos países do mundo, já há muito tempo é obrigatória a informação, nas
embalagens dos cigarros, de que aquele é um produto tóxico ; e, além disso, já é
antiga a legislação restritiva da propaganda enganosa desses produtos. No Brasil,
só recentemente é que tais medidas foram tomadas, mas elas estão, ainda, em fase
de muita timidez, sem a ênfase aplicada, por exemplo, nas campanhas de prevenção
da síndrome de imuno-deficiência adquirida, que os demais países latinos conhecem pela sigla SIDA, mas que nós, brasileiros, no eterno hábito de macaquear os
norte-americanos, conhecemos como AIDS (acquired immunologic deficiency
syndrome). E o fumo mata mais do que a AIDS!
A propaganda dos cigarros na mídia continua, embora tenha sido relegada, no
caso dos meios rádio-televisivos, a horários mais tardios, como se crianças e
adolescentesde hoje ainda fossem dormir com as galinhas, no crepúsculo; e as
advertências têm tão pouca ênfase, que não assustam nem recém-nascido.
Essa timidez talvez leve em conta as altas cifras dos impostos pagos pela indústria
do fumo, os quais, porém, de maneira alguma, cobrem os gastos públicos com o
tratamento das doenças provocadas pelo uso do tabaco ; e não se pode esquecer,
além disso, que o hábito de fumar, minando o organismo humano, diminui a
produtividade, onerando o país.
Na realidade, só as fábricas de cigarros --- quase sempre multinacionais --- é
que ganham com a disseminação do vício. É por isso que aplicam rios de dinheiro
numa propaganda vistosa e atraente, destinada a induzir os jovens a fumar, pois fumar,
segundo a propaganda, é ser "moderno", é ser "arrojado", é "conviver com o sucesso".
Esse tipo de propaganda é que tem que ser combatido e desestimulado, mesmo na
mídia escrita e nos painéis e cartazes --- os "outdoors", na nossa cultura
americanizada --- que sempre mostram carrões, aviões, machões e mulherões,
como símbolos do sucesso de quem fuma.
Talvez seja necessário chegar ao ponto de coibir qualquer propaganda do fumo ;
talvez seja necessário chegar a proibir, com rigor e fiscalização, o fumo em qualquer
lugar público, pois o "Homo Sapiens" não pode ser vítima da insensatez do
"Homo Stultus". Enquanto isso não ocorre, os jovens fumantes poderão dizer, uns
aos outros, conforme uma não muito antiga propaganda de cigarros, que "pelo menos
a gente tem alguma coisa em comum", ou seja, a tosse, a inapetência, a diminuição
da capacidade pulmonar e uma irresistível tendência ao câncer de pulmão ;
e --- parafraseando outras propagandas do tabaco --- sem perceber que "uma simples
questão de bom senso" é nunca começar a fumar e que "a decisão inteligente"