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Artigos-->REBELDIA TEM LIMITES -- 23/12/2002 - 09:53 (OLYMPIA SALETE RODRIGUES - 2 (visite a página ROSAPIA)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REBELDIA TEM LIMITES



Eu sou uma rebelde, rebelde confessa, determinada e que assume todas as conseqüências disso. Procuro sempre os parâmetros que equilibrem minhas atitudes. Não exerço nenhuma rebeldia que prejudique terceiros. Procuro sempre, ao declarar minhas atitudes rebeldes, respeitar e até tentar compreender as posições alheias. Respeito é a palavra-chave e sempre presente para mim. Porque quero ser respeitada em minhas posições, respeito a dos outros e, muitas vezes, me calo evitando erguer meu protesto.



Ontem aconteceu um fato que me chocou profundamente. Uma pessoa de minha cidade esteve aqui, trata-se de um jovem. Em meio à conversa, lembrei, por acaso, de uma antiga professora minha. Ele também tinha sido seu aluno, achava que ela já tivesse morrido. Disse a ele que não sabia, falei com ela há algum tempo e nada mais soube dela. Ele disse: “se não morreu, está caquética!” Disse isso rindo, achando-se muito espirituoso. Transcrevo aqui a definição de “caquético” no Dicionário Aurélio:



“caquético2

[De caquético1, por analogia, ou de caco + -ético.]

Adj. Bras. Gír.

1. Diz-se de, relativo a, ou próprio de indivíduo muito acabado e/ou muito envelhecido.

2. Que está, ou se apresenta em péssimo estado.

3. Horrível, ruim.”



Entrei numa revolta inusitada. Jamais poderei admitir que se fale dessa forma a respeito de ninguém, muito menos de uma velha professora. E sobre isso venho há tempos refletindo. Reflexões que partilho com meus leitores agora.



Acho que todos percebem como o mundo está cruel com as pessoas velhas. No geral, elas são tratadas como algo inútil, fora do tempo e da realidade de um mundo que se torna cada dia mais egoísta. Vemos casos que chegam ao cúmulo de filhos que abandonam os pais envelhecidos e até os roubam. Prova disso é a necessidade que foi sentida pelo Estado de criar uma “Delegacia dos Idosos”, para que estes tenham um local adequado para levar suas queixas, na maioria dos casos, queixas dos próprios familiares.



Eu trabalhei numa Escola, atendendo, ouvindo e orientando garotos e garotas problemáticos, bem como, quando necessário, seus pais e familiares, sempre tentando um diálogo entre as gerações. Sempre achei que os jovens deveriam ser mais tolerantes com seus pais, pois têm a cabecinha leve e ainda livre de grandes tormentos, portanto têm condições de entendimento muito mais fácil que os seus progenitores. Mas, ao externar isso, sempre encontrei resistência dos adolescentes. Eles querem ser compreendidos e poucos cedem na busca do entendimento. Sei que há casos e casos, diversos aspectos que devem ser analisados, principalmente a educação que receberam quando crianças. Mas mesmo assim, tenho medo das atitudes deles, muitas vezes de descaso e de ironia maldosa.



No fato concreto que vivi ontem, a revolta foi maior por se tratar de uma professora, uma mulher que dedicou sua vida inteira ao ensino da nossa língua. Lembro-me bem, ela era realmente rígida e exigente. Não só ensinava, mas também incentivava nos alunos o amor à língua pátria, amor que ela vivia. Para mim, era um exemplo do professor completo, mesmo quando ficava brava com a turma dispersa ou mesmo comigo. E o que eu penso dos meus professores em geral é que sempre merecerão meu respeito e minha gratidão, pois me deram o melhor de si mesmos, com certeza. O que não aproveitei foi por irresponsabilidade minha e não omissão deles. E não falo aqui de submissão. Tenho histórias de grande e justa rebeldia diante de professores que tentaram me oprimir. Quando sentia a injustiça, me rebelava sim. Mas, mesmo ao me lembrar desses professores, o mínimo que sinto por cada um é gratidão.



Daí minha revolta. Nossos professores jamais poderão ser chamados de caquéticos, por mais velhos que sejam e por mais que as mazelas da velhice os atinjam. Ninguém, mas ninguém mesmo, tem esse direito.



Registro aqui meus protestos porque isso que vivi ontem não foi um fato isolado. Infelizmente os nossos jovens, em grande parte, se comportam como se fossem os donos do mundo e da verdade. E lamentavelmente se esquecem de que um dia serão velhos. E serei mais feliz se esta semente cair em terrenos férteis, se ao menos um jovem que me lê se compenetrar e mudar sua atitude cruel.



E peço que vejam bem: não estou falando apenas de educação, mas essencialmente de sentimento. Somos ou não humanos e dotados de razão?






NOTA: Publiquei este artigo há 3 dias. Hoje, nosso colega Alexandre da Silva Galvão publica, em Discursos, “Lágrima de uma Zebra”, derramando essa lágrima por seu ex-professor que faleceu. Esse artigo, além da nobreza comovente, ilustra com perfeição o que estou dizendo em meu texto. E é tudo a vida real acontecendo. Por favor, leiam o texto de Alexandre e enriqueçamos nossa reflexão.




LÁGRIMA DE UMA ZEBRA



Agradeço. Sal



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