A existência do homem é uma condição para ele construir-se como homem. E isto não quer dizer apenas o desenvolvimento biológico. O homem deve construir-se a partir de seus planos, a partir da responsabilidade que tem por si e pelos demais. Esta responsabilidade faz o homem sentir-se em contato com o mundo que o cerca, e ser tocado pelos problemas da sociedade. Isto lhe gera angústia, que não deve levar a um quietismo, e sim à ação, buscando tornar-se útil à sociedade. O homem está condenado à liberdade. Tal é a máxima, inúmeras vezes citadas, que se tornou um lugar comum ao se falar em liberdade. Por que condenado? Afirma, que a essência do homem é liberdade. Os homens fazem a partir da liberdade, o que bem entendem de si mesmo. Esta liberdade não deve Ter limites, não está vinculada a nenhuma lei moral. Isto não quer dizer que seja confundida com libertinagem. Liberdade absoluta só existe não projeto fundamental, que é escolha incondicionada. Todas as outras escolhas estão condicionadas a esta escolha fundamental. Por sua liberdade o homem é responsável por tudo o que lhe aconteça. A própria negação da liberdade é uma situação de escolha. O homem escolhe, é livre, mesmo ao escolher não ser livre, pois este é o seu projeto, sua escolha fundamental, ainda que neste caso seja uma escolha covarde.
O medo da liberdade, a fuga da angústia que ela provoca leva o homem à atitude de má fé. Esta má-fé é uma atitude paradoxal, irresponsável, uma mentira, uma ilusão de responsabilidade para com o homem e com o mundo. É uma mentira que o homem conta para si próprio. É a atitude de quem finge escolher. O homem que recusa a si mesmo naquilo que fundamentalmente o caracteriza a si mesmo, ou seja, a liberdade, torna-se “sujo”, recusa a dimensão do para-si, e reduz-se à facticidade, é o nojento.
É através da atitude de assumir o risco da liberdade, e sua conseqüente responsabilidade para com o homem e com o mundo que o homem supera a má-fé. Ao assumir a liberdade, com todo o seu peso e angústia, o homem assume a responsabilidade para com toda a humanidade. ... nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade .